sábado, 7 de abril de 2012

Contradições internas - ano 02 nº 391

CONTRADIÇÕES INTERNAS
ANO 02 – Nº 391

Recebi diversos convites para me aliar a partidos políticos. Nunca os aceitei. Fiz isso não por discordar de suas ideologias. Muito pelo contrário, em diferentes ocasiões trabalhei pelo fortalecimento de um e de outro e fiz campanhas pela eleição de seus candidatos. Entendo que um partido é fundamental para a estruturação democrática do sistema político. Posso dizer que minha militância pastoral se aproximava de algumas ideologias que sustentaram segmentos políticos de alguns partidos.

Sempre recusei os convites pelo entendimento de que, uma vez inscrito e um deles, deveria me manter coerente com todas as suas decisões. Para mim, isso é fidelidade partidária. Um partido necessita pensar em bloco e isso não se adequava a minha forma de pensar. Sempre quis manter minha autonomia crítica inclusive até às posturas religiosas doutrinárias da minha Igreja. Daí, até hoje (e espero que continue assim), nenhum partido político têm uma ficha de inscrição com o meu nome.

Contei essa particularidade minha para falar sobre o sábado de aleluia. Os acontecimentos do Gólgota, monte sobre o qual Jesus foi executado, segundo os relatos evangélicos, revelaram uma contradição interna do Conselho de Justiça, o Sinédrio, que julgou Jesus. Um dos seus vinte e três membros, chamado José de Arimatéia, teria tomado o corpo do morto e sepultado em seu jardim. O relato bíblico identifica a simpatia desse juiz pela pregação do Nazareno. Mesmo sendo um dos participantes do Conselho que havia julgado o propalado messias, abriu seu voto ao encorajadamente procurar a autoridade romana e solicitar o morto para sepultá-lo.

É possível imaginar o drama de consciência de Arimatéia, tendo que assinar a ata do Conselho de Justiça, mas conservando seu coração apertado pela simpatia que tinha pelo condenado. Representava a contradição interna do Sinédrio em julgamentos que implicavam execuções radicais, movidas pelo zelo religioso partidário. Soube, mesmo tendo sido voto vencido, manifestar sua independência de consciência e posição crítica diante de uma maioria apaixonada.

Vindo José de Arimatéia, ilustre membro
do Sinédrio, que também esperava
o reino de Deus, dirigiu-se resolutamente
a Pilatos e pediu o corpo
de Jesus. (Mc 15.43)
DESTAQUE DO DIA

Nascimento de Fourier (240 anos)

François Marie Charles Fourier nasceu em Besançon a 7 de Abril de 1772 e morreu em Paris a 10 de Outubro de 1837. Foi um filósofo e socialista francês da primeira parte do século XIX, um dos pais do cooperativismo. Foi também um crítico ferino do economicismo e do capitalismo de sua época, e adversário da industrialização, da civilização urbana, do liberalismo e da família baseada no matrimônio e na monogamia. O caráter jovial com que Fourier realizou algumas de suas críticas fez dele um dos grandes satíricos de todos os tempos. Propôs a criação de unidades de produção e consumo - as falanges ou falanstérios - baseadas em uma forma de cooperativismo integral e autossuficiente, assim como na livre perseguição do que chamava paixões individuais e seu desenvolvimento, o que constituiria um estado que chamava harmonia. Neste sentido antecipa a linhagem do socialismo libertário dentro do movimento socialista, mas também em linhas críticas da moral burguesa e cristã, restritiva do desejo e do prazer. Neste sentido, foi também em um dos precursores da psicanálise. Em 1808 Fourier já argumentava abertamente em favor da igualdade de gênero entre homens e mulheres, apesar da palavra feminismo só ter surgido em 1837. Entusiastas de suas ideias estabeleceram comunidades intencionais nas três Américas. O Falanstério do Saí em Santa Catarina e a Colônia Cecília no Paraná foram experiências práticas inspiradas por Fourier no Brasil, assim como La Réunion no Texas e a Falange Norte-americana em Nova Jersey, nos Estados Unidos.[1]


[1] CHARLES FOURIER. Disponível em http://pt.wikipedia.org/wiki/Charles_Fourier. Acesso em 7 abr 2012.

4 comentários:

  1. Amigo Garin, mas muitas vezes por uma decisão coletiva, não ficamos de "coração apertado"? Jaime Gross Garcia

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    1. Amigo Jaime,
      de fato, é comum o coletivo cometer erros, e dos piores. A frase a voz do povo é a voz de Deus nem sempre corresponde à verdade. Aliás, na maioria das vezes as decisões coletiva sempre encerram em si, grandes contradições. Do ponto de vista da prática da gestão, ainda é a melhor alternativa.

      Um abraço,

      Garin

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  2. Meu caro Garin,
    pena que Pilatos (até perfunctoriamente no Credo) seja mais lembrado que José de Arimateia.
    Meus votos de alegrias pascais para ti e os teus,
    attico chassot

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    1. Amigo Attico,
      até hoje se discute essa inserção, a nosso ver sem sentido. O José foi muito mais decisivo na narrativa evangélica.
      Um abraço,

      Garin

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