TERRA ESTRANHA
ANO 01 – Nº 333
Li ontem, na Zero Hora de Porto Alegre, a coluna do Luiz Fernando Veríssimo, cujo tema era a descoberta de uma cópia idêntica da Mona Lisa de Leonardo Da Vinci. Mas o que me chamou a atenção foi uma das suas últimas expressões quando ele cita: “O passado, já disse alguém, é uma terra estranha. Só se pode conhecê-lo pela especulação e visitá-lo pela imaginação.”.[1]
Boa parte das vezes somos presunçosos com as nossas técnicas científicas de perscrutar o passado. Não vai aqui nenhum desmerecimento ao trabalho criterioso dos historiadores. Refiro-me ao orgulho que nos toma conta, vez por outra, ao argumentarmos sobre algum episódio da história.
Normalmente temos pouco cuidado quando falamos de acontecimentos de antanho. Enchemos a boca para dizer que em mil novecentos e lá vai bala aconteceu isso e aquilo. A expressão trazida aqui pelo Veríssimo me recorda que a história contada é bem mais uma interpretação do que se conseguiu descobrir sobre alguma coisa que aconteceu.
Em primeiro lugar porque contamos a história pelo viés que nos interessa. Em segundo, porque a olhamos do ponto de vista de onde estamos agora. Em terceiro, porque há elementos que cercam o contexto dos fatos, os quais desconhecemos em sua totalidade, mesmo porque sempre há particularidades que são cuidadosamente escondidas.
Nossa leitura da história é, de fato, o trazer à memória de algumas particularidades que nem sempre corresponde à intencionalidade dos acontecimentos. Como citou o colunista, a história é uma terra estranha, pois guarda os seus segredos quiçá, para a eternidade. Contentamo-nos com um aspecto aqui, outro ali e, de resto, ficamos nas “especulações”!
Com votos de uma boa terça-feira!
DESTAQUE DO DIA
Morte de Sepé Tiaraju (256 anos)
Estátua de Sepé Tiaraju em Santo Ângelo, RS |
Sepé Tiaraju nascido na Redução de São Luís Gonzaga, RS, em data desconhecida e morto em São Gabriel a 7 de fevereiro de 1756. Foi um índio guerreiro guarani, considerado um santo popular brasileiro e declarado "herói guarani missioneiro rio-grandense" pela Lei nº 12.366. Nascido em um dos aldeamentos jesuíticos dos Sete Povos das Missões, foi batizado com o nome latino cristão de Joseph. Bom combatente e estrategista, tornou-se líder das milícias indígenas que atuaram contra as tropas luso-brasileira e espanhola na chamada Guerra Guaranítica. Tal conflito inscreve-se no contexto histórico das demarcações decorrentes da assinatura do Tratado de Madrid (1750), que exigiu a retirada da população guarani aldeada pelos missionários jesuítas do território que ocupava, havia cerca de 150 anos. A posse da região ainda seria objeto do Tratado de Santo Ildefonso (1777) e do Tratado de Badajoz (1801).
Viviam na região dos Sete Povos das Missões aproximadamente trinta mil guaranis. Somando-se os do Paraguai e da Argentina, alcançaram um total estimado de oitenta mil indígenas evangelizados, que habitavam em aldeias planejadas, organizadas e conduzidas como verdadeiras cidades. O interesse luso-brasileiro por esta extensa região deveu-se, além da posse territorial, ao gigantesco rebanho de gado, o maior das Américas, mantido por esses mesmos indígenas. Pereceu em combate contra o exército espanhol na batalha de Caiboaté, às margens da Sanga da Bica, na entrada da cidade de São Gabriel, durante a invasão das forças inimigas às aldeias dos Sete Povos. Após sua morte pereceram aproximadamente 1.500 guaranis diante das armas luso-brasileiras e espanholas.[2]
[1] ESPECULAÇÕES. Disponível em http://www.clicrbs.com.br/zerohora/jsp/default2.jsp?uf=1&local=1&source=a3654343.xml&template=3916.dwt&edition=18935§ion=70. Acesso em 7 fev 2012. (Esse alguém pode ter sido Cressida Crowel no livro “Como se muda a história do dragão”, ou uma frase do Maluco Beleza).
[2] SEPÉ TIARAJU. Disponível em http://pt.wikipedia.org/wiki/Sep%C3%A9_Tiaraju. Acesso em 7 fev 2012.
Muito estimado Garin,
ResponderExcluirde São Sepé a Michel Teló (e antes e depois deles) temos bons exemplos de como se fabricam os mitos.
Alíás, o mesmo vale para a(s)Mona Lisa.
Obrigada por esta tua blogada calorosa (nos dois sentidos)
arrico chassot
Amigo Chassot,
Excluirparece que nós, seres humanos temos uma insaciável sede de consumir ídolos, não importa a época em que vivemos. Nossa criticidade é que nos desacomoda.
Um abraço.