quarta-feira, 11 de abril de 2012

Racionalidade e mistério - ano 02 - nº 395

RACIONALIDADE E MISTÉRIO
ANO 02 – Nº 395

Partilhamos de uma cultura acostumada à visão cartesiana. Percebemos aquilo que cabe em nossas formas de pensamento. Para cada coisa buscamos uma lógica que dê conta do entendimento da realidade. Não há como fugir dos esquemas do pensamento lógico e para tudo construímos uma narrativa de causa e efeito, no mínimo em nossa mente.

Somos herdeiros da racionalidade e seguidamente nos adiantamos para justificar algum fenômeno com expressões tais como, “é lógico!”, ou “não vejo lógica nisso!”. Como se estivéssemos acorrentados às rochas da Caverna de Platão só entendemos o que faz sentido para a nossa mente. Melhor dizendo, só conseguimos entender aquilo para o qual podemos construir algum sentido.

De outra sorte, os místicos nos falam de uma realidade ilógica. Contam coisas sobre as quais não conseguimos construir sentidos. Como não percebemos qualquer lógica, descartamos aquilo como se fosse algo sem valor. Entretanto, os místicos insistem em tentar nos convencer de que pode haver uma realidade que transcenda a racionalidade. Falam de uma ‘lógica’ diferente que não segue os caminhos do pensamento cartesiano. Estão na dimensão do mistério e, como o próprio termo define, se referem a realidades que transcendem o raciocínio.

Há uma narrativa no evangelho que ilustra esse embate entre a racionalidade e o mistério. É revelador do caminho que o ser humano necessita fazer para passar da racionalidade ao misticismo. Conta que dois homens caminhavam, nas proximidades de Jerusalém conversando sobre as notícias da execução, na cruz, de certo judeu sobre o qual havia grande expectativa de futuro. Enquanto avançam, percebem a presença de mais alguém que se intromete na narrativa deles. O dia termina quando já atingiram uma aldeia para a qual se dirigiam.

Ao fazerem sua refeição vespertina percebem a contradição entre o que vinham conversando e o que ouviam do estranho que se intrometera na viagem deles. O diálogo se reportava à lógica dos acontecimentos da cidade e o estranho apontava para o significado simbólico desses acontecimentos. Falavam da racionalidade e foram surpreendidos pelo mistério.

Quando se dão conta de que a lógica e o mistério não se contradiziam, mas fazia parte da mesma realidade que não conseguiam perceber antes, o estranho não é mais visto. Percebem que o estranho não pertencia ao mundo da lógica, mas pertencia ao mundo deles, só que na dimensão do mistério. Aliás, o estranho nunca existiu na razão lógica do diálogo que faziam no caminho. É por isso que não conseguiam entender o que o ‘estranho’ dizia. Quando ultrapassaram a dimensão da lógica, diante do simbólico alimento, perceberam o mistério do simbólico que cercava os acontecimentos de que narravam.

E aconteceu que, quando estavam à mesa,
tomando ele o pão, abençoou-o e, tendo-o partido,
lhes deu; então, se lhes abriram os olhos, e o
reconheceram; mas ele desapareceu
da presença deles. (Lc 24.30-31)

Com votos de uma quarta-feira de entendimento lógico e místico!
DESTAQUE DO DIA

Dia Mundial da Doença de Parkinson

A doença de Parkinson ou mal de Parkinson, descrita pela primeira vez por James Parkinson em 1817, é caracterizada por uma desordem progressiva do movimento devido à disfunção dos neurônios secretores de dopamina nos gânglios da base, que controlam e ajustam a transmissão dos comandos conscientes vindos do córtex cerebral para os músculos do corpo humano. Não somente os neurônios dopaminérgicos estão envolvidos, mas outras estruturas produtoras de serotonina, noradrenalina e acetilcolina estão envolvidas na gênese da doença. O nome "Parkinson" apenas foi sugerido para nomear a doença pelo grande neurologista francês Jean-Martin Charcot, como homenagem a James Parkinson.[1]


[1] DOENÇA DE PARKINSON. Disponível em http://pt.wikipedia.org/wiki/Doen%C3%A7a_de_Parkinson. Acesso em 11 abr 2012.

2 comentários:

  1. Meu caro Garin,
    não tenho estofo teológico para acompanhar-te Esta passagem de Lucas aprendi como a de OS DISCÍPULOS DE EMAÚS. m Lucas 24:13-35, onde se lê também a expressão “fica conosco, Senhor” (em latim: Mane nobiscum Domine), que inspirou diversos textos, orações e canções.
    Há um quadro lindissimo de Caravagio retratando a cena. Pode ser visto no verbete OS DISCÍPULOS DE EMAÚS da Wikipédia.
    Obrigado por avivares saudades
    attico chassot

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    1. Amigo Attico,
      esta é uma das mais completas e elucidativas narrativas da Ressurreição. Talvez o que nos surpreenda é a transitoriedade do Ressuscitado na cena. Entretanto, a percepção dos discípulos de Emaús representa a que todos os cristãos têm dessa experiência mística.
      Obrigado,
      Um abraço.

      Garin

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