sábado, 23 de julho de 2011

A ANGÚSTIA DA ESPERA

O calor e o sol eram implacáveis sobre a carroça descoberta. Papai me confiava o cuidado da carroça e dos animais enquanto saia oferecendo as quitandas. Não tinha relógio, nem saberia calcular quantas horas se passavam, mas a espera era dolorosa e aflitiva. Mesmo que fossem apenas alguns minutos, aquilo era um ‘eterno infinito’, carregado de expectativas e frustrações. Vasculhava todos os cantos possíveis. Olhava ruas e calçadas na busca da figura do meu pai com a esperança de seu retorno imediato.
Cada um de nós vive diferentes momentos de espera. Desde coisas mais singelas a eventos altamente significativos em nossas vidas. Não importa o tamanho, o momento da ‘espera’ é angustiante. Fazemos planos, imaginamos cenas, pensamos em alternativas para possíveis problemas. Ensaiamos posturas diante de situações imaginárias. Perdemos o sono em noites de devaneios. Sonhamos com soluções simples. Temos pesadelos com fracassos imaginados. Enfim, a espera representa uma experiência delimitada entre o pavor do ‘inferno’ e a delícia do ‘paraíso’.
Cada momento que passa aumenta nossa tensão. Nossos sintomas físicos sinalizam a proximidade. Nossas reações psicológicas manifestam ansiedade. Nosso equilíbrio espiritual, por vezes, mostra sinais de desespero. É assim! Não tem jeito. Quem disser que é totalmente maduro ao ponto de não se deixar contaminar pela ‘espera’, talvez tenha perdido um tanto do seu ‘lado humano’ e tenha se transformado um pouco em ‘máquina’.

DESTAQUE DO DIA
18 anos da Chacina da Candelária[1]

 A chacina da Candelária[2], como ficou registrada pela mídia, ocorreu, proximadamente à meia-noite do dia 23 de julho de 1993, próximo às dependências da Igreja de mesmo nome localizada no centro da cidade do Rio de Janeiro. Nesta chacina, seis menores e dois maiores sem-tetos foram assassinados por policiais militares, que abriram fogo contra um grupo de cerca de setenta crianças e adolescentes que dormiam.

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