Quando estudava na segunda série do primário, 1960, uma colega me acertou uma ‘borrachada’ em plena aula. Bem na hora, a professora virou-se e enxergou a ‘agressão’. Foi uma experiência muito constrangedora. A colega foi chamada à frente da turma e a professora aplicou-lhe a palmatória[1]. Aquela ‘palmada’ doeu em mim porque me coloquei no lugar dela e pude sentir o seu constrangimento, muito mais forte do que a dor que sentiu.
Trouxe esta narrativa porque gostaria de focar o novo projeto de lei sobre a obrigatoriedade das escolas de publicarem a nota do Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (ideb), de forma destacada, à frente dos estabelecimentos.
Sei que vivemos num tempo de ranqueamentos na educação. Tudo está se transformando em quem é o melhor, quem tira a melhor nota do ENEM, no ENADE, no IDEB e por aí afora. Há estabelecimentos que fazem questão de demonstrarem seus índices e até investem em campanhas para publicarem o seu ‘lugar destacado’ no ranque não interessando muito em qual: o importante é demonstrar que estão ‘bem acima’ de suas concorrentes.
Sinceramente, tenho muitas dúvidas sobre o tipo de educação medida pelos ranqueamentos. Acredito que não se trata de uma educação voltada para a formação das pessoas enquanto seres humanos. A constituição do humano em cada um(a), não pode ser medida por índices dessa forma. Meus filhos sempre estudaram em boas escolas, não porque tinham esse ou aquele nível em qualquer tipo de índice, mas porque ofereciam uma formação humana adequada ao ser humano em si.
Entretanto, a discussão é outra. Quando uma escola está bem localizada, possui boa biblioteca, atende a uma população detentora de recursos suficientes para lhes proporcionar boas oportunidades de alimentação, saúde, educação, tecnologia etc. certamente os resultados desse tipo de avaliação vão aparecer com níveis elevados. Precisamos entender que no processo educacional não há um único sujeito, mas uma multiplicidade de elementos que terão como resultado o aprendizado. Um excelente professor(a), comprometido com a educação, bem capacitado, esforçado, não é suficiente para mudar o panorama educacional de uma classe que, por razões sociais e materiais, não reúne condições suficientes para um bom resultado num índice. Outro fator é o fato de que o IDEB não é uma avaliação, mas um elemento de avaliação. Há outras múltiplas variantes que um índice não consegue contemplar.
Caso um pai de aluno, que tenha poucos recursos sociais e econômicos e more numa região pobre da cidade não tem como transferir seu filho para uma escola cuja nota seja tão elevada como desejaria. Outro aspecto é que os sistemas de ensino costumam adotar zoneamento de escolas. Quem mora em determinado bairro não tem como matricular seu filho noutra zona da cidade porque o sistema não aceita. Por outro lado, esse pai não conseguiria bancar o transporte para seu filho estudar longe de casa.
Outro detalhe é que tem sido atribuído ao professor(a) o baixo desempenho dos seus alunos(as). Onde ficam as condições dos estudantes, as condições da escolas, o incentivo que o sistema proporciona etc.?
A minha percepção é de que, aprovado este projeto de lei, haverá discriminação e constrangimento para escolas, professores(as), pais e mães, estudantes e gestores escolares. Em contrapartida, não consigo enxergar elementos positivos pelo fato de publicar, à frente das unidades escolares, a nota de qualquer índice.
Fica aqui a minha inconformidade com tal projeto!
DESTAQUE DO DIA
“Giovanni di Pietro di Bernardone, mais conhecido como São Francisco de Assis[2] (Assis, 5 de julho 1182 — 3 de outubro de 1226), foi um frade católico da Itália. Depois de uma juventude irrequieta e mundana, voltou-se para uma vida religiosa de completa pobreza, fundando a ordem mendicante dos Frades Menores, mais conhecidos como Franciscanos, que renovaram o Catolicismo de seu tempo.” [Francisco de Assis. Disponível em http://pt.wikipedia.org/wiki/Francisco_de_Assis. acesso em: 04 jul 2011].
Cristãos como Francisco de Assim são exemplos de testemunho para todos(as) os cristãos(ãs) independente de sua cor denominacional.
[1] Palmatória: pequena peça circular de madeira com cinco orifícios em cruz e provida de um cabo, us. Como instrumento de castigo para bater na palma da mão do castigado [Houaiss].
[2] Francisco de Assim. Disponível em: http://biografiadossantos.wordpress.com/2010/04/03/sao-francisco-de-assis. acesso em: 04 jul 2011.
Meu caro Garin,
ResponderExcluiruma vez mais trocamos comentários quase no mesmo momento em nossos blogues. Nem a madrugada fria nos faz encarangados para entreter-nos em blogares.
Tem razão nosso prezado colega de Centro Universitário Metodista do IPA, José Clovis, quando (ora secretário de Educação) quando brada contra a Merco-Escola. A proposta contra a qual te insurges e tens a minha companhia, se assemelha a classificação que se faz dos hotéis: uma estrela, duas estrelas...
Merecido o destaque ao admirado São Francisco: o ecologista do medievo.
Uma boa terça enregelante,
attico chassot
Caro Chassot,
ResponderExcluirque o frio das madrugadas não nos encaranguem ao ponto de nos paralizar. Não sou companheiro de noitadas, mas as madrugadas são comigo mesmo.
Será que é possível antever até quando nossa sociedade irá valorizar índices, classificações, melhores no ranque etc? Esse é um modelo fadado ao fracasso, pelo menos na dimensão humana.
Um abraço,
Garin