segunda-feira, 27 de fevereiro de 2012

O batom - ano 01 - nº 353

0 BATOM
ANO 01 – Nº 353

O cair da tarde do domingo estava lindo aqui em Porto Alegre. Ana e eu resolvemos dar uma volta pela cidade e passar pela Usina do Gasômetro[1] onde se realizava o 1º Fórum Mundial da Bicicleta. Era surpreendente a quantidade de bicicletas e a diversidade de modelos. Como se pode observar, houve uma participação maciça de ciclistas de diversos lugares.

Enquanto sorvíamos o nosso chimarrão vespertino, sentados na barranca do rio, nos divertíamos olhando os barcos que se preparavam para deixar o ancoradouro. O cenário do entardecer naquele lugar era magnífico e as pessoas se divertiam fazendo exercícios físicos, namorando, passeando, conversando em grupos etc.

Quando já estávamos retornando, passou por nós, um casal pedalando suas respectivas bicicletas. De repente, a mulher tirou da pochete um batom e, sem parar de pedalar, começou a se maquiar. Na medida em que avançava sua viagem retocava o colorido dos lábios.

Ana e eu ficamos conversando e refletindo sobre aquela atitude. Ela dispunha de um veículo de equilíbrio precário, cuja força motriz dependia dela e mesmo assim usava uma das mãos para aperfeiçoar sua apresentação pessoal.

O ser humano é formidável quando se trata dos elementos culturais. É capaz de arriscar o próprio equilíbrio para satisfazer um capricho pessoal demandado pelos costumes da sociedade. É comum ver os intelectuais se debruçarem sobre as necessidades fundamentais das pessoas, apelando para os grandes temas ligados à segurança e ao bem estar. Entretanto, alguém é capaz de arriscar a própria integridade física para se manter nos padrões mínimos de beleza.

Quando nos debruçamos sobre temas cruciais esquecemos-nos de dar uma voltinha pela realidade circundante. Se tivéssemos esse cuidado, certamente mudaríamos o foco dos debates. Nem sempre o que os intelectuais determinam que sejam os temas mais importantes, são de fato, as preocupações mais significativas das pessoas. Pode ser que um detalhe da beleza de uma mulher seja mais importante do que seu equilíbrio dinâmico sobre a bicicleta e o risco de uma queda com graves consequências.

O que seria determinante quando se fala de necessidades fundamentais do ser humano?

Com os votos de uma ótima semana de realizações humanas!
DESTAQUE DO DIA

Nascimento de Ricoeur (99 anos)

Paul Ricoeur nasceu em Valença a 27 de Fevereiro de 1913 e morreu em Châtenay-Malabry, perto de Paris a 20 de Maio de 2005. Foi um dos grandes filósofos e pensadores franceses do período que se seguiu à Segunda Guerra Mundial.

O sentido do trabalho filosófico de Ricoeur deve ser visto em uma teoria da pessoa humana; conceito - o de pessoa - reconquistado no termo de longa peregrinação dentro das produções simbólicas do homem e depois das destruições provocadas pelos mestres da "escola da suspeita". Eis, a propósito, um pensamento do próprio Ricoeur (1983): "Se a pessoa voltar, isso se dará porque ela continua o melhor candidato para sustentar as batalhas jurídicas, políticas, econômicas e sociais".

Ainda Ricoeur: "Consciência? Como se poderia ainda crer na ilusão de transparência associada a este termo, depois de Freud e da psicanálise? Sujeito? Como se poderia alimentar ainda a ilusão de uma fundação última em algum sujeito transcendental, depois da crítica das ideologias efetuadas pela Escola de Frankfurt? O eu? Mas quem não sente com força a impotência do pensamento para sair do solipsismo teórico [...]? Eis a razão - conclui Ricoeur - pela qual prefiro dizer pessoa em vez de consciência, sujeito, eu". E a pessoa é atenazada na dialética entre liberdade e culpa, e se sente só diante de Deus, como o cavaleiro da fé de que fala Kierkegaard, cavaleiro que, diante de Deus, "não dispõe em todo caso a não ser de si próprio, em um isolamento infinito.[2]


[1] A Usina do Gasômetro, ou simplesmente Gasômetro, é uma antiga usina de geração de energia de Porto Alegre. Apesar do nome, era uma usina movida a carvão. Hoje é um Centro Cultural no qual acontece diversos eventos e um local de passeio tradicional e turístico da capital gaúcha.
[2] PAUL RICOEUR. Disponível em http://pt.wikipedia.org/wiki/Paul_Ricoeur. Acesso em 27 fev 2012.r

2 comentários:

  1. Muito estimado colega Garin,
    certamente a vaidosa cidadã avaliou sua opção de não se descuidar da beleza. É impressionante o que este quesito conta na avaliação que esta sociedade de consumo valoriza e o quanto as empresas produtoras da área de cosméticos sabem exploras suas consumidoras.
    Sobre o nome da Usina: é provável, que na queima de carvão se produzia também gás de iluminação que era distribuído domesticamente.
    Uma boa largada neste semestre acadêmico,

    attico chassot

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    1. Amigo Chassot,
      obrigado por me avisares do erro de grafia no nome do Ricoeur.
      Certamente, a usina produzia boa parte da eletricidade de Porto Alegre e hoje é um local catalisador do público, especialmente nos finais de semana. Um passeio por lá, por si só já é um evento cultural.

      Um abraço,

      Garin

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