Tenho procurado, semanalmente, oferecer aos meus visitantes/leitores(as) deste blogue, um pequeno vídeo, sobre o qual aponho um poema ou uma reflexão. Não sei até quando conseguirei cumprir isso, mas enquanto houver possibilidades, o farei.
Nesta semana estou retornando com um vídeo sobre os biguás da Lagoa do Violão, em Torres, RS. Confesso que, refletindo sobre a forma de vida desses pássaros, tenho aprendido muitas coisas, bem como estabelecido relações entre a vida animal e a vida civilizada. Observem o som de um passarinho silvestre, que todas as manhãs do verão, acompanha o meu chimarrão matutino. Entendo que uma das identidades do humano, do ser humano, é ser aprendiz. Assim me parece, pois quando cessamos de aprender também desistimos de viver.
A reflexão, que desejo trazer hoje, é sobre a maneira como os biguás se relacionam entre eles. Ao cair da tarde, todos eles levantam vôo e desaparecem. No romper da aurora, retornam em bando, fazem uma pescaria rápida (parece um desjejum) e depois tomam lugar sobre as hastes. No campo da ornitologia me considero um analfabeto, mas observando essas aves, durante o verão, percebi que travam uma disputa constante pelos espaços mais privilegiados. Para conseguirem o lugar desejado, se lançam, com agressividade, sobre os outros biguás que já estão pousados. Quando todos parecem já estarem acomodados, de repente, um novo bando se aproxima e a disputa começa novamente. Depois de diversas trocas, as aves finalmente se acalmam e repousam (dormem) até o final da tarde.
Na minha reflexão sempre me pergunto: nós aprendemos com os biguás ou elas aprenderam com os humanos. Confesso que fico incomodado com as atitudes dessas aves até porque não entendo o seu mundo. Fico incomodado porque essa mesma atitude, entre os humanos, me incomoda demais. Conversando com uma pessoa de certa cidade do nosso país, ela falou que lá, o correto é sempre dar uma “rasteira” no colega, no amigo, no companheiro(as). A filosofia de vida que rege as relações da maioria daqueles cidadãos(ãs) é sempre tirar vantagem em tudo e sobre todos.
Certamente os biguás não conseguem desenvolver um processo civilizatório – esse não é o mundo das aves. A questão não é dirigida aos biguás, mas aos cidadãos(ãs) daquela cidade (e de outras tantas paragens): onde fica a civilização? Que me perdoem os que pensam diametralmente ao contrário, mas considero um ato de selvageria utilizar artimanhas da inteligência humana para roubar o espaço que foi conquistado por outra pessoa.
Uma boa quarta-feira para todos(as).
Meu caro Garin,
ResponderExcluirpodes ser analfabeto em ornitologia,
mas as tuas reflexões trazem a nós a ‘filosofia de vida’ produzida nos conhecimentos primevos.
Biguás trazem ensinamentos que tu sabes perceber que talvez sejam invisíveis ao ornitologista usualmente um taxionomista;
Com admiração
attico chassot
Caro Chassot,
ResponderExcluirobrigado pelo teu comentário. A intenção é de fato oferecer uma leitura alternativa àquelas especializadas, que possa proporcionar reflexão e entretenimento.
Um abraço,
Garin