quinta-feira, 23 de junho de 2011

MUNDINHO DELE

Esqueci de retirar a carne do congelador. A hora do almoço se aproximava quando percebi, que a principal iguaria da refeição ainda estava dura como uma pedra. Àquela altura nem o descongelamento no microondas salvaria. A alternativa foi procurar um Buffet para não ficar, na base do sanduiche. Foi o que fizemos minha esposa e eu. Com os pratos servidos procuramos uma mesa próxima à janela do restaurante.

Há conversas que são impossíveis de não serem escutadas, especialmente quando se está num recinto fechado e pessoas falando num tom bem mais alto do que o necessário. A conversa do casal que sentara uma mesa à frente da nossa, comentava sobre a vida de alguém. O tema era o ‘mundinho’ que essa pessoa havia construído para si, no qual se encerrara e de onde contemplava e media todas as demais pessoas de seu relacionamento.

Primeiro, essa conversa mexeu com a minha mente. Entendo que locais públicos não são apropriados para se comentar a vida de qualquer pessoa. Nunca se sabe quem poderá escutar e se quem está ali não tem alguma relação, mesmo que digital (redes sociais) com a pessoa que é objeto do comentário. Segundo, porque todos nós construímos os nossos ‘mundinhos’, de onde olhamos e medimos todo o resto. Terça-feira, quando debatíamos a teoria de Darwin sobre a evolução das espécies, no Seminário de História e Filosofia da Ciência, no Mestrado de Reabilitação e Inclusão do IPA, me posicionei sobre a dificuldade que o ser humano tem de perceber a realidade. Sempre que isso acontece, o faz partindo de suas convicções e, em alguns casos, de suas crenças. Não há como entender a origem do universo a não ser a partir de alguns conhecimentos, acrescido de nossas crenças a respeito de como isso se desenvolveu.

De fato, olhamos o mundo a partir de nossa ‘janela’. A diferença que pode haver é se a janela que possuímos é ampla e arejada ou se é apenas um pequeno orifício por onde conseguimos descortinar somente um raio de claridade. Nosso ‘mundinho’ sempre nos oferecerá a perspectiva para as conclusões e crenças. Nosso esforço precisa ser na direção de ‘derrubar’ mais um pedaço de ‘parede’ e alargar nossa visão. Acabamos sempre estranhando o ‘mundinho’ do outro(a) porque ele é diferente do nosso: maior ou menor, mais tolerante ou mais rígido, conservador ou mais liberal etc.

O incompreensível é que algumas pessoas entendem que o seu ‘mundinho’ é o único correto, o único verdadeiro. Lamentável! A verdade não pertence a uma pessoa ou à conclusão que um grupo possa obter a respeito da realidade. A verdade transcende a soma e o conjunto de todas as verdades, está muito além do que podemos alcançar.

Uma boa quinta-feira (para alguns, de feriado)!


2 comentários:

  1. Meu caro Garin,
    primeiro a alegria de ver nosso seminário de terça-feira no Mestrado Profissional de Reabilitação e Inclusão partícipe de tuas reflexões.
    Devo de público confessar a minha ‘mania’ de escutar as conversas dos ‘mundinhos’ paralelos. No restaurante do cotidiano não tenho muita chance, pelo barulho. Não entendo porque se fala tão alto.
    Em ônibus isso é precioso. Quando nos sessenta lecionava em São Leopoldo e morava Porto Alegre , à noite no retorno as falas dos funcionários da siderúrgica me encantavam. Nos 80, quando dava aula no Campus da UFRGS, aprendia com os passageiros. Hoje meu trajeto até o Centro Universitário Metodista do IPA de lotação é muito curto, mas sempre pesco algo.
    Em um dia que vivemos tríplice possibilidade: dia santo/feriado/dia laboral convido tuas leitores e teus leitores fruir na edição de hoje de meu blogue a comemoração do quarto centenário de um patrimônio da língua inglesa: a bíblia do Rei James.
    Uma quinta-feira apetitosa, attico chassot
    http://mestrechassot.blogspot.com

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  2. Caro Chassot,

    essas conversas alhures muitas vezes ficam incompreensíveis: ora porque não conseguimos ouvir o início; ora porque decemos da condução antes que elas terminem. De qualquer maneira, servem para múltiplas interpretações, inclusive para inspirar um blog.

    Grande abraço,

    Garin

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