AEROPORTO: OS FONES
ANO 01 – Nº 285
O Tom Jobim, ou o Galeão, como preferem outros, estava movimentado. Passo de largo pelo setor de check in, pois já havia providenciado a minha entrada com antecedência. Faço a checagem do bilhete e passo pelo detector de metais incólume. O portão é o vinte e cinco. Ainda falta mais de uma hora para o embarque. Acomodo-me numa poltrona próxima à tomada de energia: preciso conectar o meu lap top antes que a bateria arrie completamente. Uma adolescente estava acomodada na outra extremidade da poltrona. Como encontrei um lugar junto ao portão de embarque não me preocupo com os avisos sonoros, horrivelmente altos.
Utilizando o bom e gratuito Skype faço contato com a minha esposa a dois mil e quinhentos quilômetros de distância. Estabelecemos uma teleconferência com imagem pela webcam e conversamos sobre a minha viagem enquanto aguardo a chamada do meu vôo. A conversa rola por mais de meia hora falando sobre o a visita ao filho que havia passado por uma cirurgia, o aspecto da cidade, o clima chuvoso, o planejamento dos próximos dias etc.
De repente os altofalantes anunciam o vôo três quatro, três um para Porto Alegre. Os passageiros se apressam a juntar seus pertences e posicionam-se na fila de embarque. Como estivesse esparramado, demoro um pouco para organizar as minhas coisas. Quando vou recolher o cabo de energia do computador observo um fone de ouvido, de aparelho celular junto à poltrona onde estava a adolescente. Olho ao redor, mas não a vejo mais. Sei da importância desse equipamento, especialmente num ambiente barulhento. Tomo a decisão de juntar os fones e procurar a possível proprietária. Vasculho a fila, mas não a encontro. Corro os olhos pela sala de embarque e nada da menina. Imagino que já tenha adentrado à aeronave e também me posiciono na fila.
Ao entrar no avião examino-o na tentativa de a encontrar acomodada nalguma poltrona. Coluna da direita, coluna da esquerda e nada. Procuro a poltrona dez A e me acomodo junto á janela, ou seria escotilha? Mesmo assim permaneço atento á entrada dos demais passageiros.
Surge o dilema: o que faria com os fones de ouvido se não encontrasse a sua proprietária? Se aquele equipamento não pertencesse à moça sentada na mesma fileira que eu, lá na sala de embarque? O que aconteceria se ela tivesse retornado ao lugar onde estava sentada em busca de seus fones e não os achasse? Confesso que a mente começou a ficar em dúvida sobre a beneficência da minha atitude. Outras dúvidas assaltaram à reflexão. Esse desejo de sempre querer ajudar produz efeitos significativos às outras pessoas ou é apenas uma forma de acalmar a consciência? Será que atitudes assim ajudam ou acabam atrapalhando mais ainda? Será que as pessoas desejam ser ajudadas em suas fragilidades ou é a gente que se preocupa além da conta com o bem estar dos outros? Tentando fazer uma boa ação não teria causado um transtorno maior ainda? Resolvi acalmar a minha consciência dizendo para mim mesmo: afinal, quiseste ajudar!
Pouco antes de o comandante anunciar “portas em automático”, eis que a menina adentrou a aeronave, mas ocupou uma poltrona quatro fileiras antes da minha. Solicitei a um comissário que entregassem os fones de ouvido à passageira sentada na poltrona B seis. Percebi que a entrega proporcionou satisfação à proprietária, que fez um sinal de “positivo” para mim e minha consciência se acalmou finalmente.
DESTAQUE DO DIA
Solstício de Verão (Hemisfério Sul)
Na astronomia, solstício[1] (do latim sol + sistere, que não se mexe) é o momento em que o Sol, durante seu movimento aparente na esfera celeste, atinge a maior declinação em latitude, medida a partir da linha do equador. Os solstícios ocorrem duas vezes por ano: em dezembro e em junho. O dia e hora exatos variam de um ano para outro. Quando ocorre no verão significa que a duração do dia é a mais longa do ano. Analogamente, quando ocorre no inverno, significa que a duração da noite é a mais longa do ano. Este ano, o verão deverá iniciar às 2h30min de amanhã, dia 22 de dezembro.
Garin,
ResponderExcluirmuito preclaro perscrutador do cotidiano, não sei se a série terá sequência amanhã, mas os três primeiros episódios (janela, bom dia, fones) já se constituem em tríade fabulosa.
Com admiração
attico chassot
http://mestrechassot.blogspot.com
Caro Chassot,
ResponderExcluirobrigado pelo teu estímulo. Desta vez a série terminou hoje. Amanhã vamos ter outras percepções do cotidiano, com a qual talvez tu recordes de tempos de antanho.
Um abraço,
Garin