domingo, 25 de dezembro de 2011

COMPLETAM-SE-LHES OS DIAS

ANO 01 – Nº 289

Cada um de nós vive diferentes momentos de espera. Desde coisas mais singelas a eventos altamente significativos em nossas vidas. Não importa o tamanho, o momento da ‘espera’ é angustiante. Fazemos planos, imaginamos cenas, pensamos em alternativas para possíveis problemas. Ensaiamos posturas diante de situações imaginárias. Perdemos o sono em noites de devaneios. Sonhamos com soluções simples. Temos pesadelos com fracassos imaginados. Enfim, a espera representa uma experiência delimitada entre o pavor do ‘inferno’ e a delícia do ‘paraíso’.

Cada dia que passa aumenta nossa tensão. Nossos sintomas físicos sinalizam a proximidade. Nossas reações psicológicas manifestam ansiedade. Nosso equilíbrio espiritual, por vezes, mostra sinais de desespero. É assim! Não tem jeito. Quem disser que é totalmente maduro ao ponto de não se deixar contaminar pela ‘espera’, talvez tenha perdido um tanto do seu ‘lado humano’.

Imaginem agora, José e Maria atravessando a Palestina com uma gravidez entre o oitavo e o novo mês, talvez no lombo de um jumento, talvez a pé mesmo, como andava a maioria pobre de Israel! Imaginem agora, tudo o que passava pela cabeça desse casal que nem havia celebrado as suas bodas. Dois adolescentes, trazendo no ventre da mulher uma promessa de vida! Imaginem os sonhos e pesadelos, os medos e as alegrias, as noites ao relento, as expectativas e as frustrações ao longo de mais de noventa quilômetros de poeira, vento e sol de quarenta graus.

Belém a vista. Mais dezesseis quilômetros e os seus pés tocariam a cidade de Davi.  Antes da noite, já chegam à cidade.  Começa a procura.   Não há muitos locais para se ficar. Tudo já está ocupado. Como a noite se aproxima e a realidade social não era muito diferente da nossa, não eram muitas as famílias que se arriscavam. Por outro lado, Maria naquele estado, não inspirava noites de tranquilidade. Será que você abriria a porta para receber um casal assim?

Lembra dos sonhos e fantasias da longa ‘espera’, da longa viagem, da longa ansiedade? Tudo agora se esfarelava numa escura e fétida estrebaria. As luzes da cidade da antiga imaginação, o carinho generoso das pessoas, que visitavam os planos sonhados, se tornavam pó diante da realidade de um lugar arranjado, entre os animais.

O pior, para um casal sem experiência, acontece. Acaba-se o sonho, desfaz-se a fantasia e ‘completam-se-lhes os dias’ da gravidez. Nasce uma criança como nascem os animais – na estrebaria. Os sonhos e fantasias transformam-se em frustrações. Roubam a manjedoura dos animais para improvisar um berço. Roubam o feno para transformá-lo em colchão macio para o menino.

É, o resto da história você já conhece, quem sabe melhor do que eu! O significado dessa dramática experiência ainda precisa ser melhor entendida. Na verdade, somos cheios de ditados e preconceitos. Só prenunciamos como bom, aquilo que nasce com pontos positivos. Renunciamos até a própria ideia do fracasso do início. Apostamos nos bons começos. Caímos em depressão se alguma coisa pensada, sonhada etc., não acontecer tal e qual o nosso plano. Não conseguimos admitir que alguma coisa possa dar errado, depois de tanto esforço para que seja um ‘sucesso’.

Com o reino de Deus não acontece da mesma forma. Coisas que começam erradas, acabam provocando grandes mudanças. É que Deus conta com o ser humano, mas junto coloca a sua bênção.  E ai, meu caro, nem sempre acontece como sonhamos. De enormes ‘fracassos’, como o nascimento do primogênito de José e Maria, Deus faz o Salvador do mundo!

Por que nos angustiamos tanto quando trabalhamos para o reino de Deus? Por que nos impacientamos quando as coisas não têm um bom começo? Por que nos desesperamos quando tudo sai diferente da forma como planejamos? Que tal darmos espaço para a bênção?



DESTAQUE DO DIA

Morte de Levinas (16 anos)

Emmanuel Levinas[1] nasceu às Kaunas a 30 de novembro de 1906 e morreu em Paris a 25 de dezembro de 1995, foi um filósofo francês nascido numa família judaica na Lituânia. Bastante influenciado pela fenomenologia de Edmund Husserl, de quem foi tradutor, assim como pelas obras de Martin Heidegger e Franz Rosenzweig, o pensamento de Levinas parte da idéia de que a Ética, e não a Ontologia, é a Filosofia primeira. É no face-a-face humano que se irrompe todo sentido. Diante do rosto do Outro, o sujeito se descobre responsável e lhe vem à ideia o Infinito.



[1] EMMANUEL LÉVINAS. Disponível em http://pt.wikipedia.org/wiki/Emmanuel_L%C3%A9vinas. Acesso em 24 dez 2011.

2 comentários:

  1. Muito querido colega e amigo Professor Garin, cesse qualquer exegese acerca do nascimento belenita, como por exemplo, se a viagem foi em um burro ou em um jumento ou se foram 07km ou 100 km, pois tudo hoje tem uma única e grande síntese: FELIZ NATAL,
    com admiração
    attico chassot

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  2. Caro Chassot,

    concordo contigo que há momentos que tanto a exegese quanto a hermenêutica bíblica só atrapalham. O fundamental é a mensagem que subjaz à narrativa.

    Um abraço,

    Garin

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