O CAMINHO DAS ÁGUAS
ANO 01 – Nº 309
A reunião encerrou-se pontualmente ao meio-dia. Juntei minhas coisas, ajudei a arrumar a sala, despedi-me das colegas e já estava saindo porta afora quando percebi as embalagens de água mineral que tinham vindo para a reunião. Dispus-me a levá-las para a sala da Coordenadoria. Tratava-se de dois engradados, cada um com quatro litros: um com gás e outro sem gás.
Quando segurei as embalagens, uma em cada mão, uma cena me veio à mente: as intermináveis idas e vindas às fontes de água da casa de infância. Próximo a nossa morada havia dois mananciais. Um que ficava a cerca de uns cinquenta metros e outro mais longe, uns cento e cinquenta metros, quem sabe. Trazíamos água das duas fontes. Da mais próxima vinha a água para cozinhar, lavar a louça, limpar a casa etc. Da mais longe buscávamos água para beber. Minha mãe dizia que a água da fonte mais próxima tinha gosto de barro. Todos os dias abastecíamos um tonel de cem litros e uma talha de sessenta, essa última com água para beber.
Esse exercício solitário de ir e vir às fontes constituía-se num competente momento pedagógico. Além da reflexão que fazia, sobre os diferentes acontecimentos da vida de guri, era nesse vai e vem que as relações eram ruminadas, reinterpretadas e entendidas de maneira diferente. Lembro que muitas brigas entre irmãos e até a forma como era tratado pelo meu pai ou pela minha mãe, eram colocadas em causa nesse ‘pesado’ caminho com baldes de água em cada mão. Nesse processo reflexivo, aprendi a revisitar contextos e considerar formas distintas de conceber castigos recebidos. Creio que foi nesse caminho de baldes e latas d’água que construí a tolerância. A primeira leitura que fazia, de uma ordem imperiosa da minha mãe, tinha um sabor negativo. Quando o submetia à reflexão no caminho das águas, aprendia a reconsiderá-la, pela visão dela. Boa parte das vezes, a minha subjetividade ratificava aquele sentimento. Noutras oportunidades, refazia-o, percebendo que ela tinha toda a razão, especialmente considerando o contexto de uma mãe que precisava administrar uma casa com sete filhos, sua própria mãe e o marido.
Com sabor negativo ou não, foi no caminho das águas que aprendi a olhar o mundo, pelo menos de duas maneiras diferentes. Do exercício subjetivo de colocar o existir em causa novamente, nasceu a disposição de aceitar diferentes possibilidades do existir humano.
Com os votos de um sábado repleto de reflexões!
DESTAQUE DO DIA
Morte de Berkeley (259 anos)
George Berkeley nasceu no Condado de Kilkenny a 12 de março de 1685 e morreu em Oxford a 14 de janeiro de 1753. Foi um filósofo irlandês. Estudou no Trinity College de Dublin, onde se tornou fellow em 1707. Lecionou hebraico, grego e teologia. Por esta época, dedicou-se ao estudo sistemático da filosofia, em especial, o pensamento de John Locke, de Isaac Newton e de Malebranche. Dois anos mais tarde, publicou seu primeiro livro importante: “Ensaio para uma nova teoria da visão”. Em 1710, apresentou seu princípio de que ser é ser percebido (esse est percipi) na primeira parte da obra “Tratado sobre os princípios do conhecimento humano”. Em 1712 publicou “Três diálogos entre Hilas e Filonous” a fim de melhor explicar as concepções propostas na obra anterior. Ao mesmo tempo, Berkeley era ministro da Igreja Anglicana e, em Londres, escreveu uma série de artigos no jornal The Guardian contra os livre-pensadores. Em 1713 abandonou essa atividade e tornou-se preceptor de jovens ingleses que desejavam conhecer a Itália. Viajou para lá, onde permaneceu até 1721. Nesse período, perdeu o manuscrito da segunda parte dos Princípios, que jamais voltaria a escrever. Em seguida, atirou-se à polêmica religiosa, atribuindo todos os males de seu país à incredulidade. Pensando em remediá-los, tornou-se missionário e foi para as Bermudas, onde ficou três anos. Nessa viagem pelo novo mundo, escreveu o Alciphron em 1732. De volta a Londres, escreveu O analista entre 1732 e 1734. Nesta obra, criticava o cálculo diferencial e integral de Newton. Também escreveu Uma defesa do livre pensamento em matemática. Ainda em 1734, é nomeado bispo de Cloyne, na Irlanda. Durante a fome e a epidemia de peste que ocorreram entre 1737 e 1741,Berkeley devotou-se aos doentes, tentando curá-los com água de alcatrão. Sobre o tema, escreveu uma obra chamada Siris, em 1744. Também por esta época escreveu O questionador, onde reflete sobre questões econômicas e sociais. Em 1752, já velho e doente, Berkeley renunciou ao episcopado e se retirou para Oxford, onde veio a morrer. [1]
[1] GEORGE BERKELEY. Disponível em http://pt.wikipedia.org/wiki/George_Berkeley. acesso em 14 jan 2012.
Nenhum comentário:
Postar um comentário