LEITURAS DA ESTEIRA
ANO 02 – Nº 397
Bem cedo fui à academia fazer os meus exercícios diários. Conforme li num livro sobre a terceira idade, depois dos sessenta é imprescindível investir mais na saúde do que antes. Segundo os autores, a perspectiva de uma longevidade estendida requer esforços para que seja de qualidade aceitável. Dessa forma procuro aliar o trabalho físico com o intelectual, sempre acrescentando alguma coisa à mente.
Hoje retomei o livro Falcão[1] numa parte em que o diálogo era sobre a questão da religião e sua relação com o poder. No contexto dos rituais do candomblé, Marcelo questiona o Frei Betto sobre a entrega realizada na liturgia de religiões afro-brasileiras. Reproduzo a seguir, a resposta do F. Betto, que considerei elucidativa:
Tudo é a questão do poder. Em 1971, houve uma reunião de bispos de vários continentes em Roma, e um bispo africano convidou os bispos e cardeais para, à noite – naquela época não vídeo –, ver um documentário sobre a liturgia na diocese dele. No filme em cores aparecia um tronco de árvore com o vinho e a hóstia, uns negros dançando e batucando, e as negras com os seis à mostra, de tanga, todas pintadas, dançando. Um cardeal se levantou: “Isso é um absurdo, é uma infâmia, é uma blasfêmia, não é a liturgia da Igreja!” Aí o bispo africano parou o filme, acendeu a luz e disse: “Pode não ser a liturgia de Roma, mas da Igreja é, porque se nós, africanos, tivéssemos evangelizado a Europa, a essa hora todos vocês estariam de tanga, dançando e cantando em volta do altar.” Isso comprova a dificuldade que as religiões têm de se inculturar.[2]
Quando nos defrontamos com questões relacionadas com ciência e fé, não podemos deixar de lado a questão do poder, pois é isso que determina boa parte dos caminhos do conhecimento. Pelo menos é o poder que determina o quê e por onde deve passar a religiosidade e o conhecimento, seja ele das ciências da natureza, seja das ciências humanas. É também o poder que determina o quê em quem devemos depositar nossa crença. O assustador é que dificilmente conseguimos nos libertar dessas masmorras escravizantes.
Com votos de uma sexta-feira de fé e ciência para todos(as) os leitores(as)!
DESTAQUE DO DIA
Dia no Hino Nacional Brasileiro
O Hino Nacional Brasileiro [http://www.youtube.com/watch?v=7ip3rPMp2js]tem letra de Joaquim Osório Duque Estrada (1870 - 1927) e música de Francisco Manuel da Silva (1795 - 1865). Foi adquirida por 5:000$ cinco contos de réis a propriedade plena e definitiva da letra do hino pelo decreto n.º 4.559 de 21 de agosto de 1922 pelo então presidente Epitácio Pessoa e oficializado pela lei n.º 5.700, de 1 de setembro de 1971, publicada no Diário Oficial (suplemento) de 2 de setembro de 1971.
Hino executado em continência à Bandeira Nacional e ao presidente da República, ao Congresso Nacional e ao Supremo Tribunal Federal, assim como em outros casos determinados pelos regulamentos de continência ou cortesia internacional. Sua execução é permitida ainda na abertura de sessões cívicas, nas cerimônias religiosas de caráter patriótico e antes de eventos esportivos internacionais.
A partir de 22 de setembro de 2009, o hino nacional brasileiro tornou-se obrigatório em escolas públicas e particulares de todo o país. Ao menos uma vez por semana todos os alunos do ensino fundamental devem cantá-lo.[3]
Muito estimado colega Garin,
ResponderExcluirainda ontem reclamava na minha academia a mudança do design das esteiras que deixaram de ter 'um porta missal' ou 'atrilho' e assim não se pode ler ao esteirar.
Na expectativa de nos vermos à noite na aula inaugural dos mestrados, o cumprimento do
attico chassot
Amigo Attico,
Excluirnão é bem um atrilho, mas dá para acomodar um livrou ou uma dissertação e ler, com certo cuidado. O fato de ficar parado, apenas andando na esteira, me inquieta.
Um abraço,
Garin
Desculpem-me, mas peguei o bonde andando... esteiras?
ResponderExcluirMas, enfim, vim aqui, após a resposta do post de sexta do blog do Mestre Attico. Vim conferir.
Muito interessante a postagem sobre a liturgia e a cultura. Sem dúvidas, a resposta que o Frei deu foi maravilhosa e reflete muito bem a necessidade de entender a cultura, e não apenas exportar ritos. Muito pertinente.
Att.
Eunice
Cara Eunice,
Excluir"Leituras da esteira" se refere à prática de ler enquanto se caminha sobre a esteira da Academia de Ginástica, só isso.
Sejas bem vinda. Na medida do possível posto uma reflexão/mensagem diariamente. Faço isso pelo prazer de escrever. Movo-me entre a teologia e a filosofia e, às vezes, sobre nada que possa ser classificado entre as áreas do conhecimento.
Obrigado pelo teu comentário.
Um abraço,
Garin