quinta-feira, 26 de maio de 2011

O PARADOURO



Semanalmente, entre quarta e sexta-feira, troco a foto que ilustra esse blogue. Sempre tenho apresentado fotos bonitas, que inspiram como a lua cheia (última semana), pôr-do-sol, lavouras, etc. Hoje estou fixando uma foto bem diferente, uma parada à margem da estrada.

É preciso explicar os motivos que me levam a essa mudança. A foto que coloco na parte superior do blogue, à direita, tem a finalidade de ser um estímulo, que tanto pode ser de inspiração como de reflexão.

A foto de hoje é de um paradouro, que originalmente definia o lugar onde o gado passava a noite[1], mas que contemporaneamente tem sido definido como qualquer lugar onde se para um período de descanso.

A viagem, seja em qualquer tipo de transporte, sempre resulta em fadiga. Quando essa viagem é terrestre, há a possibilidade de uma pequena parada, em locais apropriados, ao longo da estrada.

A viagem desestabiliza nossa condição existencial. Perdemos nosso tópos de origem e com isso, nos distanciamos das referências comuns: saímos de nossa casa (domus = domicílio) e com isso, os cenários se modificam exigindo da consciência, um trabalho (lavor mental) extra para apreender novos cenários. Como quase sempre nos sentimos ameaçados pelo “novo”, a consciência necessita de esforço para identificar elementos comuns aos cenários originais (casa, cidade, estado, país). No mesmo sentido, também há necessidade de esforço para identificar elementos culturais comuns na forma dos grupos humanos organizarem suas vidas (costumes, hábitos sociais, culturas, crenças).

Praticamente não nos damos conta, mas enquanto avança a viagem, a nossa mente vai processando milhares de informações que, somados ao desconforto físico de quem “sacoleja” num veículo, acarreta uma fadiga além do comum. É nessa circunstância que aparece o paradouro com uma porção de ofertas destinadas a recobrar nossas energias. A velocidade desaparece, o cenário para, acontecem identificações de elementos comuns e de lambuja, pode render um suco, um refrigerante, uma rapadura, etc. O paradouro é o lócus do restabelecimento. Nele sentimos que a vida está pulsando normalmente, o mundo está seguindo sua trajetória regular, ou seja, um giro em torno de seu eixo em mais ou menos vinte e quatro horas, as pessoas do lugar podem ser diferentes, mas humanos como nós, etc. Juntamente com a parte física, nossa mente também se acomoda novamente. A consequência, natural é a sensação de descanso.

Nem sempre damos o devido valor aos paradouros, mas são eles que acolhem com segurança o corpo e a mente cansada pelo desconforto de mudar rapidamente de cenários.

Que tal uma paradinha, agora!



[1] DICIONÁRIO eletrônico Houaiss.

2 comentários:

  1. Meu caro Garin,
    estou recém arranchado em uma cidade que – pelos teu narrares – uma vez foi tua. Cheguei a Passo Fundo, sem a ‘paradinha’. Fiz o trajeto em quatro fruídas horas. Os tempos são outros daqueles que subias a serra em viagens demoradas e com paradas. Um confortável leito embalou sonhos. Nem aceitei a oferta de internet a bordo.
    Vou fazer a paradinha agora, pois a quinta-feira será longa: tenho um minicurso a tarde sobre assuntos que falamos juntos em nosso seminário de História e Filosofia da Ciência e a noite falo na Semana do Químico da UPF. Pela manhã tenho agendado algo que para mim é muito chato. Preencher diários de classe. E então é sem paradinha, pois lá é SIGA. Tomara que consiga.
    Obrigado por mostrares que paradinhas são capazes de adensar nos fazeres e pensares.
    Com admiração

    attico chassot
    http://mestrechassot.blogspot.com

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  2. Caro Chassot,

    tua quinta está repleta. Não esquece de dar uma paradinha: quando a gente não faz isso voluntariamente, nosso "eu" nos cobra de outras formas e aí meu caro... muito mais caro.

    Um abraço!

    Garin

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