Semana passada recebi um telefonema de longe. A voz da pessoa estava tão clara, que até perguntei onde ela estava. Parecia que se encontrava na sala ao lado. No entanto, estava há mais de mil quilômetros de distância.
Quando saí, fiquei olhando para os cabos que ligam nosso telefone à rede.
Fiquei impressionado com a quantidade de fios que se entrelaçam no poste. Por um momento imaginei a ‘multidão’ de palavras e dados que estariam passando por ali. Negócios sendo fechados, outros desfeitos; amores sendo declarados, outros, quem sabe, desmanchados; amizades se estreitando, outras se partindo... enfim, o mundo circulando bem pertinho da gente, interligando experiências tão diferentes...
Olhando os fios, refleti sobre outro tipo de ligação, que aproxima distâncias e épocas remotas. Lembrei de uma experiência religiosa de profundo sentido para os cristãos: a comunhão. Se fôssemos capazes de estender um fio, ligando as mãos das pessoas que participam da Santa Ceia, perceberíamos que o nosso globo se transformaria numa imensa e única teia e a história se interligaria por milênios sempre a partir de um tocar de mãos.
Por outro lado, se imaginarmos as mãos que se estenderam, alcançando o cálice, chegaríamos às mãos de Cristo, oferecendo-o pela primeira vez, o pão e o cálice aos seus discípulos.
Estes, não são fios que tramam negócios, nem celebram amizades, nem tão pouco declaram paixões. São fios que interligam a experiência de um profundo amor, o amor de Deus pelo homem e pela mulher. Um amor cheio de compaixão que se transforma em salvação e em liberdade.
Essa não é uma experiência exclusiva dos cristãos(ãs). Em todas as religiões, os ritos são fios que se estendem cobrindo a multidão dos seus fiéis e a história de sua trajetória. A cultura é um fantástico tear que constrói laços horizontais e históricos, ligando o ser humano ao redor do planeta e cobrindo a história do andar humano sobre a Terra. Somos partícipes de uma renda global que envolve o planeta na extensão do processo civilizatório.
Esta constatação nos remete à responsabilidade individual e coletiva. Para os religiosos, diante de Deus. Para os não religiosos, diante do outro(as), do próximo, se encontre ele neste mesmo espaço de tempo a que chamamos de contemporaneidade, ou nas dimensões que nos fogem à percepção, de pretérito e de futuro. É diante dessa rede espacial e histórica que devemos afirmar nossa visão do humano, que existe em cada ser humano. É também diante dessa mesma rede que se estabelece nossa responsabilidade perante a construção humana e perante à natureza da qual desfrutamos. Esta é a experiência fantástica que construímos quando nos percebemos como ser-no-tempo e na globalidade da vida.
Votos de uma boa segunda-feira!
Meu caro Garin,
ResponderExcluira segunda-feira já se faz noite e só agora pude vir tomar a pílula cotidiana de sabedoria aqui no teu blogue. Segundas-feiras tenho aulas de manhã (na graduação) e à tarde na Universidade do Adulto Maior.
Gostei do texto, mas hoje á que reconhecer que a fotografia está excepcional.
Com admiração e agradecimentos pelas inspirações.
attico chassot
Caro Chassot,
ResponderExcluirobrigado pelos teus comentários. Sempre repito, eles têm sido muito importantes, não importa a que hora tens postado. Sinto-me estimulado pelas tuas considerações.
Um abraço,
Garin