MORALIDADE LÍQUIDA
ANO 01 – Nº 314
Acompanho superficialmente a polêmica sobre um participante do BBB12, envolvido na suspeita de cometer estupro diante das câmeras de TV com cenas exibidas publicamente. Diante do fato, segmentos da sociedade condenam ora o participante, ora o programa, ora canal que o transmite. Percebo que nas edições seguintes o programa alcança índices alarmantes de assistência, quem sabe em busca de outros episódios de semelhante sordidez.
A mesma rede de televisão exibe, noutra data, a perseguição da polícia e a prisão de assaltantes numa praia do Rio Grande do Sul, auxiliada pelas câmeras de vigilância da cidade. É possível acompanhar a maneira positiva como a sociedade tem aceitado a instalação dessas câmeras por estabelecimentos, prédios e ruas das cidades.
Aquilo que foi preconizado no passado sobre a existência de uma sociedade totalmente controlada por alguém com interesses políticos e sob a vigilância permanente de um “grande irmão”, parece se plasmar nesse início do terceiro milênio da era cristã ocidental. Incerta, sobre os benefícios e as consequências maléficas desse novo modelo, a sociedade se divide entre o aplauso restrito e a crítica moderada.
A moralidade contemporânea titubeia entre o rigorismo regulatório da modernidade e a flacidez de costumes proclamada por exóticos programas televisivos que moldam a consciência da população atual. Ora aplaude, ora critica atitudes semelhantes como a exagerada exposição da intimidade, seja nos programas de reality show, seja na auto-exposição das redes sociais.
Zygmunt Bauman nos adverte que “o código de ética a toda prova – universal e fundado inabalavelmente – nunca vai ser encontrado; tendo outrora chamuscado muitíssimas vezes nossos dedos, sabemos agora o que não sabíamos então ao embarcarmos nessa viagem de exploração: que uma moralidade não aporética e não ambivalente, uma ética que seja universal e “objetivamente fundamentada”, constitui impossibilidade prática; talvez também um oxímoron, uma contradição de termos.”.[1]
Entre a moralidade preconizada por uma ética universal inflexível e a construção de novos pressupostos de convivência humana, a sociedade titubeia cambaleante aprovando isso aqui e o condenando logo ali, mais ou menos ao sabor de interesses individualistas e pessoais. Percebe-se que conviver eticamente numa sociedade líquida desse quilate constitui um desafio monumental para o ser humano contemporâneo.
Com votos de uma boa quinta-feira!
DESTAQUE DO DIA
Nascimento de Jean-François Revele
Jean-François Revele Paris nasceu em Marselha a 19 de janeiro de 1924 e morreu em Val-de-Marne a 30 de abril de 2006. Foi um filósofo, escritor e jornalista francês, e membro da Academia Francesa de Letras. Embora tenha sido socialista até 1970, Revel foi, até o fim de sua vida, um dos mais acesos críticos do marxismo e das esquerdas na intelectualidade francesa. No seu livro A Grande Parada, Revel procura elucidar os motivos para a sobrevivência da ideologia socialista mesmo após a queda do Muro de Berlim e do fim da URSS.[2]
Meu caro Garin,
ResponderExcluirestamos encerrando Santiago, Gelsa e eu, lendo teu blogue.
Concordamos com a trazida de Bauman na definição de uma moralidade líquida.
Com admiração
attico chassot
Caro Chassot,
Excluirobrigado pelo teu comentário: votos de uma boa viagem pela Cordilheira dos Andes.
Um abraço!