Quando a minha esposa chegou, da reunião do grupo de mulheres da Igreja Metodista Wesley, semana passada, vi que trazia um envelope à mão. Antes que minha curiosidade pudesse ser despertada e a pergunta inquiridora, comum entre marido e mulher fosse detonada, ela me entregou e disse: “mandaram para ti, olha e vê se tu te lembras!” Com a curiosidade que já estava em alta naquele momento, quase arranquei o envelope e abri num impulso.
A surpresa foi enorme: tratava-se da fotografia de um evento que se realizara a um bom tempo, do qual não tinha mais lembrança e nem sabia que alguém havia fotografado. A minha alegria se completou ao perceber, naquela foto, algumas pessoas que não via há muito, às quais consegui abraçar naquela oportunidade, matando a saudade.
O momento da fotografia, que no passado já foi um instante solene, hoje é tão banal que quase não o percebemos. Lembro-me da minha mãe arrumando os filhos(as), dando banho em cada um, vestindo a melhor roupa (a de domingo), penteando o cabelo, botando o melhor calçado e todos(as) se perfilando diante da câmera (uma verdadeira caixa preta) do fotógrafo. Havia também o ritual: as crianças sentavam em seus banquinhos baixos bem à frente. Depois vinham as pessoas mais velhas (os avós), sentado em cadeiras mais altas. Atrás, ficavam os adultos de meia idade. Invariavelmente o fotógrafo dizia: “olha o passarinho!” (alguém aí sabe por que ‘passarinho’?) e o flash era disparado, a câmara fazia um barulho enorme, os bebês se assustavam e todo mundo ficava na maior ansiedade, aguardando o dia em que a foto seria mostrada. Aí era outro evento: “olha como o papai ficou?”; “o tio Pedro ficou de olhos fechados!” etc.
Hoje tudo é diferente, as fotos são capturadas com facilidade, todo o mundo tem uma câmera digital (ou celular com câmera). Já não há mais aquela solenidade e se tira fotos por qualquer bobagem, até indiscretamente.
Entretanto, essa foto me fez ir mais longe. Mesmo sendo um ‘instantâneo’ fugaz, captura um momento da história das pessoas que ali estão e como estão. Imortaliza suas atitudes, suas vestes, suas reações. Nem sempre nos damos conta, mas a fotografia é uma narrativa que descreve o momento certo dentro do contexto de diferentes ambientes. Tem o poder de trazer à memória as mais sutis emoções que tomaram conta de cada um(a) naquele instante. Mais que isso, é capaz de reviver essas emoções no agora. Acrescente-se que as emoções recuperadas pela fotografia têm o poder de gerar novas emoções no momento em que contemplamos a foto, pois nada que é recuperado é igual ao momento original: o momento é outro, o contexto físico é outro, nós já somos outras pessoas e as pessoas que aparecem na foto também são outras e algumas já nem existem mais.
Eu pergunto, quantos momentos de nossas vidas são tão gratificantes como aqueles nos quais paramos para olhar as nossas fotos?
Um abraço, com os votos e uma boa nova semana!
Meu caro Garin,
ResponderExcluirassim como a ecografia antecipo em pelo menos sete meses a surpresa do sexo de uma criança, as fotos de hoje, se comparada com as antanho, também obliteraram o tempo de espera. As crianças hoje, naturalmente querem ver a foto. Há não muito, esperávamos que aquele rolo de 36 poses, que era economizado (o filme era caro e revelação também, aliás dois custos que desapareceram) durante vários eventos, fosse levado a revelação que depois gerava surpresas/decepções/tristezas/alegrias.
Quantas modificações somos testemunhos!
Uma semana
attico chassot
Caro Chassot,
ResponderExcluiro teu comentário me traz à mente a antiga discussão sobre o ser (ou o não ser) uma vida. É possível 'retratar' uma pessoa que ainda não existe (pela certidão) e sair do laboratório "e-mailando" e "SMSando" para os parentes e amigos os nossos futuros filhos (ou netos), com 'foto' anexa.
Nunca imaginei que seria testemunha desses tempos tão 'tecnológicos'. Aproveite-mo-lo!
Votos de uma semana plena de realizações!
Garin
Oi, Garin!
ResponderExcluirGostei do teu texto de hoje, lembrou o que imagino ter sido o tempo de infância da mãe, de meus avós, enfim....Uma coisa que me chama a atenção é que essa coisa de capturar imagens, nome modernoso pra fotografar, passou a ser uma marca de toda uma geração atual. Em minhas aulas práticas, constantemente me vejo com a pergunta clássica: como fazer pra cativar o interesse dos alunos/as para temas que, por vezes, parecem tão distantes? A resposta veio daí: do gosto pelas fotos, pelo capturar instantes, pelo eternizar imagens. De repente, cortes de tecidos corados de rosa e roxo, ao microscópio, ornamentam o celular ou as páginas do orkut/facebook de alunas e alunos. A aula é comentada pelo pessoal, como quem comenta uma festa, um show de uma banda da moda, uma viagem à serra, litoral, etc...
A gente às vezes é resistente à coisa tecnológica Na minha prática de professor, aprendi a falar a "linguagem da tribo", a buscar a atenção do pessoal para coisas que lhes calam fundo, que são de sua linguagem cotidiana. De repente, transformo alunos e alunas apáticos em pessoas empolgadas com uma aula prática, pela possibilidade que eles enxergam de criar algo, de repartir pelas redes sociais as fotos geradas nas aulas. Claro que tem sempre os comentários do tipo "que é isso??", mas nada que uma visitada do professor na página deles/as para dar aquela corrigida não resolva...
Lembro de que, quando entrei no IPA, se falava em "novas tecnologias". Passados 13 anos de meu primeiro ingresso (1998), ainda temos colegas que tratam dessas coisas cotidianas como "novas" tecnologias. Na verdade, o que a gente faz em aula, de trazer o pessoal para ter vivências na sala de informática, ou de fotografar as lâminas e modelos anatômicos (os cadáveres eu não deixo fotografar, tem todo um lado ético e legal envolvido...), é falar a linguagem da tribo, é seduzir para o aprendizado, é encantar às pessoas com a matéria do jeito que a gente se encanta.
Um abração
Guto
Caro Guto (Prof. Carlos Augusto Normann),
ResponderExcluirteu comentário é muito apropriado e gostei muito do que disseste relacionando com a sala de aula. É justamente isso, precisamos aproveitar o potencial dessa 'gurizada' e falar a linguagem deles.
Um abraço,
Garin