Ontem à tarde me vi premido entre duas possibilidades. Por um lado, necessitava escrever um texto que me consumiria quase todo o tempo. Por outro, desejava visitar um amigo que não via há muito tempo e ontem representava a oportunidade única em muitos anos. Titubei entre o dever e o prazer.
Desde a infância, recebi a educação de que, em primeiro lugar o dever, do qual não seria conveniente abrir mão a menos que houvesse um motivo de “força maior”, como costumamos dizer. Cumprido o dever, abria-se a possibilidade de experimentar o prazer. É impressionante como a educação é forte na formação da personalidade. Mesmo agora, com a idade que tenho, já aposentado, ainda assim o senso de responsabilidade com o dever é absolutamente predominante. Diante de mim estava o trabalho cobrando a realização de tarefas inadiáveis mesmo que eu soubesse, que cumpridas aquelas, outras tarefas viriam, numa sequência quase interminável.
Aprendi isso como um preceito indiscutível, bastante reforçado pela formação protestante. Assim, a responsabilidade me cutucava e fazia com que me reportasse à ética. Se por um lado a tentação se esforçava para me levar ao prazer, por outro a consciência me cobrava duro, com ameaças que só a mente de um “caxias” conhece. O prazer batia à porta e reacendia as emoções de rever alguém querido com as possibilidades de trocarmos vivências de um longo tempo, falar sobre amigos comuns, nos abraçarmos, enfim, nos olharmos e dizermos um para o outro, pelo menos: estamos vivos!
Sei que o ideal é aliar o dever ao prazer, mas nessa situação ambos eram irreconciliáveis. Mesmo que, depois de certa jornada de vida, tenhamos a tendência à acomodação, tinha que me decidir. Quando se cumpre o dever, mesmo que no fundo da alma permaneça aquela dor da oportunidade perdida, prevalece a consciência tranqüila do “dever cumprido”.
Termino fazendo votos de uma ótima terça-feira!
PS: acho que vocês querem sabem quem venceu: joguei tudo para o alto e fui abraçar meu amigo; passamos uma tarde contando histórias, revolvendo memórias e tomando chimarrão.
Meu caro Garin,
ResponderExcluirnão havia lido duas linhas de teu texto e aflorou a máxima que para mim era/é ~~ e certamente será norma indiscutível: ‘Primeiro o dever depois o lazer’. Se tua formação protestante comanda(va) uma (in)decisão e mim afloram, com frequência as culpas judaicas. Talvez atirasse uma moeda, marcada pelo pensamento mágico, e deixava aos deuses decidir: cara>dever/coroa>prazer
Um abraço desde Frederico Westphalen, aonde recém cheguei depois de uma noitada a bordo.
Com admiração
attico chassot
http://mestrechassot.blogspot.com
Caro Chassot,
ResponderExcluirgostei dessa prática da moeda, da próxima vez vou tentar. Pois é, esse nosso imperativo às vezes nos priva de vivências importantes, significativas para o "existir" do humano que em cada um habita.
Boa estada em FW.
Um abraço,
Garin