A INTOLERÂNCIA
Muito cedo hoje,
quando abri minha página do Facebook encontrei uma mensagem do meu filho
pedindo alguma literatura sobre a intolerância religiosa que têm feito tantas
vítimas nos últimos dias. Pior ainda quando essa intolerância vem trasvestida
de confronto político e acirramento de ânimos. A propósito desse tema,
encontrei o tema na coluna do Hélio, da Folha de São Paulo, postada nesta mesma
madrugada que recomendo aos leitores desse blog:
Hélio Schwartsman - 18/09/2012 - 03h30
SÃO PAULO - A sensação
de "déjà-vu" é inescapável. No início de 2006, foram os protestos que
se seguiram à publicação, por um jornal dinamarquês, de charges ridicularizando
o profeta Maomé. Cem mortos.
Alguns meses depois,
muçulmanos foram às ruas para pedir a cabeça do papa Bento 16, por ter
supostamente afirmado que o islã era uma religião violenta. Ao menos uma freira
foi assassinada. Agora, os tumultos têm como pretexto um obscuro filme
anti-islâmico postado no YouTube. É cedo para contabilizar os mortos.
Não sou um
especialista em exegese corânica, mas não creio que possamos atribuir a, vá lá,
veemência islâmica a especificidades de seu texto sagrado. O Antigo Testamento,
que é canônico para judeus e cristãos, traz injunções tão ou mais violentas do
que o Corão. Quem duvida pode consultar o Deuteronômio, 13:7-11, onde somos
instados a apedrejar nossos familiares que tenham se afastado de Iahweh.
A diferença entre o
islã e o Ocidente, creio, está no fato de que, por aqui, passamos por um
processo de secularização que teve início no Iluminismo e afastou a maioria dos
fiéis de interpretações literais da Bíblia. Os muçulmanos estariam apenas no
início dessa jornada, que, na melhor das hipóteses, ainda levará décadas.
Se há um problema mais
propriamente teológico, ele é comum às três religiões abraâmicas e reside no
fato de elas se pretenderem universais e fundadas numa verdade revelada pelo
próprio Deus. Assim, se os cristãos estão certos, judeus e muçulmanos estão
necessariamente em apuros e vice-versa duas vezes.
Sob esse aspecto,
éramos mais felizes nos tempos do politeísmo, cujos deuses não eram tão
exclusivistas nem ciumentos. Gregos, romanos e acádios podiam passar boas horas
bebendo e apontando as semelhanças entre Afrodite, Vênus e Ishtar. É verdade
que isso não os impedia de se matar logo depois, mas pelo menos não era por
causa da religião.
[1]
SAUDADES DO POLITEÍSMO. Disponível em http://www1.folha.uol.com.br/colunas/helioschwartsman/1154991-saudades-do-politeismo.shtml.
Acesso em 18 set 2012.