segunda-feira, 14 de novembro de 2011

FRAGILIDADES QUE SUSTENTAM
ANO 01 – Nº 248

Semana passada, quando estava dando aulas, ao se aproximar o horário do intervalo, apanhei uma nota de quinhentos cruzeiros[1], que previamente havia trazido de casa, entreguei a um aluno e pedi que ele fizesse o favor de comprar um pastel enquanto atendia aos seus colegas.

O aluno tomou a nota na mão, olhou cuidadosamente e se reportou dizendo que aquele dinheiro não valia mais, aliás, que ele nem conhecia. Mostrei a nota de quinhentos cruzeiros para a turma e contei aos acadêmicos que durante a minha infância, meu pai havia trocado um cordeiro por uma nota igual àquela. Nessa mesma época era possível comprar uma peça de tecido suficiente para fazer roupas para uma família de oito pessoas, mas concluí que aquela moeda havia sido substituída por outra e que agora o seu valor de face desaparecera.

A partir dessa interlocução, conversei com a turma sobre a fragilidade das coisas que sustentam a nossa sociedade de consumo. As relações de forma geral, e as econômicas em particular, vinculam-se à confiança. Na década de 1960, àquela nota era atribuído um valor que representava uma quantidade expressiva de objetos e serviços. Hoje não passava de uma peça de coleção. A diferença é a declaração das autoridades monetárias que determinaram o fim da circulação e do valor daquele dinheiro.

A partir disso refleti com os acadêmicos sobre a diferença que há entre tomar um pedaço de papel e escrever sobre ele cem reais e uma nota de cem reais que circula em nosso meio monetário. Com a primeira não se adquire nada, mas com a segunda pode-se fazer uma boa refeição em um estabelecimento médio.

Vivemos numa sociedade de relações que se abolirmos a confiança, simplesmente não é possível socialmente sobreviver. Confiar e inspirar confiança constitui o fundamento do existir em sociedade. O impressionante é que se existe alguma coisa frágil nas relações sociais é a dita confiança. Porém, sem ela, toda a arquitetura de relações e de trocas desmorona, a governança desmorona, o mercado desmorona, a família desmorona e por aí afora.

Preciso confiar na pessoa que me lê nesse momento, do contrário, esse blog também desmorona.

DESTAQUE DO DIA

Porto Alegre[2] passa a ser cidade (190 anos)

Porto Alegre é um município brasileiro e a capital do Estado mais meridional do Brasil, o Rio Grande do Sul. Pertence à mesorregião metropolitana de Porto Alegre e à microrregião de Porto Alegre. Com uma área de quase 500 km², possui uma geografia diversificada, com morros, baixadas e um grande lago, o Guaíba, distando 2027 quilômetros de Brasília, a capital nacional.

Localizada em uma região habitada pelo homem desde 11 mil anos atrás, Porto Alegre estabeleceu-se como cidade somente no século XVIII. Até então o território do Rio Grande do Sul ainda pertencia legalmente aos espanhóis, mas desde o século XVII os portugueses começaram a dirigir esforços para a conquista, e foram progressivamente penetrando no território pelo nordeste, chegando através do Caminho dos Conventos, uma extensão da Estrada Real, à região da Vacaria dos Pinhais, e dali descendo para Viamão. A penetração foi realizada por bandeirantes que vinham em busca de escravos índios e por tropeiros que caçavam os grandes rebanhos de gado bovino, mulas e cavalos que viviam livres no estado. Mais tarde os tropeiros passaram a se radicar no sul, transformando-se em estancieiros e solicitando a concessão de sesmarias. A primeira delas foi outorgada em 1732 a Manuel Gonçalves Ribeiro na Parada das Conchas, onde hoje é Viamão. Outra via de penetração foi através do litoral, fundando-se em 1737 uma fortaleza onde hoje é Rio Grande, com o objetivo dar assistência à Colônia do Sacramento, no Uruguai.


[1] Ilustração disponível em http://www.angelinicoins.com/Cedulas/cedulas.html. Acesso em 13 nov 2011.
[2] PORTO ALEGRE (ilustração e texto). Disponível em http://pt.wikipedia.org/wiki/Porto_Alegre. Acesso em 13 nov 2011.

2 comentários:

  1. Meu caro Garin,
    é muito bom que teus texto sempre me provocam evocações. Eis acerca das notas e do valor intrínseco e do valor extrínseco a lição que um dia recebi.
    Cenário: a secretária do Ginásio São João Batista, em Montenegro; manhã de oito de dezembro de 1957. Preparativos para a solene formatura do curso ginasial (hoje 9º ano do ensino fundamental). Esta se realizava no melhor clube da cidade e na mesa que presidia a solenidade se assentavam além do diretor do Ginásio, do paraninfo e dos professores homenageados, o prefeito municipal, o vigário da paróquia e comandante do quartel da Brigada Militar. O irmão Luis Benicio mostra o diplomo que receberíamos à noite. Manifesto meu desagrado pelo ‘papel simples que receberíamos’. Imaginava um pergaminho, talvez.
    O diretor, ante minha manifestação toma duas notas: uma de 2 cruzeiros (almirante Tamandaré); outra de 50 cruzeiros (princesa Isabel). Mostra-me que ambas têm o mesmo tamanho e o mesmo peso. Como papel têm o mesmo valor, mas é claro que uma vale 25 vezes mais. Assim é o diploma. Como no teu exemplo o poder de compra é determinado pelo seu valor intrínseco.
    Só um comentário lateral, com 100 reais faz-se duas refeições em um restaurante médio, claro que sem o o nosso colega Marco, definindo o vinho.
    Um bom hemi-feriado,

    attico chassot
    http://mestrechassot.blogspot.com
    www.professorchassot.pro.br

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  2. Caro Chassot,

    o teu comentário está excelente, mas a parte final me fez dar uma boa gargalhada. Não sabia que a fama desse colega já tinha chegado a ti também. Certa vez ele apareceu na Instituição com uma garrafa de vinho, vazia e proclamando: paguei R$350,00 por esse vinho - estava excelente!

    Um abraço,

    Garin

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