terça-feira, 31 de maio de 2011

A JANELA

Um dia desses andava com uma porção de coisas me preocupando. Sentia que a mente não conseguia se concentrar naquilo que era necessário. Conversei com colegas, falei com amigos, troquei e-mail com algumas pessoas, mas nada foi eficiente o necessário. Já começava a ficar preocupado, pois os “problemas” parecem que cresciam mais do que a capacidade para enfrentá-los. Acho que as preocupações acabam por sufocar nossa capacidade de criar alternativas. O resultado de tudo isso é que a gente não consegue avançar e nem retroceder.

Pensei, pensei e quase não encontrei solução. Foi aí que me apareceu uma janela diante da mente: procurar um lugar a sós. Foi o que fiz. Acabei fazendo um retiro solitário no qual comecei a colocar em ordem, todas as coisas que povoavam minha mente. Assuntos de trabalho para um lado, assuntos de finanças para outro, questões de família para outro lado. Depois, paulatinamente fui pensando alternativas para cada conjunto de problemas ou de dificuldades. Não demorou muito, consegui ter diante de mim um quadro amplo de todas as coisas que me preocupavam. Retomei cada situação, dentro do seu conjunto e fui estabelecendo alternativas de solução. É bem verdade que, pela mente não consegui resolver os problemas, mas estabeleci as possibilidades, vislumbrei saídas, planejei condições.

Para falar a verdade, não sei dizer quanto tempo durou o meu retiro espiritual. Até porque nessas horas, o que menos importa é o tempo cronológico. O que vale, são os caminhos que a gente encontra. Ao retornar para a dimensão de realidade recobrei as energias, organizei as estratégias e parti em busca dos encaminhamentos para cada uma daquelas questões que estavam me atormentando.

Pois é, nem sempre nos damos conta de que necessitamos de um momento de meditação. É necessário, vez por outra, parar, reorganizar as dificuldades e encontrar energias para colocar em prática os planos encontrados. São nossos momentos a sós, instantes de meditação... nossos espaços de oração.

Uma boa terça-feira para todos(as)!

segunda-feira, 30 de maio de 2011

DE VOLTA DO FUTURO

Ontem, domingo, quando me levantei fui pego, de súbito, por uma situação inusitada. Enquanto fazia a minha higiene matinal liguei o rádio para acompanhar as primeiras notícias do dia e me atualizar em relação à temperatura ambiente. Uma das principais emissoras de rádio da cidade estava transmitindo o que parecia ser uma síntese dos últimos acontecimentos e anunciando a agenda do que iria acontecer. De repente, a título de agenda, o locutor anunciou que na tarde do próximo sábado, haveria um grande acontecimento esportivo, o seja, a partida de futebol entre o Manchester United, da Inglaterra e o Barcelona, da Espanha, pela decisão da Liga dos Campeões da Europa.
Como recém havia acordado desconfiei da minha vigília e agucei o ouvido. De fato, o locutor estava anunciando o maior evento da agenda esportiva. Interrompi a escovação de dentes e saí do banheiro para confirmar, de alguma maneira, em que data estava vivendo. Afinal de contas, o referido jogo tinha acontecido na véspera – como poderia ser anunciado como agenda, para o próximo sábado? Estava acontecendo algo muito estranho. De duas uma: ou a emissora de rádio havia se enganado ao acionar um arquivo antigo, ou eu estava vivendo no futuro, um dia à frente?
Confesso que, por um instante fiquei em dúvida. Contudo, na medida em que o boletim era divulgado, com diversos fatos já acontecidos, me dei por satisfeito: a emissora estava errada.
É estranho e ao mesmo tempo intrigante. Parecia que o tempo ainda não havia chegado e eu já conhecia o que iria acontecer “amanhã”. A reflexão é quase instantânea. Consigo saber agora o que ainda ninguém pode conhecer. Milhares de obras de ficção foram produzidas pelo ser humano e inúmeras experiências foram tentadas para que alguém pudesse avançar além do tempo do agora. A misteriosa sensação de estar no futuro, mesmo que isso não tenha acontecido de fato, produz no ego de todos nós, uma dimensão de poder indescritível. Essa sensação proporciona ao sujeito, a possibilidade de dominar o futuro que ainda não nos pertence. Com ela, conseguimos estabelecer conexões com o imaginário historicamente real. O jogo já havia se realizado e já se conhecia o resultado final. Se estivesse no futuro, poderia anunciar os próximos eventos, não como quem faz previsões, mas como quem tem certeza de que assim será. Nossa mente está acostumada a viajar entre o passado e amanhã, mas tudo na dimensão imaginária. Poder realizar, de fato, esse passeio representa uma sensação indescritível, ainda que tenha durado apenas alguns segundos.
Pois bem, hoje é segunda-feira e aqui estou de volta do futuro, mas apenas por um erro da emissora de rádio.
Boa semana para todos(as)!

domingo, 29 de maio de 2011

TRUFAS



Seguidamente, minha esposa e eu almoçamos num buffet, que serve comida por quilo. No preço da refeição está incluída uma sobremesa. Sempre que vamos acertar a conta, me sinto diante de um dilema: bem próximo ao caixa há um ‘cesto de tentações’. Trata-se de um pote cheio de tentadoras trufas de chocolate. São graúdas, cuidadosamente enfeitadas com chocolate branco, dotadas de um aroma irresistível. O que é pior – o preço é convidativo.  Se você, ao ler esta descrição, já está com água na boca, imagine eu, que tenho que passar por este sacrifício diariamente?

As nossas tentações nunca são por coisas ruins. Quando o Senhor estava no deserto (Mt 4.1) o objeto de tentação foi o poder. São os nossos desejos mais ardentes que se interpõem entre a nossa vontade e a vontade do Deus. O Reino de Deus é construído pelas pessoas que são capazes de renunciar alguns desejos e resistir ao ‘sabor’ da tentação. Este Reino é feito por gente que assume compromissos e faz sua parte com responsabilidade. Quem, por causa desse Reino resiste à sedução dos ‘caminhos fáceis’, dos ‘atalhos da vida’ consegue perceber o quanto Deus o abençoa. Às vezes determinadas realizações comunitárias e pessoais podem demorar mais. Quando chegam, enchem a Deus de alegria.

Ninguém, ao ser tentado, diga: Sou tentado por Deus; porque Deus não pode ser tentado pelo mal e ele mesmo a ninguém tenta. Ao contrário, cada um é tentado pela sua própria cobiça, quando esta o atrai e seduz.  (Tg 1.13-14)




sábado, 28 de maio de 2011

O ANDARILHO

Ontem, enquanto tomava o meu chimarrão da madrugada ouvia o rádio, como sempre faço todos os dias. Enquanto um repórter fazia o registro que havia uma pessoa deitada sob um viaduto, de uma grande rodovia da região metropolitana de Porto Alegre, outro jornalista fez um comentário, que me chamou a atenção. Disse ele ao repórter: “seria interessante verificar se se trata de um andarilho ou de outro tipo de pessoa.”
Aqui não cabe censura ao comentarista, mas essa expressão me fez refletir. Como a sociedade classifica o andarilho? Caso fosse um andarilho não mereceria a atenção e o cuidado que se deve dispensar às demais pessoas? É possivel fazer uma distinção entre andarilho e “outro tipo de pessoa”? Onde deveria ser colocado o ser pessoa do andarilho? Deveriamos pergunta se o andarilho é um ser humano, como se pressupunha que seria o “outro tipo de pessoa”? Qual é a importância que a sociedade, representada por aquele comentarista, atribui ao humano daquele ser humano, denominado “andarilho”?
O impressionante é que facilmente nos acostumamos com “classificações” do ser humano. Assim, uns são andarilhos, outros são bêbados, outros ainda são bandidos e outros, drogados, etc. Dentro de todos essas classificações não há um ser humano, dotado de uma particularidade à qual denominamos “humano”? Quem seriam os humanos que deveriam ser tratados como “outro tipo de pessoa”? É como se fosse possível fazer uma distinção assim: esse é mais humano, e por isso merece uma atenção maior do repórter. Aquele, como é andarilho, deixa ali... tanto faz... ele é um andarilho mesmo! Será que alguém tem em sua carteira de identidade escrito “Andarilho”?
Além de outras tantas dúvidas que tenho, e ela são tantas, fico em dúvida se não estamos nos embrutecendo por causa dessa vida agitada, cheia de compromissos, repleta de notícias horríveis, plena de tragédias enormes, etc. O humano que “resiste” dentro de cada um(a) não estaria se esfacelando e quem sabe já não estamos cedendo, como diz aquela música, “que a dor não me seja indiferente”[1]!
E se fosse um andarilho, o reporter não deveria confirmar suas necessidades, suas dores, seus lamentos, e encaminhá-los, como faria se fosse “outro tipo de pessoa”?
Um bom sábado e boa reflexão!

[1] Eu só peço a deus, de Beth Carvalho.


sexta-feira, 27 de maio de 2011

O LÍCITO

O que é lícito? O que é ilícito?
O maior questionamento do ser humano, em todos os tempos, é sobre a legitimidade de suas ações. Sobre esta questão, muitas palavras têm-se gastado. Quem sabe, quilômetros de papel já foram escritos para justificar as mais diferentes teorias a respeito.
Jesus nos confronta com questões éticas deste tipo. Com a finalidade de justificar nossas atitudes, julgamos o certo e o errado. Mas quem é, de fato, o genuíno juiz? De que lado deve estar a lei? Quando é que podemos fazer alguma coisa que é contra a lei?
O Senhor levanta um argumento inconteste: quando a vida está em jogo! Para Deus, a vida humana é uma preciosidade que deve ser defendida de todas as maneiras. Só a sua defesa (com respeito às demais vidas), justifica os meios. Neste contexto, tudo o que demanda contra a vida é motivo de abominação e luta – a fome, a sede, o desamparo, o desrespeito, a indignidade, etc.
Apanhar espigas no sábado é justificado pela fome dos discípulos. O que mais seria permitido desde que seja em defesa da vida humana?

Por aquele tempo, em dia de sábado, passou Jesus pelas searas. Ora, estando os seus discípulos com fome, entraram a colher espigas e a comer. (Mt 12.1)


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Familiares e amigos acompanham
enterro de extrativistas no Pará.

“Familiares e amigos acompanham nesta quinta-feira o enterro do casal de extrativistas José Cláudio Ribeiro da Silva e Maria do Espírito Santo da Silva no cemitério da Saudade, em Marabá (PA). Eles foram mortos anteontem em Nova Ipixuna (481 km de Belém).
Uma manifestação de movimentos sociais, familiares e amigos do casal morto paralisou um trecho da BR-155, em Marabá, e impediu a passagem de um trem da Vale. A ponte do rio Tocantins, bloqueada desde as 5h desta quinta-feira, foi liberada somente às 10h.
A ferrovia, que passa no meio da ponte, foi interditada por um pneu queimado. Segundo a Polícia Militar, o trem da Vale que seguia no sentido Carajás-São Félix do Xingu teve de retornar.
Ontem, representantes de órgãos públicos disseram desconher ameaças de morte aos líderes extrativistas.
A Secretaria Estadual de Segurança Pública, a Ouvidoria Agrária --ligada ao Ministério do Desenvolvimento Agrário--, o Ibama e o Incra afirmaram não ter registros anteriores de denúncias.”

Familiares e amigos acompanham enterro de extrativistas no Pará. Disponível: http://www1.folha.uol.com.br/poder/921348-familiares-e-amigos-acompanham-enterro-de-extrativistas-no-para.shtml acesso em 26 maio 2010.

A pergunta que permanece para todas as pessoas que sonham com uma nação livre e justa é sobre quando esse mar de sangue irá secar? Até quando teremos que ler essas notícias em nossos informativos?

 



quinta-feira, 26 de maio de 2011

O PARADOURO



Semanalmente, entre quarta e sexta-feira, troco a foto que ilustra esse blogue. Sempre tenho apresentado fotos bonitas, que inspiram como a lua cheia (última semana), pôr-do-sol, lavouras, etc. Hoje estou fixando uma foto bem diferente, uma parada à margem da estrada.

É preciso explicar os motivos que me levam a essa mudança. A foto que coloco na parte superior do blogue, à direita, tem a finalidade de ser um estímulo, que tanto pode ser de inspiração como de reflexão.

A foto de hoje é de um paradouro, que originalmente definia o lugar onde o gado passava a noite[1], mas que contemporaneamente tem sido definido como qualquer lugar onde se para um período de descanso.

A viagem, seja em qualquer tipo de transporte, sempre resulta em fadiga. Quando essa viagem é terrestre, há a possibilidade de uma pequena parada, em locais apropriados, ao longo da estrada.

A viagem desestabiliza nossa condição existencial. Perdemos nosso tópos de origem e com isso, nos distanciamos das referências comuns: saímos de nossa casa (domus = domicílio) e com isso, os cenários se modificam exigindo da consciência, um trabalho (lavor mental) extra para apreender novos cenários. Como quase sempre nos sentimos ameaçados pelo “novo”, a consciência necessita de esforço para identificar elementos comuns aos cenários originais (casa, cidade, estado, país). No mesmo sentido, também há necessidade de esforço para identificar elementos culturais comuns na forma dos grupos humanos organizarem suas vidas (costumes, hábitos sociais, culturas, crenças).

Praticamente não nos damos conta, mas enquanto avança a viagem, a nossa mente vai processando milhares de informações que, somados ao desconforto físico de quem “sacoleja” num veículo, acarreta uma fadiga além do comum. É nessa circunstância que aparece o paradouro com uma porção de ofertas destinadas a recobrar nossas energias. A velocidade desaparece, o cenário para, acontecem identificações de elementos comuns e de lambuja, pode render um suco, um refrigerante, uma rapadura, etc. O paradouro é o lócus do restabelecimento. Nele sentimos que a vida está pulsando normalmente, o mundo está seguindo sua trajetória regular, ou seja, um giro em torno de seu eixo em mais ou menos vinte e quatro horas, as pessoas do lugar podem ser diferentes, mas humanos como nós, etc. Juntamente com a parte física, nossa mente também se acomoda novamente. A consequência, natural é a sensação de descanso.

Nem sempre damos o devido valor aos paradouros, mas são eles que acolhem com segurança o corpo e a mente cansada pelo desconforto de mudar rapidamente de cenários.

Que tal uma paradinha, agora!



[1] DICIONÁRIO eletrônico Houaiss.

quarta-feira, 25 de maio de 2011

DISPUTA DE ESPAÇO


Tenho procurado, semanalmente, oferecer aos meus visitantes/leitores(as) deste blogue, um pequeno vídeo, sobre o qual aponho um poema ou uma reflexão. Não sei até quando conseguirei cumprir isso, mas enquanto houver possibilidades, o farei.

Nesta semana estou retornando com um vídeo sobre os biguás da Lagoa do Violão, em Torres, RS. Confesso que, refletindo sobre a forma de vida desses pássaros, tenho aprendido muitas coisas, bem como estabelecido relações entre a vida animal e a vida civilizada. Observem o som de um passarinho silvestre, que todas as manhãs do verão, acompanha o meu chimarrão matutino. Entendo que uma das identidades do humano, do ser humano, é ser aprendiz. Assim me parece, pois quando cessamos de aprender também desistimos de viver.

A reflexão, que desejo trazer hoje, é sobre a maneira como os biguás se relacionam entre eles. Ao cair da tarde, todos eles levantam vôo e desaparecem. No romper da aurora, retornam em bando, fazem uma pescaria rápida (parece um desjejum) e depois tomam lugar sobre as hastes. No campo da ornitologia me considero um analfabeto, mas observando essas aves, durante o verão, percebi que travam uma disputa constante pelos espaços mais privilegiados. Para conseguirem o lugar desejado, se lançam, com agressividade, sobre os outros biguás que já estão pousados. Quando todos parecem já estarem acomodados, de repente, um novo bando se aproxima e a disputa começa novamente. Depois de diversas trocas, as aves finalmente se acalmam e repousam (dormem) até o final da tarde.

Na minha reflexão sempre me pergunto: nós aprendemos com os biguás ou elas aprenderam com os humanos. Confesso que fico incomodado com as atitudes dessas aves até porque não entendo o seu mundo. Fico incomodado porque essa mesma atitude, entre os humanos, me incomoda demais. Conversando com uma pessoa de certa cidade do nosso país, ela falou que lá, o correto é sempre dar uma “rasteira” no colega, no amigo, no companheiro(as). A filosofia de vida que rege as relações da maioria daqueles cidadãos(ãs) é sempre tirar vantagem em tudo e sobre todos.

Certamente os biguás não conseguem desenvolver um processo civilizatório – esse não é o mundo das aves. A questão não é dirigida aos biguás, mas aos cidadãos(ãs) daquela cidade (e de outras tantas paragens): onde fica a civilização? Que me perdoem os que pensam diametralmente ao contrário, mas considero um ato de selvageria utilizar artimanhas da inteligência humana para roubar o espaço que foi conquistado por outra pessoa.

Uma boa quarta-feira para todos(as).

terça-feira, 24 de maio de 2011

O HUMANO [2] do ser humano

Ontem trouxe o assunto do respeito ao ser humano nos estacionamentos dos shoppings. Hoje quero te convidar para continuar refletindo sobre esse assunto que, nos tempos contemporâneos, tem ficado em segundo plano. Por vezes, esquecemos que dentro de cada pessoa existe um ser humano. Com facilidade somos tratados como números, portadores de cartões de créditos, clientes, torcedores, fiéis, associados, admiradores, etc., mas por trás de todos esses tratamentos se esconde uma forma obscura de tratamento consumista. Não está em questão o humano, do ser humano que somos.

Com a mesma facilidade com que somos tratados assim, como coisas, também nos acostumamos com essa cruel forma de sermos enxergados. Parece que a aceitação dessa (des)humanidade nos é cômoda. Consumidor aqui, cliente preferencial ali, fiéis acolá... e assim vamos tocando a vida.
Mas a que tipo de vida estamos nos referenciando. Essa que nos mede pelo potencial do nosso cartão de crédito ou a que percebe o nível de realização humana que experimentamos? A que nos procura, pelo telefone, com o elogio de que “fomos selecionados entre muitos como dignos de receber uma oferta especial” ou a vida que nos permite amar nossa família, no dia-a-dia de cada dia? Aquela que assistimos na TV, nos elogiando porque somos bastante “inteligentes”, capazes de entender a dimensão de uma oferta fantástica ou a que nos permite conversar com o nosso interior enquanto degustamos a companhia de pessoas que dividem seu viver conosco? Da vida que nos transporta para um paraíso silencioso do interior de um carro de luxo, longe dos horrores do tráfego emperrado ou a que nos permite trilhar os caminhos que decidimos construir em nossas vidas? Da que nos diz que se formos fiéis teremos a recompensa merecida no futuro ou a que nos permite sorver a grandiosidade de nossa própria singularidade humana aqui e neste instante?
As promessas de felicidade e de realização estão espalhadas por todos os meios massivos de informação, nos tomam pela direita, pela esquerda, por cima e por baixo, sempre a um preço de oferta de ocasião e nos entregam o produto embrulhado nas frustrações da falta de sentido. Paraísos de "qualidade de vida", de "paz interior verdadeira", são produtos de tele-entrega rápida, quentinha, repleta de generosidades, mas com o gosto amargo do débito em conta.
Necessitamos parar e dizer que o que nos interessa está muito além dessa forma inumana de nos perceberem. Necessitamos dizer que as abundantes e coloridas ofertas da sociedade de consumo são capazes de proporcionar o paraíso e a felicidade apenas para aqueles que dela se alimentam. Necessitamos viver a profundidade do humano que há dentro de cada ser humano e essa tarefa precisa ser da cada um(a).

segunda-feira, 23 de maio de 2011

O HUMANO


Entendo que todo o mundo sente algo parecido com o que senti sábado passado. Minha esposa precisava comprar alguns enfeites para a nossa casa e me convidou para ir ao um shopping. Raramente vamos a esse tipo de estabelecimento, somente mesmo quando precisamos de alguma coisa que a gente não encontra em outro tipo de comércio. Tomamos e carro e lá fomos nós!
Quando entramos no estacionamento, tarefa que já foi uma “briga”, difícil foi encontrar uma vaga. Olha pra cá, olha pra lá, e nada. Circulamos alguns minutos até que, entre carros e pedestres, vislumbramos um lugarzinho, meio apertado, mas com uma boa manobrada, conseguimos estacionar.
Descemos, trancamos o carro e nos misturamos a uma verdadeira “multidão” que caminhava em direção à porta de entrada. É bem aí que desejo fazer o meu comentário. Não sei quantas vagas aquele shopping possui, mas posso assegurar que são milhares de carros. Consequentemente são milhares de pessoas que transitam pelo estacionamento. Lugar para os carros há bastante, mas lugar para as pessoas circularem, não. Os pedestres travam uma perigosa batalha entre carros entrando, carros saindo, pessoas entrando na porta, compradores saindo com carrinhos de supermercado, com crianças, com montanhas de compras, com montanhas de pressa.
Pasmem, não há espaço de circulação segura para as pessoas. Cada um precisa ficar atento para não esbarrar nos veículos que entram ou que saem, sempre muito impacientes, representando que, mesmo num sábado, estão extremamente[1] atrasados.
A máquina, o carro, a mercadoria, o negócio, a divulgação são coisas muito bem valorizadas. Onde ficam as pessoas? O objetivo dos shoppings não seria facilitar para que as pessoas pudessem fazer suas compras com tranquilidade, com segurança, com conforto? Mas por onde elas irão circular? Onde está localizado o humano, do ser humano, em todo esse processo?
Desculpe esse desabafo, para iniciar uma nova semana, mas me senti máquina, comércio, negócio, consumidor, objeto de propaganda e mais outras coisas... menos ser humano!
Um forte abraço, mesmo que digital, mas sempre muito humano!


[1] Palavra da moda atualmente.


domingo, 22 de maio de 2011

A MOEDA ROMANA


Certa vez foi encontrada uma moeda romana muito antiga com a imagem de um boi. Diante do animal havia duas figuras: um altar de sacrifício e um arado. Por baixo, havia a inscrição, “Pronto para ambos!”
É comum pensarmos que a vida do cristão deva acabar-se com um grande ato heróico de dedicação. Muitos apóstolos do Senhor terminaram seus dias no martírio. Alguns foram mortos à espada, outros, crucificados. João, entretanto, segundo a tradição, morreu em avançada idade. Chega-se a falar de cem anos.
Não quer dizer que a morte violenta de alguns seguidores de Jesus foi mais meritória do que a daqueles cuja existência se prolongou. Com certeza o apóstolo João teve que enfrentar uma longa rotina. Uma Igreja insegura, entre erros e acertos, avanços e contradições. Seu sacrifício foi grandemente meritório.
Nem sempre aquelas pessoas que fazem sacrifícios heróicos pela obra do Senhor são as únicas a serem imitadas. Vejo, muitas vezes, aquelas que enfrentam uma ‘vida inteira’, sempre fiéis, um sacrifício bem maior do que aquelas que se atiram afoitamente em determinadas empreitadas.
Ninguém tem o direito de escolher qual tipo de sacrifício o Senhor irá lhe pedir. Temos que estar “prontos para ambos.”

sábado, 21 de maio de 2011

A MULTIDÃO

Saindo da Rua Ramiro Barcelos e entrando à direita na Av. Oswaldo Aranha[1] dei de frente com uma multidão. Já vinha sendo seguido por um enorme grupo de pessoas. Eu, que sou um tanto demofóbico, já começava a ficar inseguro.  As multidões são, para mim, pessoas que se movem sem destino e totalmente à mercê de ameaças. A mente sistemática sempre me cobra certa organização de tudo. Até as pessoas, precisam estar organizadas, até mesmo na rua! Mas como organizar uma multidão, cujas pessoas que a constituem têm interesses diversos e díspares? Como cobrar que as pessoas andem organizadas, umas pela direita, outras pela esquerda? Chego à conclusão que, se quero e necessito conviver em sociedade, especialmente numa metrópole agitada, tenho que fazer um esforço, não há outro jeito. Já me disseram que preciso fazer um esforço para me acostumar.

Estou tentando faz tempo. A cada nova convivência com a multidão surgem questionamentos inquietantes. Um, por exemplo, é sobre a multidão de preocupações que cada pessoa alimenta naquele instante. Será que entre essas pessoas há quem esteja sofrendo um grande drama na sua saúde? Será que está pensando que a sua situação não tem remédio? Será que tem alguém cuja situação de vida afetiva a está levando à beira do suicídio? Será que tem alguém aqui, bem pertinho de mim, que cruza comigo nessa esquina da Ramiro com a Oswaldo[2], não sabe como chegar em casa e enfrentar um drama familiar?

Por outro lado, fico imaginando que, caminhando junto comigo há muita gente que carrega milhares de sonhos, de expectativas que vão se realizar logo ali! Há gente que anda do meu lado e leva consigo o desejo de oferecer o acolhimento para uma pessoa cansada! Deve haver alguém nessa multidão que carrega um presente, não daquelas das propagandas, mas daqueles presentes que se oferecem através de um sincero abraço, um sorriso, um beijo, um calor humano! Deve haver gente, que anda com a gente, apressadamente, que carrega junto a ação nobre da ajuda, do socorro, da acolhida...

Tem horas que fico pensando: será que estou louco por pensar/imaginar todas essas coisas (absurdas?) que povoam a minha mente. Puxa vida, será que sou um lunático, totalmente fora da realidade?

Será que eu já enlouqueci e esqueceram de me avisar? Xi... agora fiquei preocupado! [foto][3]



[1] Vias do Bairro Bom Fim de Porto Alegre, RS, Brasil.
[2] Aqui em Porto Alegre temos o hábito de mencionar o nome das ruas apenas por um termo que, pode ser o primeiro, o do meio ou o último.
[3] Foto: disponível em http://www.google.com.br/imgres?imgurl=http://n.i.uol.com.br/ultnot/album/091221_f_033.jpg&imgrefurl=http://noticias.uol.com.br/album/091221_album.jhtm&usg=__GdLyoXlar-adD35i-WIssg-wV0s=&h=500&w=956&sz=157&hl=pt-BR&start=17&sig2=niA3G5PLYRF6RosScG9Bsw&zoom=1&itbs=1&tbnid=7PegWrqJp_RQ0M:&tbnh=77&tbnw=148&prev=/search%3Fq%3Dmultid%25C3%25A3o%2Bna%2Brua%26hl%3Dpt-BR%26newwindow%3D1%26sa%3DG%26gbv%3D2%26biw%3D1024%26bih%3D465%26tbm%3Disch&ei=ps_WTc7-MsLv0gH9zbTcBw. Acesso em: 20 maio 2011.

sexta-feira, 20 de maio de 2011

O FOGO







De tempos remotos
O fogo cativa
Facilidades
Felicidades
Poder
Conceder.
De fogo sagrado
Santificado
Foi profanado
Na guerra
Enganado
Transformado
Em arma do cão.
Continua importante
Nos tempos de agora
Porque sem demora
Vidas frias
Doentias
São aquecidas
Tornadas sadias.
O fogo sagrado
Trazido pro chão
Na conversa
Diversa
De gente
De irmão.
O fogo ilumina
Cozinha,
Fulmina
Determina
Roteiros
Passeios
Conversas
Conservas
Chimarrões.
O inverno que chega
O fogo aconchega
Amores
Sabores
Agrados.
Acendendo lareira
Pulando fogueira
À beira
Da eira
À beira
Do chão.

quinta-feira, 19 de maio de 2011

MEIA, MEIA-LUA, UM, DOIS, TRÊS!

Olhando para a lua cheia que dominava o céu do hemisfério sul ontem, recordei de um tempo longínquo, repleto de experiências e imagens de convivência social.
Aquele foi um inverno muito frio aqui no sul do Brasil. Meu pai recebeu um telegrama que chegou pelas mãos de um parente distante de minha mãe, avisando que meu avô, na distante (de trem) cidade de Caxias do Sul não passava bem. O ano era 1962. Às pressas, arrumamos as roupas numa sacola e nos tocamos para a estação. Ainda dava tempo para tomarmos o Paulista – um trem que vinha de São Paulo, passava por diversas cidades do nosso Estado, como Cachoeira do Sul e terminava em Porto Alegre. Antes, fazíamos baldeação na Estação Ramiz Galvão, (Rio Pardo) e tomávamos o trem para Caxias. Contei isso só para ilustrar como nessa distante década de 1960, as comunicações e viagens eram bem mais complicadas do que hoje.
Quando chegamos, meu avô já estava bem melhor. Mas as melhores lembranças dessa viagem às pressas foram das brincadeiras com meus primos, no cair da tarde. A preferida era o “meia, meia-lua... um, dois, três!” [1] Juntava uma turma de guris e gurias e nos divertíamos em correrias e discussões intermináveis argumentando que não tínhamos avançados nada. As noites, apesar de frias, eram esplêndidas, iluminadas por uma lua cheia de fazer inveja a qualquer poeta carioca. Foram momentos inesquecíveis de convivência e aprendizado mútuo. No entregar-se e no acolher os outros se estabelecia a rica experiência de viver em sociedade civilizadamente.
Tratava-se de uma brincadeira comum, mas como a gente aprendia com aquilo! O sentido de disciplina, a consideração à ética, a noção de papéis e o respeito às hierarquias. Acrescentando a tudo isso estava a vontade de sempre fazer o melhor dentro de uma competição com regras claras e cumpridas pelos participantes. Desses ensaios da infância/puberdade nascia a construção de caracteres formados, prontos para enfrentar a vida adulta com seus múltiplos desafios.
Diante de nossa época e de nossas possibilidades pode-se dizer: bons tempos!


[1] MEIA, MEIA-LUA, UM - DOIS - TRÊS [RS] Desenvolvimento:  Um grupo de crianças fica sobre a linha traçada no chão, e um outro participante se afasta mais ou menos 20 metros.   A criança destacada, de costas para o grupo, conta rapidamente até um número menor que 10, enquanto as outras correm ou andam em sua direção com intuito de alcançá-la.  Ao interromper inesperadamente a contagem e virar-se para o grupo, aquela que for vista em movimento deve retornar à linha traçada, de onde recomeçará. As demais continuam do ponto em que estavam paradas. O jogo terminará quando uma das crianças chegar àquela que fez a contagem, substituindo-a. [Fonte - MELLO, Alexandre Moraes de.   Título: Jogos populares infantis como recurso pedagógico de EF. . ., Data da publicação: 1985] disponível em: www.escolaoficinaludica.com.br/brincadeiras/estados/ba.rtf Acesso em: 18 maio 2011.

quarta-feira, 18 de maio de 2011

ATALHOS

Ao ler os comentários do meu blog, nessa segunda-feira, encontrei um ditado antigo citado pelo colega Chassot[1]: “Quando tens pressa, não busques atalho!” Esse ditado me fez recordar da infância quando atravessava matas, campos e riachos para conseguir chegar à escola. O fato, que relato aqui, aconteceu no início da década de 1960 e eu cursava a primeira série do ginasial noturno. Minha escola estava há seis quilômetros da casa onde me hospedava para estudar. As aulas encerravam-se às vinte e três horas e eu tinha pela frente uma caminhada de cerca de uma hora e pouco. Era inverno, a noite estava muito escura, chovia e decidi pegar um atalho que me fazia economizar cerca de vinte minutos. O guri já andava cansado, pois como trabalhasse todo o dia numa olaria, uns minutos a mais de sono me faria bem para a empreitada do dia seguinte.
Atravessei a vão da cerca que dava acesso a um mato de eucaliptos e o guri de doze anos se encheu de coragem. Caminhava apreensivo, mas feliz por encurtar caminho. De repente, um som forte e estranho veio de dentro do mato, no meio da escuridão. Confesso que me arrependi mil vezes de ter buscado aquele atalho. Tinha ganhado uma lanterna de pilha e, muito assustado, iluminei a escuridão na direção do barulho. Descobri que se tratava de uma vaca assustada com a minha presença e se levantara rapidamente para correr.
No meio da escuridão deu-se o encontro de dois apavorados: a vaca, com medo de um possível predador que lhe perturbava o sono e o ruminar no meio do mato e eu, com medo dos meus próprios fantasmas de guri, arrependido por invadir uma propriedade alheia para encurtar caminho.
A escuridão é o ingrediente que incendiou os nossos medos. Como de resto, a escuridão sempre provoca medos e produz fantasmas. Nossos dilemas existenciais, situações mal resolvidas, problemas sem solução sempre se transformam em gigantes quando estão envoltas pelo breu[2] da ignorância. Somente quando enfrentamos as diferentes situações, com o conhecimento, como quem tem a paciência de aguardar a aurora com sua luz vivaz, é capaz de perceber que nada é insolúvel. Há sempre uma maneira de encaminhar cada questão e para cada “problema” sempre há uma solução.
Pois é... depois percebi que a vaca se acalmou quando descobriu que era apenas um guri passando e eu... de perna bamba prossegui o meu caminho com mais medo ainda.



[1] Blogue do Mestre Chassot: http://mestrechassot.blogspot.com/
[2] Derivação: por analogia, escuridão ou coisa muito escura. (Houaiss, 2001).

terça-feira, 17 de maio de 2011

VIDA

Dores que me dominam,
cruzes que carrego,
fardos que me pesam
nos mares que navego!

Alento esperanças,
olhando as crianças
que esperam por mim.
Há dias que choro,
sorrio e oro;
a vida é assim!

E faço mil planos:
quero transformar
tanta coisa incerta.
Vão passando os anos,
deixo a porta aberta:
pr'os dias insanos,
já estou alerta!

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Este poema é de autoria do Bispo Isac Aço e publicado no Jornal Expositor Cristo, órgão de divulgação da Igreja Metodista: AÇO, Isac. Vida. Expositor Cristão, São Paulo, p. 17, set. 1976.

segunda-feira, 16 de maio de 2011

DOBRAR À DIREITA

Quando me dirigia para a Igreja, ontem de manhã, tinha planejado um caminho que necessitava fazer uma conversão à direita em determinado momento. Quando cheguei à entrada da rua percebi que ela estava fechada. Havia uma competição sendo realizada na cidade e diversas vias estavam bloqueadas. A alternativa foi seguir em frente até encontrar outra possibilidade de retorno. Essa dificuldade acabou por acarretar uma demora maior para atingir o nosso objetivo, mas o importante foi que conseguimos chegar lá.

Sempre traçamos planos para nossas ações e iniciativas, mas isso não basta para determinar o sucesso de nossas empreitadas. É muito comum a gente tentar cumprir nossos planos a qualquer preço, mas essa atitude normalmente leva à frustração para a concretização dos objetivos. Mais que um bom plano é importante a flexibilidade que possibilita novas alternativas. Sempre tenho colocado para os meus alunos(as) que nunca se vai para uma aula apenas com uma alternativa. A luz pode falta, o equipamento que vamos utilizar pode ter problemas, enfim, sempre há possibilidade de haver alguma dificuldade e é nessa hora que o famoso “plano B” deve entrar em ação.

Dessa flexibilidade depende muito do que temos para realizar. Antes mesmo de se frustrar é necessário acionar a alternativa mais próxima no que se refere a alcançar os mesmos objetivos iniciais. Esses precisam ser buscados com toda a intensidade, pois são eles que justificam nossa ação e a nossa identidade. Precisamos ter em mente que nem sempre o caminho mais curto é o mais eficiente. Competente é o caminho que nos conduz às realizações, sobretudo, às realizações humanas enquanto ser.

Com votos de uma boa semana e o nosso abraço!


Disponível em http://www.vanessalampert.com.br/?p=598 acesso em 15 maio 2011.

domingo, 15 de maio de 2011

O BEM E O MAL

Estou lendo o livro “Em que crêem os que não crêem”[1] recomendado pelo meu querido colega na disciplina História e Filosofia da Ciência, no Centro Universitário Metodista do IPA, [2] Prof. Attico Inácio Cassot [http://mestrechassot.blogspot.com/] e essa leitura me inspirou algumas idéias referentes ao bem e ao mal. Evidentemente que este tema não é uma “novidade” e nem será esgotado neste milênio. Aliás, enquanto o ser humano existir (até quando será mesmo?), haverá esse impertinente questionamento. Até por isso mesmo me aventurei a dar alguns pitacos (acho que esse termo não está dicionarizado, mas o pessoal entende).
Será que o bem está contido no mal? Será que no mal está contido o bem? Certamente o conteúdo da morte está contido no mal, mas poderia o bem estar contido na morte? Seria possível questionar se a morte carrega em si o bem?

Quando desejo o bem de alguém a quem amo, sinto um desconforto ao pensar que esse alguém poderá me abandonar, roubado pela morte. Ainda que continue a conter esse alguém em mim, através da memória, do sentimento de perda, da saudade... ainda assim não poderia mais atualizar a minha relação com ele. Com isso, a dor que sinto é mais do que a dor da ausência – é a dor da impossibilidade de tocá-lo agora.
Percebo nisso que a dor dessa perda é provocada pelo meu desejo frustrado. Quando ele se foi, deixou em mim o vazio da sua ausência, indispensável para que eu pudesse satisfazer o meu desejo de amá-lo em sua presença. Meu amor por esse alguém continuará, mas apenas estará nutrido pela lembrança provocado pela sua não presença.

Dessa forma, o bem que se traduzia no meu amor por ele, converteu-se em mal pelo desconforto provocado por sua morte. No bem que sentia por ele estava contido o mal manifesto no meu egoísmo que o desejava sempre tê-lo comigo. O mal, que tomou conta de mim, provocado pela não presença dele, carrega em si o bem que se manifestou através de sua morte, privando-me de sua presença, mas libertando-o dos limites imposto pelo meu amor e pela existência.

Assim, o bem que desejava para ele, continha o mal que se manifestou em mim pela sua ausência. O mal manifesto no meu egoísmo que tentava aprisioná-lo a mim, se manifestou em bem através da morte que ele experimentou ao se libertar dos limites que o meu amor lhe impunha.

Pois é, o bem está contido no mal e o mal está contido no bem: dependendo de como construímos nossa reflexão sobre os fundamentos do existir.

Um bom domingo de reflexão!

 


[1] ECO, Umberto; MARTINI, Carlo Maria. Em que crêem os que não crêem. Rio de Janeiro: Ed. Record, 2001.
[2] O Prof. Chassot é o titular da cadeira e eu sou colaborador.