terça-feira, 13 de dezembro de 2011

BOA-TARDE!

ANO 01 – Nº 277

Estava passando por um amigo, na metade da manhã, e impulsivamente lhe disse “boa-tarde!”. Ele me olhou surpreso e respondeu: “ué, não sou aroeira[1]!”.

Quando era menino, aprendi que, ao passar por baixo de uma dessas árvores sempre deveria cumprimentá-la com o turno inverso. Pela manhã se dizia boa-tarde, à tarde se cumprimentava com um bom-dia! Minha mãe me ensinou que a gente tinha que dizer isso para não ficar com coceira na pele. Procede disso que, quando inadvertidamente cumprimentávamos um amigo com o turno trocado recebíamos essa resposta.

Mais tarde descobri que muitas pessoas tinham uma sensibilidade maior e facilmente desenvolviam alergias ao pólen da aroeira. O impressionante é que essa prática funcionava. Certamente a árvore não ouvia os cumprimentos trocados, nem se fossem corretamente dados. É que as árvores não escutam nossas falas, mas a gente se preparava com o olhar atento. Quando surgia uma aroeira no meio do campo, ou mesmo no interior da mata, fazia um desvio para não passar por baixo e mesmo assim, de longe, falava o cumprimento trocado. Muito menos sentava-se à sombra delas para descansar. Tinha amigos que eram ainda mais enfáticos, além de falar, tiravam o chapéu e faziam uma reverência.

Há costumes e mitos que nos contaram durante a infância que não têm o menor sentido racional. Porém, exerciam enorme influência sobre a educação que recebíamos. Os mais velhos não conheciam os fundamentos desses costumes, mas entendiam que funcionavam no cotidiano. Uma vez transmitidos para as novas gerações acabavam por proporcionar certa proteção à gurizada. No mínimo nos tornavam mais atentos aos fenômenos da natureza e por consequência, mais precavidos e preparados.

Hoje não transmitimos mais esses costumes aos nossos filhos e netos. Já entendemos seu funcionamento. Entretanto, nem todos os educadores têm a presteza de prevenir as crianças para certos cuidados e a importância da vigilância em relação aos fenômenos naturais e também às armadilhas sociais. Vejo boa parte das novas gerações sendo apadrinhadas constantemente por seus pais, totalmente dependentes e inseguras em relação a qualquer episódio novo que se lhes apresenta.


DESTAQUE DO DIA

Nascimento de Gonzagão (99 anos)

Luiz Gonzaga do Nascimento[2], nasceu em Exu a 13 de dezembro de 1912 e morreu em Recife a 2 de agosto de 1989, foi um compositor popular brasileiro, conhecido como o Rei do Baião. Uma das mais completas e inventivas figuras da música popular brasileira. Cantando acompanhado de sua sanfona, zabumba e triângulo, levou a alegria das festas juninas e dos forrós pé-de-serra, bem como a pobreza, as tristezas e as injustiças de sua árida terra, o sertão nordestino, para o resto do país, numa época em que a maioria das pessoas desconhecia o baião, o xote e o xaxado. Admirado por grandes músicos, como Dorival Caymmi, Gilberto Gil e Caetano Veloso, entre outros, o genial instrumentista e sofisticado inventor de melodia e harmonias, ganhou notoriedade com as antológicas canções Baião (1946), Asa Branca (1947), Siridó (1948), Juazeiro (1948), Qui Nem Giló (1949) e Baião de Dois (1950).



[1] nome popular de várias espécies de árvores da família Anacardiaceae.
[2] LUIZ GONZAGA. Disponível em http://pt.wikipedia.org/wiki/Luiz_Gonzaga. Acesso em 13 dez 2011.

2 comentários:

  1. Estimado colega Garin,
    na disciplina de Conhecimento, Linguagem e Ação Educativa no curso de Biologia do Centro Universitário Metodista, do IPA nos trabalhos de pesquisa acerca de transformação de saberes primevos em saberes escolares, houve trabalho sobre aroeira.
    Uma terça feira

    attico chassot

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  2. Caro Chassot,

    sei que muitos mitos antigos não tinham fundamentos racionais ou científicos, mas muitos deles traziam uma lógica diferente, que seguidamente encontrava coerência prática.

    Um abraço,

    Garin

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