sexta-feira, 3 de fevereiro de 2012

DE AMBOS OS LADOS

ANO 01 – Nº 329


Temos acompanhado notícias sobre a violência que professores vem sofrendo de parte dos seus alunos nos diversos níveis de ensino. Entretanto, é necessário fazer uma reflexão séria sobre a postura dos educadores diante dos estudantes. É fácil combater, através de discursos, qualquer forma de deslizes dos alunos, sejam crianças, adolescentes ou mesmo adultos. O difícil, e o esperado, é o educador pautar suas atitudes pelo caminho da ética de tal sorte que os aprendentes possam compreender a lição através do exemplo. Não basta indicar que a turma faça o que a gente diz: certamente todos se ligarão bem mais naquilo que a gente faz diante deles. A propósito, trago uma notícia vinda do México que poderia se referir a alguma escola do nosso país:


PROFESSORA É DETIDA NO MÉXICO
POR TRANCAR ALUNO EM COLÉGIO[1]

Uma professora da educação básica no México foi detida ontem (1º) após deixar uma criança trancada por sete horas em uma sala de aula como castigo por não ter terminado seus deveres escolares.

A professora, Zulema Garza, dá aulas na escola primária pública "5 de Outubro", localizada em Monterrey, capital do Estado de Nuevo León, e foi presa pela polícia ao sair da sede de uma emissora de televisão, onde deu declarações sobre o ocorrido.

O garoto, identificado como Lalito, de 7 anos, foi resgatado na noite da última segunda-feira, 30 de janeiro, por detetives da Agência Estatal de Investigações.

Ele declarou à Procuradoria que a professora lhe ordenou que permanecesse onde estava até a hora da saída porque não havia terminado suas tarefas. Garza pode ser acusada de privação ilegal da liberdade, crime que é equiparado a um sequestro.

A subsecretária de Educação Básica, Irmã Adriana Garza, defendeu a professora e disse que tanto ela como o diretor da escola, Domingo Támez, mostraram atitudes de "excelência".

"É um descuido involuntário, a professora acompanha seus alunos até a saída da instituição, não foi avisado que o menor ficou dentro da sala", afirmou a subsecretária. Na manhã de ontem, a docente se apresentou ao escritório da Secretaria de Educação de Nuevo León para prestar depoimento sobre a detenção do menino.



DESTAQUE DO DIA

Nascimento de Simone Weil (103 anos)

Simone Adolphine Weil nasceu em Paris a 3 de fevereiro de 1909 e morreu em  Ashford a 24 de agosto de 1943. Foi uma escritora, mística e filósofa francesa, tornou-se operária da Renault para escrever sobre o cotidiano dentro das fábricas. Lutou na Guerra Civil Espanhola, ao lado dos republicanos, e na Resistência Francesa, em Londres; por ser bastante conhecida, foi impedida de retornar à França como pretendia; acometida de tuberculose, não teria admitido se alimentar além da ração diária permitida aos soldados, nos campos de batalha, ou aos civis pelos tickets de racionamento. Com a progressiva deterioração de seu estado de saúde, em estado de desnutrição, faleceu poucos dias depois de seu internamento hospitalar.

Em 1934, Simone licenciou-se por dois anos do magistério para tentar viver como e entre operários. Todavia, sua resistência física só lhe permitiu levar o projeto até agosto de 1935, quando, trabalhando na linha de montagem de carros da Renault, caiu doente com uma inflamação na pleura. O "Journal d'usine" ("Diário da fábrica") que ela manteve durante esse período observa que "a exaustão me fez esquecer finalmente as verdadeiras razões pelas quais estou na fábrica; ela faz quase invencível a tentação que esta vida traz consigo: não mais pensar". Ela ficou tão traumatizada por sua experiência fabril, que abandonou imediatamente quaisquer noções românticas que ainda tivesse sobre o proletariado e sua (ou de quem quer que fosse) habilidade para ajudá-lo. Ela descobriu que a opressão não resulta em rebelião, mas em obediência e apatia - e até mesmo na internalização dos valores do opressor.
Com base em sua experiência pessoal, ela argumenta no ensaio "Expérience de la vie d'usine" ("Vivendo a vida da fábrica"), que a automação é uma boa coisa ao eliminar trabalho penoso e servil, mas que a superautomação transforma um trabalhador qualificado em nada mais que um intermediário entre o maquinário e as coisas a serem processadas: "coisas fazem o papel de homens, homens o papel de coisas. Aí jaz a raiz do mal". A única solução possível, segundo Simone, não seria um retorno ao modo rude da manufatura - uma noção neo-ludita que ela achava grotesca - mas automatizar somente as tarefas mais ingratas, e para todas as outras, empregar a "máquina-instrumento", a qual combina a precisão da máquina com a assistência habilitada do trabalhador, exigindo do operador, proatividade, iniciativa e uma apreensão inteligente das partes operacionais.[2]


1. PROFESSORA É DETIDA NO MÉXIMO POR TRANCAR ALUNO EM COLÉGIO Disponível em http://www1.folha.uol.com.br/mundo/1043106-professora-e-detida-no-mexico-por-trancar-aluno-em-colegio.shtml. Acesso em 2 fev 2012.
[2] SIMONE WEIL. Disponível em http://pt.wikipedia.org/wiki/Simone_Weil. Acesso em 2 fev 2012.

2 comentários:

  1. Meu caro Garin,
    mais uma vez uma blogada tua me catalisa a retomada de assuntos que já lera. Hoje volto a Simone Weil Eu já vivi mais que o dobro do que ela, que morreu com 34 anos, e fiz tão menos que esta fantástica mulher.
    Penso que ela quanto a sua fé é um bom exemplo do sincretismo que comentei ontem.
    Judia de berço, recusou muitas vezes o batismo católico, talvez tenha encontrado nos cátaros a grande síntese.
    Permito-me recordar algo de seu diário pela atualidade: “dado o dilema geral e permanente da humanidade neste mundo, comer até que se esteja saciado é um abuso".
    Obrigado por propores pistas,
    attico chassot

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Caro Chassot,
      o meu blog fica qualificado com os teus comentários; ainda ontem estava lendo a carta que escreve ao pai sobre a questão espiritual.

      Um abraço,

      Garin

      Excluir