sábado, 25 de fevereiro de 2012

A gaveta - ano 01 - nº 351

A GAVETA
ANO 01 – Nº 351

Enquanto tomávamos o chimarrão da tarde, Ana e eu resolvemos remexer nas gavetas do escritório, coisa que há tempo desejávamos enfrentar. Mas sabem como é, abríamos a gaveta, dávamos uma olhadinha, quase explodindo de tanto treco, perdíamos a coragem, empurrávamos a gaveta de volta. Ontem aconteceu algo inusitado. Abrimos a gaveta e, quando a coragem acabou, e tentamos fazer o mesmo, a dita cuja, tão abarrotada, ficou nos espiando por uma fresta. Aí o jeito foi enfrentar a fera!

Não imaginam o que havia lá dentro? Nem nós imaginávamos encontrar tanta coisa! Cada objeto, papel, documento, clipe, borracha (aquela do tempo em que a gente escrevia a lápis sobre papel), grampeador, retrato (aquele do tempo em que a gente ainda não chamava de fotografia, muito antes da imagem digital), atilho para dinheiro etc. (e foram muitos et ceceteras).

Quem já fez limpeza em gavetas ‘antigas’ sabe muito bem do enrosco de que estou falando. Claro, fazer uma limpeza é coisa fácil. Basta despejar tudo dentro de um saco de lixo e colocar à frente da casa para o lixeiro levar. Todo mundo sabe que não é assim que funciona. Cada coisinha minúscula carrega consigo uma história. Um pedaço de papel com poucas coisas escritas; anotações de um episódio (e aí o episódio passa de novo na mente); apontador de lápis (o que é lápis, mesmo?); caneta-tinteiro (será que alguém ainda sabe o que é?), que serviu para escrever centena de textos; fotografia dos meus filhos ainda bebês; furador de papel (esse, com certeza, ninguém lembra) enfim, vou deixar o resto por conta dos et ceteras.

Aprendi mais uma coisa: é melhor não ter gavetas. Quando estão cheias a gente não sabe como se livrar delas. Pior, elas não duram muito tempo vazias: logo ficam abarrotadas de coisas do tipo “depois eu vejo isso!”. O engraçado é que “o depois”, logo vira “nunca”.

Não pensem que não enfrentamos o monstro. Entretanto, uma tarefa que não demoraria mais que meia hora, durou o resto da noite. Em cada particularidade havia um universo de lembranças e jogá-la fora significava abrir mão de parte importante da memória.

Esvaziar gavetas não corresponde apenas a jogar lixo fora, significa reviver alegrias, re-sentir antigas dores, re-sonhar planos, re-visitar significados esquecidos e por aí afora. Sem coragem, ninguém enfrenta uma ‘antiga’ gaveta lotada. Por outro lado, quem não as enfrenta, também não se  desprende de “certos passados” que perderam o sentido diante de novos tempos.

Como votos de um ótimo sábado, com coragem para enfrentar suas ‘antigas’ gavetas!
DESTAQUE DO DIA

Nascimento de Renoir (171 anos)

Pierre-Auguste Renoir nasceu em Limoges a 25 de fevereiro de 1841 e morreu em Cagnes-sur-Mer a 3 de dezembro de 1919. Foi um dos mais célebres pintores franceses e um dos mais importantes nomes do movimento impressionista. Desde o princípio sua obra foi influenciada pelo sensualismo e pela elegância do rococó, embora não faltasse um pouco da delicadeza de seu ofício anterior como decorador de porcelana. Seu principal objetivo, como ele próprio afirmava, era conseguir realizar uma obra agradável aos olhos. Apesar de sua técnica ser essencialmente impressionista, Renoir nunca deixou de dar importância à forma - de fato, teve um período de rebeldia diante das obras de seus amigos, no qual se voltou para uma pintura mais figurativa, evidente na longa série Banhistas. Mais tarde retomaria a plenitude da cor e recuperaria sua pincelada enérgica e ligeira, com motivos que lembram o mestre Ingres, por sua beleza e sensualidade.[1]


[1] PIERR-AUGUSTE RENOIS. Disponível em http://pt.wikipedia.org/wiki/Pierre-Auguste_Renoir. Acesso em 25 fev 2012.

2 comentários:

  1. Muito estimado Garin,
    colega de blogares...
    realmente é difícil ter coragem de arrumar gavetas. Nem o sábado que se faz chuviscoso e enseja arrumar as gavetas mais complicadas: as d'alma!
    Ao pastor do cotidiano,
    uma vez mais: muito obrigado.
    Com admiração,
    attico chassot

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    1. Amigo Chassot,
      passei o sábado exercendo o moroso ofício de alimentar o 'Siga' que conhecemos desde algum tempo. Como é chato, estou com as articulações dos dedos completamente exauridas.
      Um abraço,
      Garin

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