O dia ainda não amanheceu e o vento frio castiga impiedosamente do quadrante sul. Passando entre as grades e janelas, produz um som parecido com uivos de animais selvagens. Como a madrugada ainda avança na direção do dia, as recordações antigas voltam a insistir como se fossem importunos batendo á porta em horas impróprias.
Não adianta, não há como resistir, pois chega uma hora que a gente precisa abrir a porta e deixar que entre. Espero não ser considerado alguém que apenas vive de lembranças. As lembranças nos ajudam a viver, dão sentido e identidade ao que somos e ao que já fomos.
Sobre as coxilhas desnudas do interior de Cachoeira do Sul, cavalgava sob um terrível inverno, castigado por esses ventos que nos acostumamos a chamar de minuano(1). Era necessário arrebanhar as vacas leiteiras, que todas as noites eram recolhidas ao galpão. Naquele entardecer parece que a situação se complicou para o cavaleiro-guri. Quando tentava arrebanhar uma rês, a outra fugia. Voltava para recolher aquela, outras duas se perdiam campo afora. Parecia reviver a saga do negrinho do pastoreio. Quase encarangado de frio, busquei na fé, as forças para cumprir minha tarefa campeira.
Confesso que não foi fácil. Muitas escaramuças depois, como se fosse um “happy ending” de filme hollywoodiano consegui reunir o rebanho e tratar os animais no aprisco galponeiro(2).
Uma lição ficou gravada junto à lembrança daquela tarde de vento minuano. Mesmo quando as batalhas parecem perdidas, sempre é possível encontrar energias encontradas lá dentro de cada um, que para alguns é apenas energias, para outros, com eu, é a força da fé.
Um bom domingo de outono, para quem está ao sul da linha do equador!
1. Vento minuano ou simplesmente minuano é o nome dado à corrente de ar que tipicamente acomete os estados brasileiros do Rio Grande do Sul e região sul de Santa Catarina. É um vento frio de origem polar (massa de ar polar atlântica), de orientação sudoeste, algumas vezes também classificado como cortante. Ocorre após a passagem das frentes frias de outono e inverno, geralmente depois das chuvas. Seu nome deriva dos Minuanos, um grupo indígena que habitava os campos no sul do estado brasileiro do Rio Grande do Sul. (Wikipédia)
2. Adjetivo não dicionarizado que se refere às lides dos galpões no Rio Grande do Sul.
Meu caro Garin,
ResponderExcluirdepois da 1h da madrugada quando dizia que as ultimas brasas se faziam cinzas na lareira–, havia postado algo aqui. Afortunadamente o blogger, que ontem estava amofinado, não guardou. Digo afortunadamente, pois redigira a mensagem no I-Pad que corrigia meus textos, para o inglês. Assim digitava ‘blogues’ e ele transformava em ‘bodies’. Recordo que então agradecia as lições de sabedoria recebidas no teu blogue e também aquilo que escreveras como primícias no meu blogue.
Encerrava com um agradecimento ao mestre.
Adito agora votos de um bom domingo
attico chassot
Caro Chassot,
ResponderExcluirpois é, a tecnologia (uma de nossas neopatias contemporâneas) nos prega umas peças. Eu, por exemplo, não estou consiguindo postar comentários com o meu login. Sempre tenho que fazer por outros caminhos.
Obrigado pelo reconhecimento que fazes às minhas blogadas. Também tenho aditado muito ao meu conhecimento das sabedorias que postas no teu blogue e nos teus comentários.
Uma boa inhapa de domingo!
Garin
legal demais
ResponderExcluirEste comentário foi removido pelo autor.
ExcluirObrigado, Rosele!
ExcluirUm abraço