AEROPORTO: O SORRISO

ANO 01 – Nº 284

Quatro horas e vinte e sete minutos. Acordo e olho no relógio a hora que vai avançando. Ainda sonolento recordo que preciso pegar o primeiro vôo da manhã. Tomo o meu banho apressado, coloco a roupa que já havia separado de véspera, arrumo a cama e chamo um taxi. Chego ao aeroporto com folga para fazer o check in de ida e de volta, numa dessas máquinas a quem chamam de totem.

Tudo certo, procuro uma lanchonete para um café matinal antes de entrar para a sala de embarque: um café com leite duplo e um pão de batata. Acho caro! Os preços dos alimentos nos aeroportos estão pela hora da morte. Escolho uma mesa e me sento aguardando a chegada do pedido.

São cinco da manhã. De repente, um sonoro e disposto ‘bom-dia’ me exila do mundo da fantasia. Olha intrigado e percebo uma garçonete ao meu lado, com a bandeja de café, me cumprimentando animadamente. Quase me belisco para constatar se não estou sonhando. Boa parte dos profissionais dessas áreas, nos aeroportos, é portadora de incomparável mau humor. Essa, entretanto, contradiz minha teoria aceita quase universalmente. Olhei com simpatia para a funcionária e respondi o seu bom dia madrugador com o mesmo entusiasmo. Depois observei que ela agia assim com todos os fregueses.

A maioria das nossas “teorias empíricas” (dá para dizer isso?), não se sustentam no particular do cotidiano. Àquela hora da madrugada, esperava no máximo um “o seu pedido!”. Mas aquele cumprimento animado é capaz de transformar o dia de uma pessoa. Somos seres de relações e necessitamos da aceitação na convivência social. Às vezes, um simples cumprimento, com entusiasmo, é capaz de revelar ao nosso ser o quanto somos aceitos naquele meio. Isso é suficiente para fundamentar nossa disposição de viver e interagir com o contexto. Por sua vez, essa interação modifica a reação que temos em relação às outras pessoas, em relação ao trabalho, à vida, finalmente. Um cumprimento é capaz de nos fazer sentir ‘humanos’ entre tantos dispositivos robotizados. É capaz de nos retirar do contexto de massa e nos fazer sentir ‘uma pessoa’.

A propósito, tu já cumprimentaste uma pessoa hoje, com entusiasmo?

DESTAQUE DO DIA

Julgamento de Auschwitz (48 anos)

No dia 20 de dezembro de 1963 começou em Frankfurt o chamado Julgamento de Auschwitz. Os 22 réus eram ex-guardas do antigo campo de extermínio nazista. Um processo com forte valor simbólico. Havia demorado 20 anos, a partir do final da 2ª Guerra, para que a Justiça alemã reagisse aos acontecimentos na polonesa Osviecim. Vinte e dois homens do campo de concentração e extermínio de Auschwitz foram julgados por cumplicidade ou homicídio, num processo que, a cada dia que passava, trazia à tona o sarcasmo e os horrores do nazismo.

O processo aconteceu por mero acaso. Emil Vulkan, ex-prisioneiro do campo de concentração de Auschwitz, encontrou no final da guerra várias listas de pessoas marcadas para a execução a tiros e os nomes dos respectivos algozes. Os papéis ficaram guardados por 13 anos, até serem apresentados ao promotor público Fritz Bauer, em Frankfurt. [...] [1]No dia 19 de agosto de 1965 encerrava-se o julgamento que acabou entrando para a história como símbolo de que os crimes cometidos em Auschwitz não podem ficar impunes. O juiz Hans Hofmeyer proclamou as 17 sentenças, com penas que iam desde prisão perpétua por assassinato (para seis réus) a três absolvições, as quais causaram indignação tanto na Alemanha como no exterior.

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[1] 1963: COMEÇA O "JULGAMENTO DE AUSCHWITZ". Disponível em http://www.dw-world.de/dw/article/0,,708064,00.html. Acesso em 20 dez 2011.