sábado, 31 de dezembro de 2011


O FIM

ANO 01 – Nº 295

Pois é, todos estamos celebrando o fim do ano. A questão que se levanta é se há mesmo um fim, de ano. Sabemos que se trata apenas de uma convenção social. Nada mais do que mudar de calendário, de 2011 para 2012, isso na nossa cultura.

Enquanto viajava hoje, ouvia no rádio do carro, uma astróloga falando sobre essa data tão comemorada na festa que costumamos chamar de Réveillon, definido como “um evento que acontece quando uma cultura celebra o fim de um ano e o começo do próximo.”[1], alguma coisa que, em português, quer dizer despertar. Quando ela começou a falar, imaginei que fosse se referir às conjugações dos astros e a influência que exercem sobre a vida dos humanos. Entretanto, sua fala referiu-se muito mais à convenção social que essa mudança representa na cultura ocidental. Fiquei surpreso porque ao invés de enveredar pelo caminho do misticismo, concentrou-se na racionalidade dos eventos que envolvem o fim de ano.

Chamou-me mais a atenção a sua conclusão de que o verdadeiro Réveillon é aquele que acontece todos os dias, em nossas vidas: sempre experimentamos um repetido fim e um sempre novo começo. Juntamos essas percepções num dia simbólico, do calendário, para dizer a nós mesmos, que o fim e o começo são exatamente iguais ao começo e ao fim, porque ambos se colam existencialmente na experiência do cotidiano. Adicionamos a essa festa, promessas e votos que, intimamente, sabemos que valem apenas como componentes de uma festa. Não quero dizer com isso que, votos e promessas de fim/início de ano, não são verdadeiros ou não se destinam a ser cumpridos. Digo apenas que são parte da nossa alegria por celebrar o eterno ciclo do morrer e ressurgir que em nós se faz presente.

Hoje está morrendo um ano e também está ressurgindo outro, diferente e igual àquele que sepultamos no calendário jogado no lixo. Talvez, nossa comemoração não se reporte ao fim e nem ao começo, mas à convicção de que o ciclo se repete para o qual somos convidados a oferecer respostas/alternativas de acordo com as demandas que surgirem no decorrer do novo ano. Não se trata de fatalismo, mas da certeza/esperança de que o Sol se porá a cada tarde e que se mostrará brilhante a cada alvorada. Se um dia perdermos essa dimensão, é melhor procurar ajuda especializada!

DESTAQUE DO DIA

Morte de Wycliffe (627 anos)

John Wycliffe nasceu em Yorkshire na Inglaterra em 1324 (?) e morreu em 31 de dezembro 1384. Foi professor da Universidade de Oxford, teólogo e reformador religioso inglês, considerado precursor das reformas religiosas que sacudiram a Europa nos séculos XV e XVI. Wycliffe se retirou para sua casa em Lutterworth, onde reuniu sábios que o auxiliaram na tarefa de traduzir a Bíblia do latim para o inglês. Enquanto assistia à missa em Lutterworth, no dia 28 de dezembro de 1384, foi acometido por um ataque de apoplexia, falecendo três dias depois, no último dia do ano.

Os escritos dele, em seus seis últimos anos, incluem contínuos ataques ao papado e à hierarquia eclesiástica da época. Na questão relacionada ao cisma da Igreja, com papas reivindicando em Roma e Avignon a liderança da Igreja, Wycliffe entendia que o cristão não precisa de Roma ou Avignon, pois Deus está em toda parte. "Nosso papa é o Cristo", sustentava. Em sua opinião, a Igreja poderia continuar existindo mesmo sem a existência de um líder visível, por outro lado os líderes poderiam surgir naturalmente, desde que vivessem e exemplificassem os ensinamentos de Jesus[2].


[1] ANO NOVO. Disponível em http://pt.wikipedia.org/wiki/Ano-Novo. acesso em 30 dez 2011.
[2] JOHN WYCLIFFE. Disponível em http://pt.wikipedia.org/wiki/John_Wycliffe. Acesso em 30 dez 2011.

sexta-feira, 30 de dezembro de 2011


O LUSTRE

ANO 01 – Nº 294

A gente é muito acostumado com lógica e a procura em todas os acontecimentos. Não nos damos conta de que a lógica, mais do que uma relação entre causa e efeito, é uma forma construída por nós mesmos para entender e explicar a realidade. Enfrentamos um período de seca na região agrícola mais produtora do Rio Grande do Sul e vários dias de chuva no litoral, onde o bom é curtir sol e calor.

Pois é, num desses dias de chuva, na praia, que resolvemos fazer aquelas tarefas de casa que nunca dá vontade. A Ana me incumbiu de tirar os lustres para fazer uma limpeza mais detalhada. Quando retirei o lustre da sala de jantar descobri uma considerável camada de poeira, de um ano de existência, pelo menos. Sabem como é, apartamento de praia fica fechado quase todo o tempo e quando a gente vem, é rapidinho, só para olhar as coisas mais necessárias. A poeira foi se acomodando, o tempo foi passando, a gente olhava para a luminária, ela olhava para a gente, mas não vinha aquela ‘coragem’ e a preguiça acabava vencendo a batalha.

Retiramos o lustre, fizemos uma faxina ‘no capricho’ e recolocamos a peça no seu devido lugar. Quando a noite chegou e ligamos a luz, nem parecia a mesma luminária: em comparação com a noite anterior parecia um dia! Não teve como evitar a exclamação: “como é que a gente não tinha notado antes!”. Pois é, já estávamos quase no ‘escuro’ sem perceber.

Pensando sobre a luminária acabei relacionando com a poeira que se acumula sobre a nossa maneira de perceber e explicar a realidade. Nossas convicções acadêmicas, muitas vezes se formam durante o nosso curso de graduação, quando são novinhas em folha. Partimos para o exercício da profissão e sempre que necessitamos, recorremos àquela antiga posição, tão confortável, de perceber e explicar os fatos, adquirida nos bancos acadêmicos. Acontece que a poeira vai se acumulando e, como dizem os jovens de hoje, “a fila anda!”. Se o nosso curso terminou há mais de dois anos, a gente pode acrescentar pelo menos duas camadas de poeira sobre mente. Assim como aconteceu aqui em casa, a preguiça sempre tenta nos convencer: deixa pra depois, não há nada de novo na tua especialidade!

Ledo engano! Com a globalização e a velocidade da informação contemporânea, meses fazem muita diferença. Mais difícil que antigamente, com a facilidade proporcionada pela rede mundial de computadores, apelidada de ‘internet’, a atualização dos conhecimentos é mais dinâmica, complexa e, em alguns casos, com posições contraditórias. Atualmente, não basta ler um livro, consultar um periódico impresso de vez em quando, para se estar atualizado. É necessário criar alertas sobre novas fontes de informações atualizadas diariamente.

Claro que a velha e confortável preguiça sempre estará ali, de plantão, com uma enxurrada de justificativas: trabalhaste demais hoje, precisas te divertir, tens que dar atenção aos amigos e por aí afora. Tudo isso é verdade e cada pessoa necessita administrar essas coisas. Entretanto, é necessário distinguir isso da preguiça que sempre nos tenta acomodar. Torna-se importante revisar a poeira que se acumula sobre a mente, antes que essa penetre na escuridão do obscurantismo.



DESTAQUE DO DIA

Morte de Alfred Whitehead (64 anos)

Alfred North Whitehead[1] nasceu em Ramsgate, Inglaterra, a 15 de fevereiro de 1861 e morreu em Cambridge a 30 de dezembro de 1947. Foi um filósofo e matemático britânico. Renomado pesquisador na área da filosofia da ciência, principalmente no que diz respeito aos fundamentos da matemática. Juntamente com Bertrand Russell, escreveu Principia Mathematica, livro que foi classificado pela Modern Library como o vigésimo terceiro de uma lista dos cem mais importantes livros em inglês de não ficção do século XX. É também o desenvolvedor da chamada teologia do processo.


[1] ALFRED NORTH WHITEHEAD.  Disponível em http://pt.wikipedia.org/wiki/Alfred_North_Whitehead. Acesso em 29 dez 2011.

quinta-feira, 29 de dezembro de 2011


NÃO É NATAL, NEM ANO BOM

ANO 01 – Nº 293

O dia estava chuvoso e não favorecia um passeio de bicicleta, como habitualmente faço nesses dias de recesso acadêmico. Resolvi adiantar algumas coisas no computador com a expectativa de que mais tarde o sol mostrasse a cara e animasse para algum programa na rua. De repente, comecei a ouvir uma música conhecida. A Ana tinha ligado o rádio numa emissora local que tocava “Só Chamei Porque Te Amo (I Just Called To Say I Love You)”, de Gilberto Gil. Acho que todo o mundo já a escutou em diferentes circunstâncias, mas ontem estava pensando no fim de ano.

Enquanto ouvia a voz do cantor comecei a pensar sobre esse interregno entre o Natal e o Ano Novo, ou como diz o Gil, Ano Bom. É um tempo no qual planejamos/imaginamos o próximo ano com as cores da fantasia e do desejo. Brotam muito mais sonhos do que possibilidades na mente dos humanos. Quem imagina diferente há que se questionar sobre a sua humanidade. Somos levados a construir um ano bom porque nossa mente exige um mundo arrumado no qual haja realizações. Nesta época não pensamos em dificuldades, em fracassos, em derrotas etc. Como diz o poeta, é o ‘Ano Bom’ que povoa a mente até porque somos tomados de um impulso generoso.

Refletindo melhor sobre o tema, percebi que, apesar da letra falar de uma canção romântica de dois apaixonados, ela fala de um telefonema de quem se ama e isso não envolve apenas as pessoas apaixonadas, mas também aquelas que se amam fraternalmente, que são capazes de expressar esse sentimento que sustenta as relações sociais.

Amamos aquelas pessoas que convivem conosco no trabalho, que conspiram nas mesmas lutas, que compõem a mesma fraternidade etc. Mesmo que não seja Natal, nem Ano Bom, nem São João, nem Carnaval e por aí afora, sempre é um dia para dizer àqueles que conosco partilham da mesma caminhada... “eu te amo!”.  Não é difícil descobrir que todo o ser humano necessita ser aceito e quer ter certeza de que essa aceitação é espontânea, sem contrapartida, sem pagamentos, sem preços... A sociedade contemporânea, fundamentada no consumo, acostumou-se a declarar sua afeição apenas àquelas pessoas que podem lhe retribuir com alguma coisa, mas essa declaração não contempla a aceitação... apenas um negócio. Querer bem, e declarar isso, faz parte do humano que em nós habita.

Como hoje, 29 de dezembro, não é Natal, nem Ano Bom, quero falar da minha afeição às pessoas que têm me acompanhado nesse blog, têm lido e apreciado as reflexões, quem tem discordado e criticado o seu conteúdo, que têm comentado as ideias e mensagens aqui postadas. Não sei quantas são, nem conheço suas faces, mas fazem parte dessa comunidade virtual que me visita digitalmente.

Se dispuser de tempo, confira o vídeo:

[http://www.youtube.com/watch?v=RyTYqHzTtfA&feature=youtube_gdata_player].


DESTAQUE DO DIA

Nascimento de Portinari (108 anos)

Cândido Portinari[1] nasceu em Brodowski, SP, a 29 de dezembro de 1903 e morreu no Rio de Janeiro a 6 de fevereiro de 1962. Foi um artista plástico brasileiro. Portinari pintou quase cinco mil obras, de pequenos esboços e pinturas de proporções padrão como O Lavrador de Café à gigantescos murais, como os painéis Guerra e Paz, presenteados à sede da ONU em Nova Iorque em 1956 e que em dezembro de 2010, graças aos esforços de seu filho, retornaram para exibição no Teatro Municipal do Rio de Janeiro. Portinari hoje é considerado um dos artistas mais prestigiados do país e foi o pintor brasileiro a alcançar maior projeção internacional.




[1] CÂNDITO PORTINARI. Disponível em http://pt.wikipedia.org/wiki/Candido_Portinari. Acesso em 28 dez 2011.

quarta-feira, 28 de dezembro de 2011

PARECE UM ANIMAL

ANO 01 – Nº 292

A tarde ainda não havia chegado à metade. Precisei comprar um remédio na farmácia próxima da minha casa. Calcei um par de chinelos e sai rua afora. Na metade do caminho tive que atravessar uma praça onde encontrei dois guris, de uns sete ou oito anos brigando: coisas de guri! De relance, escutei um diálogo curioso, mas muito usual. Um disse para o outro: “tu parece um animal!”.

Continuei meu caminho, mas agora com um novo questionamento na mente: pode haver um lado humano nos animais? Todos sabemos que o ser humano é um animal, um animal capaz de tomar decisões com base em dados arquivados na memória. Chamamos a essa capacidade de raciocínio e dessa forma nos diferenciamos dos demais animais a quem não reconhecemos esse nível de raciocínio. Entretanto, aquele diálogo ríspido dos meninos da praça despertou em mim a curiosidade sobre o outro lado da moeda. Se há um lado animal no homem pode haver um lado humano no animal? Confesso que nunca tive a curiosidade despertada para essa dimensão.

Não é minha intenção aqui desenvolver um tratado sobre o assunto, mas levantar algumas questões interessantes. Em primeiro lugar é necessário identificar o que é humano no ser humano. De outra sorte, é preciso identificar nos animais algumas dessas características. Vejamos algumas coisas sem a preocupação de fazer uma listagem completa.

A primeira capacidade humana que me vem à mente é a de amar. Será que o cãozinho de estimação, que é capaz de matar um passarinho no pátio, mas que se enrosca comigo no sofá da sala sem me causar nenhum ferimento, é uma demonstração de amor? O gatinho lá de casa que afia as unhas no cabo da vassoura, preparando-se para o ataque a algum inseto ou até mesmo a um camundongo, mas que rosna dormindo no colo da minha filha tem capacidade de amar?

Outra capacidade que considero parte do humano, que em nós habita, é a lealdade. Essa ficou fácil. Tinha um cão, na minha meninice, que pastoreava o gado junto comigo. Para todo o lado que eu saía ele era o companheiro de sempre. Lembro de certa vez que o cavalo disparou comigo e acabei caindo. O cavalo se foi, mas o ‘Negrito’ permaneceu ali, junto comigo, até que eu pudesse me erguer novamente.

Não sei dizer se há um lado humano nos animais, especialmente se sairmos do nível dos animais de estimação. Mas uma coisa eu tenho quase certeza: se os animais conseguissem falar, num momento de disputas e de lutas ferozes, acho que eles diriam uns para os outros: “tu parece um humano!”.

DESTAQUE DO DIA

Dia do salva-vidas

Salva-vidas[1], ou é a pessoa que tem o escopo de evitar afogamentos e assim preservar a vida de quem se vê envolvido em uma situação crítica no mar, em rios ou piscinas. Em muitas cidades litorâneas, há salva-vidas em praias mais frequentadas e/ou perigosas, para pronto atendimento aos banhistas ou para avisar dos riscos provocados por animais como águas-vivas ou tubarões. A vigência do serviço pode ser permanente ou restringida à época de veraneio. A formação de um salva-vidas deve ser completa: nadar muito bem, ter conhecimento das técnicas de respiração e massagem cardíaca, oceanografia, cuidados com o banhista e agilidade nas ações de prevenção e salvamento, onde segundos tornam-se preciosos.


[1] SALVA-VIDAS. Disponível em http://pt.wikipedia.org/wiki/Salva-vidas. Acesso em 27 dez 2011.

terça-feira, 27 de dezembro de 2011

É PROIBIDO

ANO 01 – Nº 291

Não sei se já percebeste, há certas coisas que parecem que se autoregulam automaticamente. Quer dizer, parece que.  Na década de 1990 trabalhei na administração de uma instituição de pequeno porte que mobilizava uma população de cerca de vinte e cinco alunos mais alguns poucos professores. A estrutura administrativa era resumida, enxuta ao máximo para caber dentro do orçamento mensal.

Certo dia um aluno veio me inquirir porque ele não podia permanecer estudando dentro de uma das salas de aula que estavam vazias no turno inverso. Surpreso, perguntei por que ele já não estava fazendo isso. A sua resposta foi mais surpreendente ainda: “disseram que é proibido!”. Como se tratava de uma instituição pequena, até o Regimento era mínimo, apenas com algumas diretrizes gerais. Não havia nada a respeito daquele tipo de proibição. O aluno não quis me dizer quem o havia informado, mas logo me veio uma certeza: alguém se encheu de poder além da conta e passou a ditar ordens sobre permissões e proibições. Precisei convocar uma reunião geral e esclarecer os limites de cada um.

Já ouvi, não lembro de quem, que se a gente quer conhecer o caráter de uma pessoa é só lhe dar algum poder. Se há alguma coisa que inebria o ser humano é o poder. Entendo que até mais do que o dinheiro, o poder é capaz de transformar uma pessoa tranquila e boa num chefe autoritário e petulante. Transformar não é bem a definição. Melhor seria ‘revelar’. Com muita facilidade, boa parte das pessoas confunde atribuição com gestão. Para que uma engrenagem institucional funcione adequadamente, é necessário dar alguma autonomia para que os processos se desenvolvam. Entretanto, muitas pessoas entendem essa autonomia com autoridade e logo passam ao autoritarismo. Essa não foi a única vez que precisei intervir para esclarecer limites. Logo as pessoas esquecem e ‘metem os pés pelas mãos’. O pior de tudo é que isso sempre acaba criando confusões e desgastado relações profissionais e humanas, indispensáveis ao bom funcionamento de qualquer organização.



DESTAQUE DO DIA

Darwin embarca no Beagle (180 anos)

No dia 27 de dezembro de 1831, Charles Darwin embaçou no HMS Beagle<!--[if !supportFootnotes]-->[1]<!--[endif]--> para dar a volta ao mundo. O barco foi um brigue de 10 peças da classe Cherokee, que, ao serviço da Marinha Real Britânica, empreendeu três viagens de exploração, incluindo uma viagem de circum-navegação com o objetivo de explorar as terras e mares por onde passasse. Aquela viagem (a segunda que o navio fez) foi celebrizada pelos resultados obtidos por Charles Darwin, então um jovem naturalista que seguia a bordo como coletor e consultor científico da expedição. O navio terminou seus dias como posto de vigia de combate ao contrabando num estuário do oeste da Inglaterra, sendo em 1870 vendido para ser desmantelado. O nome Beagle é uma referência à homônima raça de cães.
<!--[if !supportFootnotes]-->

<!--[endif]-->
<!--[if !supportFootnotes]-->[1]<!--[endif]--> HMS BEAGLE. Disponível em http://pt.wikipedia.org/wiki/HMS_Beagle. Acesso em 26 dez 2011.

segunda-feira, 26 de dezembro de 2011

Doze e vinte e sete

ANO 01 – Nº 290

O estômago estava dando sinais de que a hora estava chegando. Olhei no relógio, eram doze horas e vinte e sete minutos. Passei a mão na carteira e convidei o pessoal: “vamos almoçar!”. Não precisou falar duas vezes e todo o mundo estava em pé, junto à porta, com aquele ar de “vamos duma vez!”.

Fechamos a porta do apartamento e saímos animados, comentando o que pretendíamos comer. Acontece que na região onde estávamos há uma diversidade de restaurantes, com buffet a quilo que servem refeições de boa qualidade a preços razoáveis. Conversa para lá, conversa para cá, ao colocarmos o pé para fora do edifício já tínhamos decidido onde iríamos almoçar. O estabelecimento ficava a duas quadras, e para chegar lá, necessitávamos passar diante de mais dois estabelecimentos do gênero.

Quando passamos pela frente do primeiro, dois garçons saíram em nossa direção tentando nos convencer: “podem entrar, vinte e três e noventa ao quilo, tem cinco tipos de grelhados, saladas, sobremesas, pratos quentes...” antes dele se estender no discurso marqueteiro, respondi com um “muito obrigado!” e passamos de largo.

Depois do almoço fiquei pensando com os meus botões: caso a comida fosse tão boa assim como marqueteava o garçom, ele não precisaria constranger os passantes com tanta propaganda. Lembrei de um ditado que ouvi de minha mãe: “quando a oferta é demais até o santo desconfia!”.

Exatamente, o limite entre a divulgação e o constrangimento é sempre um desafio. Divulgar as virtudes, sejam pessoais ou das organizações, é quase um dever, mas fazer dessa ferramenta uma forma de exibicionismo pode ser prejudicial, tanto para quem promove a divulgação quanto para quem é envolvido por ela. Por trás dos exageros sempre se esconde um tanto de inverdades que são prejudiciais à sociedade como um todo.

Na maioria das vezes, quando a propaganda é demais, sinaliza que há algo de errado com quem faz a divulgação ou com o produto que está sendo anunciado. Como nem tudo o que reluz é ouro, melhor mesmo é ficar com um pé atrás diante de grandes arroubos de propaganda.

Quer saber de uma coisa, não vou entrar naquele restaurante. Como dizem por aqui, acho que estão “vendendo gato por lebre!”.

Com os votos de uma boa segunda-feira!


DESTAQUE DO DIA

Morte de Helvétius (240 anos)

Claude Adrien Helvétius[1] nasceu em Paris a 26 de fevereiro de 1715 e morreu na mesma cidade a 26 de dezembro de 1771, foi um filósofo e literato francês. Influenciado pelas idéias de John Locke e Condillac, Helvétius pretendeu ampliar o empirismo às questões morais e políticas. Considerava que todas as idéias eram apenas afecções dos sentidos, não havendo qualquer faculdade especial de reflexão que fosse distinta das sensações. Essa fonte única de todo conhecimento servia de base para a doutrina ética e social segundo a qual todos os homens eram iguais e teriam as mesmas aspirações. Todos os comportamentos humanos seriam fundamentados no interesse - impulso para a obtenção do prazer e a eliminação da dor. Através da educação, os homens deveriam ser levados a fazer com que seus interesses individuais coincidissem com os interesses da coletividade. Mas para isso era indispensável combater os grandes obstáculos constituídos pelas superstições e preconceitos religiosos, fomentados, segundo Helvétius, pelo egoísmo da classe sacerdotal.


[1] CLAUDE-ADRIEN HELVÉTIUS. Disponível em http://pt.wikipedia.org/wiki/Claude_Adrien_Helvetius. Acesso em 25 dez 2011.