O QUERO-QUERO
ANO 02 – Nº 414
São cinco horas e quarenta e quatro minutos. Depois de ter
preparado o chimarrão sentei à mesa para escrever essa postagem. De repente,
ouço o quero-quero cantar, em um voo rasante sobre a cidade. Foi apenas um
canto rápido e a ave se aquietou. Como aqui no paralelo vinte e nove, o dia
apenas clareia a partir das seis horas e trinta minutos, nessa época, não consegui
enxergar a ave, apenas a identifique por seu canto.
Bastou o cantar do quero-quero para que eu viajasse mais de
quatrocentos quilômetros e cerca de cinquenta e seis anos para o passado onde
encontrei um guri de seis anos correndo pela campina perseguindo os
quero-queros que protegiam seus ninhos na encosta da coxilha. As imagens
vívidas e um tanto idealizadas dão conta de uma época de partilha e aprendizado
com as manifestações mais simples da natureza quase não atingida pela atuação
do ser humano.
Correr e jogar-se ao chão, desafiando o voo rasante das aves
tornava a brincadeira uma diversão de guri e um desespero para os quero-queros preocupados
em proteger seus ninhos. Assim exercitava o aprendizado sobre a reação dessas
aves que são símbolos do Estado do Rio Grande do Sul. Também assim, compreendia
que a convivência com os animais e com a natureza, em sua forma original,
requer cuidados e limites. Nunca ultrapassá-los fazia parte das regras de comportamento
dessa interação necessária entre ser humano e recursos naturais. Tentar ser
mais esperto que o quero-quero representava um risco ao equilíbrio fundamental
dessa convivência.
O quero-quero cantou mais uma vez, bem próximo à janela do meu
apartamento. Foi como se me encontrasse no meio do campo num quente e
esplendoroso dia de verão. Junto com as lembranças renasce o compromisso ético de
convivência equilibrada entre o natural e a manufatura, entre o que se desenvolve
sozinho e o que fazemos imaginando que aperfeiçoamos o natural.
Votos de uma boa segunda-feira!
DESTAQUE DO
DIA
Primeira manifestação
das
Mães da Praça
de Maio (35 anos)
As mães da Praça de Maio são mulheres que se reúnem na Praça de Maio,
Buenos Aires, para exigirem notícias de seus filhos desaparecidos durante a
ditadura militar na Argentina (1976-1983). Alguns pais, considerados
subversivos, tiveram seus filhos retirados de sua guarda e colocados para a
adoção durante os cinco anos de ditadura. Quando acabou a ditadura, muitos
filhos estavam sob guarda de famílias de militares. A situação é retratada no
filme La historia oficial, o primeiro da América Latina a vencer o Oscar de
melhor filme estrangeiro, que mostra uma manifestação do grupo. As mães da
Praça de Maio venceram o Premio Sakharov em 1992. Ainda hoje, todas as
quintas-feiras, as mães realizam manifestações na Praça de Maio, em frente à
Casa Rosada, buscando manter o desaparecimento de seus filhos vivo na memória
de todos os argentinos.[1]
[1]
MÃES DA PRAÇA DE MAIO. Disponível em http://pt.wikipedia.org/wiki/M%C3%A3es_da_Pra%C3%A7a_de_Maio.
Acesso em 30 abr 2012.
Muito estimado colega Garin,
ResponderExcluirtambém tu me transportastes a potreiros onde um guri como tu, buscava ninhos de quero-quero.
Fizeste-me evocar o Poeta:
Oh que saudades que tenho
Da aurora da minha vida,
Da minha infância querida
Que os anos não trazem mais
Uma muito boa despedida dos dias aprilinos de 2012,
attico chassot
Amigo Chassot,
Excluirhá momentos nos quais as recordações são alimentos para a resiliência do existir.
Um abraço,
Garin