A VIDA DOS OUTROS: A CONFIANÇA
ANO 01 – Nº 288
A noite estava chegando e o gaúcho aqui já pedia um chimarrão para encerrar a tarde. E garrafa térmica numa mão e a cuia na outra, minha esposa e eu saímos rua afora em busca de um banco para tomar o mate tranquilamente. Entramos na avenida principal e sentamos em frente a uma loja que vende artigos para surfistas, skaitistas e outras grifes famosas que os adolescentes, e os nem tanto, gostam de usar.
Entre um gole e outro observava o pessoal que entrava e saia da loja com suas sacolas de compras. Dava para perceber, nos olhos dos jovens, o brilho de alegria por uma compra realizada, algo sonhado por muito tempo. De repente, uma cliente de meia idade (uns trinta e cinco no máximo) saiu da loja falando ao celular. Como tenha se aproximado, foi possível escutar parte da conversa: “paizinho, me dá um voto de confiança!”.
Por um tempo fiquei imaginando qual seria o conteúdo daquela ‘confiança’? Teria um sentido de liberdade de escolha de presentes para os familiares? Talvez se referisse ao limite do cartão de crédito? Quem sabe essa confiança estivesse ligada ao conhecimento que ela tinha a respeito dos familiares para os quais estaria comprando presentes?
É claro que não era minha intenção acompanhar o desfecho da conversa, mas fiquei refletindo sobre essa situação. A confiança não é algo que se peça como se fosse um ‘depósito’ temporário que ora se tem e que ora não se porta mais. Ou se tem ou não se tem. Não é coisa que se adquire pelo celular no calor da emoção de uma compra. Não pode ser adquirida mediante um voto. Tenha o conteúdo que tiver terá que ser algo que permanece até que, por algum incidente, seja quebrado. Nesse caso, será para sempre, pois a confiança não se readquire: uma vez quebrada não se reconstituirá como antes. Até poderá se conviver, mas sempre permanecerá como uma sombra a empanar as relações porque um dia foram quebradas. Permanecerá a suspeita sobre uma nova possibilidade de se desfazer.
DESTAQUE DO DIA
Dia do Órfão
O dia 24 de dezembro, véspera de Natal, é dedicado aos órfãos[1]. Nesta data, comumente comemorada em clima de confraternização familiar, crianças órfãs aguardam a chegada de uma surpresa, de um presente ou de uma visita, com um sentimento muito especial.
[1] DATAS COMEMORATIVAS. Disponível em http://www2.portoalegre.rs.gov.br/pwdtcomemorativas/default.php?reg=5&p_secao=56. Acesso em 23 dez 2011.
Caro Professor Garin
ResponderExcluirConfiança é um produto em falta no mercado, nunca esteve tão em falta quanto agora, vivemos cercados por cameras, grades, senhas, segurança 24 horas, na verdade somos verdadeiros refens da desconfiança.
As relações pessoais nesta epoca são alimentadas pelo desejo despertado pelo consumo, ainda bem que não são todos.
Gosto de curtir o prazer si9mples do chimarrão, a cuia na mão representa o apoderar-se da situação e nos permitir-nos devanear, é tão bom e não custa quase nada.
Um ótimo Natal, que Jesus continue a lhe iluminar.
Caro Adão,
ResponderExcluirparece mesmo que a ideologia do consumo tem abalado os alicerces da confiança ainda mais. Esse produto tem sido mitigado a cada instante com declarações e votos na tentativa de se assegurar daquilo que escapa pelo meio dos dedos.
Gostei da figura de que a cuia na mão representa o apoderar-se da situação: é mesmo, tomando um chimarrão nos sentimos os mais poderosos do mundo.
Um feliz Natal, que celebra o nascimento de Jesus em nossos corações, para ti também!
Garin
Meu caro Garin,
ResponderExcluirque não nos falte jamais a confiança para acreditar nos outros.
São meus votos a ti e aos teus nestes momentos de imersão natalina.
Com admiração,
achassot
Eu começo a virar leitor destas histórias.
ResponderExcluirSério fico parecendo garoto com gibi.
Tens uma maneira peculiar de abordar assuntos. Me cativa.
Abraço professor e feliz natal.
Caros Attico e Marcus,
ResponderExcluira confiança é a mola que sustenta nossa relações sociais e é indispensável para qualquer convivência.
Muito obrigado pelo comentário de vocês!
Feliz Natal!
Garin