domingo, 15 de maio de 2011

O BEM E O MAL

Estou lendo o livro “Em que crêem os que não crêem”[1] recomendado pelo meu querido colega na disciplina História e Filosofia da Ciência, no Centro Universitário Metodista do IPA, [2] Prof. Attico Inácio Cassot [http://mestrechassot.blogspot.com/] e essa leitura me inspirou algumas idéias referentes ao bem e ao mal. Evidentemente que este tema não é uma “novidade” e nem será esgotado neste milênio. Aliás, enquanto o ser humano existir (até quando será mesmo?), haverá esse impertinente questionamento. Até por isso mesmo me aventurei a dar alguns pitacos (acho que esse termo não está dicionarizado, mas o pessoal entende).
Será que o bem está contido no mal? Será que no mal está contido o bem? Certamente o conteúdo da morte está contido no mal, mas poderia o bem estar contido na morte? Seria possível questionar se a morte carrega em si o bem?

Quando desejo o bem de alguém a quem amo, sinto um desconforto ao pensar que esse alguém poderá me abandonar, roubado pela morte. Ainda que continue a conter esse alguém em mim, através da memória, do sentimento de perda, da saudade... ainda assim não poderia mais atualizar a minha relação com ele. Com isso, a dor que sinto é mais do que a dor da ausência – é a dor da impossibilidade de tocá-lo agora.
Percebo nisso que a dor dessa perda é provocada pelo meu desejo frustrado. Quando ele se foi, deixou em mim o vazio da sua ausência, indispensável para que eu pudesse satisfazer o meu desejo de amá-lo em sua presença. Meu amor por esse alguém continuará, mas apenas estará nutrido pela lembrança provocado pela sua não presença.

Dessa forma, o bem que se traduzia no meu amor por ele, converteu-se em mal pelo desconforto provocado por sua morte. No bem que sentia por ele estava contido o mal manifesto no meu egoísmo que o desejava sempre tê-lo comigo. O mal, que tomou conta de mim, provocado pela não presença dele, carrega em si o bem que se manifestou através de sua morte, privando-me de sua presença, mas libertando-o dos limites imposto pelo meu amor e pela existência.

Assim, o bem que desejava para ele, continha o mal que se manifestou em mim pela sua ausência. O mal manifesto no meu egoísmo que tentava aprisioná-lo a mim, se manifestou em bem através da morte que ele experimentou ao se libertar dos limites que o meu amor lhe impunha.

Pois é, o bem está contido no mal e o mal está contido no bem: dependendo de como construímos nossa reflexão sobre os fundamentos do existir.

Um bom domingo de reflexão!

 


[1] ECO, Umberto; MARTINI, Carlo Maria. Em que crêem os que não crêem. Rio de Janeiro: Ed. Record, 2001.
[2] O Prof. Chassot é o titular da cadeira e eu sou colaborador.

6 comentários:

  1. Muito querido amigo e colega Garin,
    como o privilégio de parceria intelectual entre nós é recente (o que agora me faz um felizardo) talvez não saiba que sou voraz leitor de notas de rodapé. Assim por primeiro há que restabelecer a verdade. Somos pares na regência do seminário História e Filosofia da Ciência do Mestrado Profissional de Reabilitação e Inclusão. Logo não tem um catedrático e um assistente; se tal houvesse, pela história institucional seria eu o auxiliar de ensino e tu o catedrático. Por tal, retifique-se a nota de rodapé.
    Exulto em ver o apreço a minha dica de leitura. Eco e Martine fazem um excelente diálogo. Concordo contigo: sempre haverá o bipolarismo Bem e Mal. Já na tradição chinesa (ying e yang), mitologia grega, depois na tradição judaico, assumido pelo cristianismo (Deus&Demônio) e depois na tradição islâmica.
    Como dizes sempre haverá fadas e ogros, deuses e demônios.
    Um muito bom domingo e a teus leitores (para estes; retifiquem a nota 2) a ti,
    attico chassot

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  2. Caro Chassot,

    minha reflexão vai na direção de que não deve existir uma separação assim tão violenta entre uma lado e outro. Entendo que não há um lado e outro. Há um todo no qual estão contidos o bem e o mal.

    Um bom domingo para ti, também!

    Um abraço,

    Garin

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  3. Bom dia professor Garin.

    Fui aluna do IPA e participei da disciplina de Filosofia em EAD e muito li seus textos. Sempre gostei de Filosofia e hoje gosto muito mais.
    Também acredito que esta separação não existe.O que provoca esta separação tão evidente é a forma como muitos optam por viver. As pessoas que vivem baseada em uma concepção do "ser" percebem o mal e o bem como algo totalmente interligado, fazem parte do todo e é a partir da visão do todo que acontece a evolução.
    A concepção de vida baseada no TER leva a coisificação das coisas. Há a necessidade de determinar, colocar nomes, especificar, superficializar. Não há reflexão, pois tudo é determinado pelos "outros"....

    Um abraço,
    Rosana

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  4. Cara Rosana,

    fico feliz com o teu comentário aqui no Blog. A minha satisfação é redobrada por saber que foste nossa aluna de Filosofia e como a reflexão filosófica continua sendo importante na tua vida.

    Estou te desejando uma boa semana de trabalho e de vida.

    Um abraço,

    Garin

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  5. Estimado Pastor Norberto Garin. Ouso fazer um comentário. Como bem dissestes este assunto deBEM E MAL pode perturbar algumas pessoas. Eu por exemplo, "fui correndo" no teu blog CONFERIR...mas abordastes num outro paradigma(não bíblico) Para mim BEM e MAL depende "das figuras ou visões" que podem estar por trás dessas palavrinhas !Na abordagem Freudiana, o INCONSCIENTE pode ser comparado a um cavalo indomado com impulsos de destruição que podem emergir derrepente,sem controle(oMAL age) .FREUD dizia-se ateu e não contrapunha o BEM. Mas eu Cristão, vejo o "Novo Nascimento"como a transformação daquele MAL,noBEM.NovaCriatura. Abraço do Paulo Garcia

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  6. Caro Paulo,

    muito obrigado pelo teu comentário. É verdade, minha abordagem nesta blogada de hoje foi na dimensão da Filosofia. É claro que se trata de uma reflexão e esse é um tema que não esgota.

    Na dimensão bíblico-teológica também é um tema de difícil interpretação. Há teólogos desavisados que, ao admitirem radicalmente que todas as coisas são criaturas de Deus acabam lhe imputando a feitura do mal também - o que seria um absurdo. Também nessa dimensão, esse tema não se esgota.

    Boa semana, um abraço!

    Garin

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