segunda-feira, 12 de dezembro de 2011

O COLÍRIO

ANO 01 – Nº 276

Passava uns dez minutos das quatro horas da tarde e eu lembrei que precisava comprar o colírio. Como sou vítima de glaucoma, necessito desse medicamento diariamente. Acontece que a farmácia mais próxima da minha casa fica dentro de um shopping. Convidei a Ana e fomos buscar o medicamento. Assim a gente juntava duas coisas: fazia uma pequena caminhada e comprava o colírio.

Quando estávamos dentro do estabelecimento faltou luz repentinamente. Tudo ficou às escuras. A iluminação presente era proporcionada pelas luzes de emergências que, comparado com a iluminação anterior, significava uma escuridão. Os olhos precisaram de algum tempo para se acostumar.

O que me chamou mais a atenção foi a rapidez com que as portas das lojas se fecharam. Em duas delas que minha vista alcançava, as portas foram trancadas imediatamente. Noutra, que distava alguns passos de onde nós estávamos, dois funcionários se postaram à entrada como se fossem dois cães de guarda: ninguém entrava, ninguém saía.

Mesmo que a gente saiba, nem sempre nos damos conta. A publicidade alardeia em mensagens escritas, faladas, televisivas, por telemarketing, em redes sociais etc. que as ‘portas’ estão abertas!; venham!; você é nosso amigo!; aqui você encontra o que precisa!; e por aí afora. Basta um apagão momentâneo da energia e toda a máscara publicitária vai por água abaixo. O ‘amigo’ de minutos atrás representa uma ameaça; o ‘venham’ de instantes, é barrado à entrada; o ‘aqui você encontra’ é substituído pelo ‘não entre agora’; as ‘portas abertas’ se fecham num piscar de olhos.

O impressionante é que a preocupação maior não é com a segurança da pessoa do ‘cliente’, mas com o patrimônio representado pela féria e pelo estoque de mercadoria exposta. Alguém pode pensar: mas é assim mesmo e isso é a coisa mais óbvia que existe! Em contrapartida minha reflexão é diferente: essa lógica do sistema de comércio é a inversão da lógica do existir. O comércio deveria existir para que as pessoas pudessem se tornar mais humanas nas suas necessidades. A realidade é que o comércio, com seu lucro e se patrimônio, está acima da humanidade das pessoas. A pessoa não é um ser humano, é apenas mais um cliente.

Antes de ‘entrar’ em qualquer estabelecimento para comprar alguma coisa e sempre que for recebido com ‘palavras carinhosas e amáveis’, com ‘sorrisos encantadores’ e disponibilidade para ‘ajudar’ pense nessas coisas!


DESTAQUE DO DIA

Morte de José de Alencar (134 anos)

José Martiniano de Alencar[1] nasceu em Messejana, CE, a 1 de maio de 1829 e morreu no Rio de Janeiroa 12 de dezembro de 1877, foi um jornalista, político, advogado, orador, crítico, cronista, polemista, romancista e dramaturgo brasileiro. Formou-se em Direito, iniciando-se na atividade literária no Correio Mercantil e Diário do Rio de Janeiro. Foi casado com Ana Cochrane. Filho do senador José Martiniano Pereira de Alencar, irmão do diplomata Leonel Martiniano de Alencar, barão de Alencar, e pai de Augusto Cochrane de Alencar.



[1] JOSÉ DE ALENCAR. Disponível em http://pt.wikipedia.org/wiki/Jos%C3%A9_de_Alencar. Acesso em 12 dez 2011.

2 comentários:

  1. Meu caro colega Garin,
    aqui de Manaus vejo que tua meditação matinal é um colírio para abrirmos os olhos ao cinismo do comércio que nos diz ’sorria... você está sendo filmado!’
    Uma boa segunda-feira

    attico chassot

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  2. Caro Attico,

    há três dias não conseguia me reportar aos teus comentários. Como tu já viste, sou um ferrenho combatente do consumismo.

    Obrigado!

    Garin

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