sexta-feira, 6 de abril de 2012

A galinha da sexta - ano 02 - nº 390


A GALINHA DA SEXTA

ANO 02 – Nº 390

Certa vez, fui parte de um episódio engraçado, mas que me deixou lições éticas importantes. Tudo teria acontecido no final da década de mil novecentos e cinquenta, no interior de Cachoeira do Sul, onde passei boa parte da infância. Fomos visitar um casal de amigos que moravam a cerca de uns três quilômetros de nossa propriedade, portanto bastante próximos. Nossa jornada foi a pé, numa tarde de domingo.

O transcorrer da visita foi rotineiro: nossos pais sentaram-se na sala e conversaram sobre aqueles assuntos previsíveis, iniciando com o clima, passando pelo estado dos animais, o desenvolvimento das plantas e desembocando, indiscutivelmente, nos famosos causos gaúchos.

Esse roteiro era cumprido quase invariavelmente em todas as visitas. Quando se chegava aos causos, nós crianças já sabíamos os próximos passos: tomava-se café com bolo e, na sequência, uma caminhada pelas cercanias da casa a fim de olhar a horta, os animais domésticos etc. Finalizada a caminhada era hora dos cumprimentos e abraços e a jornada de volta, que necessitava ser antes do sol se por, com tempo suficiente para arrebanhar os animais para o curral.

No momento da despedida, Dna. Sidoca, a visitada, cumprimentou minha mãe e disse a tradicional frase de cortesia: “apareçam mais seguido, não deixem passar tanto tempo!”. Nesse momento mamãe cometeu uma impropriedade para a época. Respondeu, “qualquer dia venho comer uma galinha com vocês!”.

Quando percebeu já era tarde. Cobriu o trajeto de volta, arrependida pelo que havia dito e tentando, mentalmente, arquitetar um plano para que a vizinha não fosse constrangida a sacrificar uma de suas galinhas em nossa próxima visita. Ao chegar em casa minha mãe bradou: “já sei, vamos visitar o Seu Chiquinho e a Dna. Sidoca na sexta-feira santa, assim ela não terá como matar uma galinha e eu ficarei tranquila porque a besteira que disse ficará sem efeito!”.

Só abrir a boca depois de pensar muito bem o que se vai dizer e quando tiver dito uma besteira, arranjar logo uma maneira de resolver a sujeira antes que ela aniquile a consciência por semanas a fio. Quando me envolvo numa enrascada parecida, sempre me lembro da galinha da Dna. Sidoca, aquela da sexta-feira santa que nunca pude saber qual  sabor teria.

Com votos de uma Sexta-feira da Paixão, de contrição e arrependimento, para quem carrega consigo a tradição cristã!

DESTAQUE DO DIA

Nascimento de Mill (239 anos)

James Mill nasceu a 6 de Abril, 1773 e morreu a 23 de Junho, 1836. Foi um historiador e filósofo escocês, um partidário do liberalismo e um famoso representante do radicalismo filosófico, uma escola de pensamento também conhecida por Utilitarismo, a qual defende uma base científica para a filosofia. Suas principais são: Analyse des phénomenes de l’esprit humain e Éléments d’économie politique. Foi pai de John Stuart Mill, filósofo inglês e expressão do pensamento liberal do século XIX.[1]


[1] JAMES MILL. Disponível em http://pt.wikipedia.org/wiki/James_Mill. Acesso em 6 abr 2012.

4 comentários:

  1. Muito querido colega Garin,
    estou imaginando que dona Sidoca deva ter pressionado o seu Chiquinho para até as barrancas do Jacuí pescar uns pintados ou talvez um doutorado para ela preparar um escabeche para saciar os Gain sem que se violasse os preceitos de não comer carne que não fosse de animais aquáticos.
    Esperando que o motociclista esta manhã já tenha ido colher marcela, aguardemos agora o momento d ressoar 'aleluias'.
    Com amizade,
    attico chassot

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    1. Amigo Chassot,
      essa postagem foi de Sobradinho. Tinha ido visitar meu cunhado, mas já estou de volta ao portinho. Dessa vez não fui de moto, mas curti muito a paisagem do Cerro do Monge (do Botucaraí) e as escarpas da Serra Geral.
      Um abraço,
      Garin

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  2. Amigo Garin! Quando se mata uma galinha para receber um Amigo é uma grande alegria. Uma excelente Pessach! Abraço de quem lhe admira (na verdade dus pessoas) Jaime e Sandra

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    1. Olá Jaime e Sandra,
      o problema era a tradição católica da Dna. Sidoca. Para nós protestantes não havia dificuldade, para os visitados seria um sacrilégio e daí a segurança da mamãe.
      Obrigado pelo comentário.
      Boa Páscoa para vocês também!

      Garin

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