A FILA
ANO 01 – Nº 347
Passava um pouco das dezenove horas e duas filas de carros se arrastavam de um lado e de outro da avenida. Dava a impressão de que os mesmos carros que iam, também voltavam. Entretanto, o engarrafamento era real e cada veículo necessitava de vários minutos para cumprir um pequeno trecho onde a vista do apartamento alcançava.
Eram pessoas que iam e que vinham, para algum ou de algum lugar, mas parecia que não iam e nem vinham de lugar nenhum. Depois de uma hora, mais ou menos, as filas se desmancharam e o tráfego voltou a fluir com naturalidade.
Fiquei imaginando os propósitos das pessoas que ocupavam aqueles carros, quase todos com três, quatro e até cinco passageiros. Estariam indo fazer compras, participar de uma festa, assistir a um show, apenas passear, não sei.
O existir humano, muitas vezes, compara-se a esse ir e vir para ou de lugar nenhum. Aos filósofos preocupa o sentido que cada pessoa constrói para o seu viver. Estabelecem métodos de percepção e de análises para a compreensão dos fundamentos racionais desse existir. Entretanto, para a maioria das pessoas, o seu existir resume-se nisso mesmo: apenas existir! Não encontram e nem constroem qualquer sentido além de si mesmas. São como carros numa avenida que vão e que voltam, apenas isso. Por causa da ausência do estabelecimento de sentido sobre seu existir, também o exaurem na inexistência de qualquer outro sentido.
Por vezes nos quedamos a perguntar se a essa ausência de sentido corresponde o único sentido do existir, ou se deveríamos, por qualquer dimensão, buscar alguma resposta. Haverá sentido em existir sem reconhecer o sentido de esse existir?
Há quem se perceba como construtor de um sentido maior do que o apenas existir, pela reflexão, pela estética, pela fé e por outras dimensões da existência. Talvez essa não deva ser a melhor reflexão para uma terça-feira de carnaval, ainda envolta nos mandos (ou desmandos) de Momo, mas como logo depois da quarta-feira tudo recomeça, seria indicado lubrificar as sinapses da mente.
DESTAQUE DO DIA
Morte de Espinosa (335 anos)
Bento de Espinoza (também Benedito Espinoza; em hebraico: ברוך שפינוזה, transl. Baruch Spinoza) nasceu em Amsterdã a 24 de novembro de 1632 e morreu em Haia a 21 de fevereiro de 1677. Foi um dos grandes racionalistas do século XVII dentro da chamada Filosofia Moderna, juntamente com René Descartes e Gottfried Leibniz. Nasceu nos Países Baixos, no seio de uma família judaica portuguesa e é considerado o fundador do criticismo bíblico moderno.
Spinoza defendeu que Deus e Natureza eram dois nomes para a mesma realidade, a saber, a única substância em que consiste o universo e do qual todas as entidades menores constituem modalidades ou modificações. Ele afirmou que Deus sive Natura ("Deus ou Natureza" em latim) era um ser de infinitos atributos, entre os quais a extensão (sob o conceito atual de matéria) e o pensamento eram apenas dois conhecidos por nós.
A sua visão da natureza da realidade, então, fez tratar os mundos físicos e mentais como dois mundos diferentes ou submundos paralelos que nem se sobrepõem nem interagem, mas coexistem em uma coisa só que é a substância. Esta formulação é uma solução muitas vezes considerada um tipo de panteísta e de monismo, porém não por Espinosa, que era um racionalista, por Extensão se teria um acompanhamento intelectual do Universo, como define ele em seu conceito de "Amor Intelectual de Deus".
O monumento feito em homenagem a Spinoza, em Haia foi assim comentado por Renan em 1882:
"Maldição sobre o passante que insultar essa suave cabeça pensativa. Será punido como todas as almas vulgares são punidas — pela sua própria vulgaridade e pela incapacidade de conceber o que é divino. Este homem, do seu pedestal de granito, apontará a todos o caminho da bem-aventurança por ele encontrado; e por todos os tempos o homem culto que por aqui passar dirá em seu coração: Foi quem teve a mais profunda visão de Deus"[1]
[1] BENTO DE ESPINOZA. Disponível em http://pt.wikipedia.org/wiki/Baruch_de_Espinoza. Acesso em 21 fev 2012.
Meu caro Garin,
ResponderExcluirrecordar Spinoza e lembrar da Holanda como palco de Liberdade religiosa, quando a Inquisição dolorosa se iniciava em outros reinos.
Bela trazida neste dia carnavalesco,
attico chassot
Amigo Chassot,
Excluirboa parte dos perseguidos é que mudaram os rumos da história humana, também na percepção de Deus.
Um abraço,
Garin