NOVO DE NOVO
ANO 01 – Nº 296
Um verão quente que convidava para um banho de rio. Primeiro de janeiro de 1962, margem esquerda do rio Botucaraí. Minha mãe preparou algumas bebidas artesanais a base de suco de limão. Prendemos as galinhas em uma gaiola, meu irmão arrumou os cavalos para puxarem a carroça e meu pai juntou tudo de que necessitávamos para um ‘acampamento’ à beira do rio. Nossa missão era ajudar a construir um rancho de taipa e sapé para que o tio Ernesto, tia Hilda e o Tomaz (primo) pudessem passar o verão ‘morando’ junto à instalação da bomba de recalque para irrigar a lavoura de arroz.
Enquanto ajudávamos na construção da moradia também nos divertíamos tomando banho e pescando traíras e jundiás. As instalações eram pequenas e por isso precisei dormir sob uma árvore, sobre uns pelegos. A cena que mais me marcou da virada de trinta e um de dezembro para primeiro do ano foi a lua cheia iluminando a mata e o rio. Acordei de madrugada com aquela luz forte prateando as árvores, o rio e os arrozais.
No dia seguinte, mamãe e a tia prepararam um fabuloso arroz com galinha, daquelas aves cevadas especialmente para a ocasião. Ao meio dia, mamãe colocou a mesa sob as árvores, cobriu-a com uma toalha xadrez em branco e vermelho, só usada em ocasiões especiais, com pratos reservados para cada pessoa. Postamo-nos ao redor, ela dirigiu uma oração de ação de graças e serviu o prato de cada um dos filhos e do meu pai. Tia Hilda fez o mesmo com a sua família. Enchemos as canecas com a gasosa artesanal, refrescada na água corrente do rio e comemoramos a chegada de mais um ano novo. Não me lembro de ter comido uma refeição de primeiro de ano, com um sabor tão marcante, como aquela. Ainda hoje consigo sentir o sabor na boca quando me lembro dessa refeição.
Não havia luxo, nem iguarias finas, mas celebramos a fraternidade que havia entre nossas famílias e a possibilidade de ser solidário com meus tios na edificação do rancho que se tornou casa para a família por cerca de dois meses e meio.
Não posso imaginar como são as tuas lembranças de primeiro de ano, mas posso dizer que essas vivências da infância me foram preciosas para compreender o sentido da “fraternidade universal” comemorada na data de hoje. Cedo percebi que ela precisa ter a dimensão do particular para que tome a abrangência global. Hoje consigo perceber o valor da fraternidade no mundo na medida em posso sentir o seu valor na dimensão pessoal.
Feliz Ano Novo são os meus votos para ti, nesse primeiro de janeiro!
DESTAQUE DO DIA
Dia da Fraternidade Universal
Esta data é o Dia Mundial da Paz[1], além de Dia da Fraternidade Universal, sendo assim, um feriado internacional, adotado por quase todas as nações do planeta. Neste dia, tomam posse os presidentes do Brasil e da Suíça, sendo que no caso do Brasil, também tomam posse os governadores, quando há eleições para esses cargos.
A comemoração ocidental tem origem num decreto do governador romano Júlio César, que fixou o 1 de janeiro como o Dia do Ano-Novo em 46 a.C. Os romanos dedicavam esse dia a Jano, o deus dos portões. O mês de Janeiro, deriva do nome de Jano, que tinha duas faces (bifronte) - uma voltada para frente (visualizando o futuro) e a outra para trás (visualizando o passado).
No Egito antigo, 3.750 anos antes de Cristo, a estrela Sirius alinhava-se com a estrela Canopus no rumo Sul ao centro da Via Láctea, exatamente a zero hora sobre as Pirâmides de Guiza.
Muito apreciado Garin,
ResponderExcluirTeu relato enseja quase a sentir o sabor de uma autêntica galinhada de tempos em que não sabíamos que era réveillon.
Assim de novo: feliz ano novo
Attico chassot
Caro Chassot,
ResponderExcluirhá várias coisas do passado que não tínhamos a menor ideia de como eram tratados em outras culturas, até porque a vida no campo é quase sem informações. Mas tinham sabores que não encontramos mais.
Um abraço,
Garin