TOCAR A
LEMBRANÇA
Nº 519
Após o almoço comecei a escutar o vento passando entre as construções. Não se
tratava de vento forte. Não era uma brisa. Um vento de outono passeando entre os
edifícios.
Marcava o ambiente com rastro palpável, na forma de som. A viagem do vento
tocou meu espírito. Inconscientemente peguei carona nas tortuosas andanças. Numa
esquina, antigas imagens que apareceram na face de lembranças. Quando criança,
me perdia ouvindo o vento galopar às coxilhas, roçando a relva ou deitando
arbustos.
Tudo muito rápido. Cavalguei sessenta anos ou mais, numa fração de tempo. As
imagens de um guri campesino brotaram vivas. Repletas de cores, de sons, de
aromas. Épocas vividas, carregadas de expectativas.
Voltei para o agora. Percorri a trajetória. Comparei com os sonhos de
menino. Coisas foram assim. Outras não chegaram nem perto. Umas eram planos. Outras,
histórias de cores, de sons e de aromas. Encheu o peito uma sensação de
bem-estar. Senti satisfação por estar aqui e poder tocar a lembrança!