sexta-feira, 30 de dezembro de 2011


O LUSTRE

ANO 01 – Nº 294

A gente é muito acostumado com lógica e a procura em todas os acontecimentos. Não nos damos conta de que a lógica, mais do que uma relação entre causa e efeito, é uma forma construída por nós mesmos para entender e explicar a realidade. Enfrentamos um período de seca na região agrícola mais produtora do Rio Grande do Sul e vários dias de chuva no litoral, onde o bom é curtir sol e calor.

Pois é, num desses dias de chuva, na praia, que resolvemos fazer aquelas tarefas de casa que nunca dá vontade. A Ana me incumbiu de tirar os lustres para fazer uma limpeza mais detalhada. Quando retirei o lustre da sala de jantar descobri uma considerável camada de poeira, de um ano de existência, pelo menos. Sabem como é, apartamento de praia fica fechado quase todo o tempo e quando a gente vem, é rapidinho, só para olhar as coisas mais necessárias. A poeira foi se acomodando, o tempo foi passando, a gente olhava para a luminária, ela olhava para a gente, mas não vinha aquela ‘coragem’ e a preguiça acabava vencendo a batalha.

Retiramos o lustre, fizemos uma faxina ‘no capricho’ e recolocamos a peça no seu devido lugar. Quando a noite chegou e ligamos a luz, nem parecia a mesma luminária: em comparação com a noite anterior parecia um dia! Não teve como evitar a exclamação: “como é que a gente não tinha notado antes!”. Pois é, já estávamos quase no ‘escuro’ sem perceber.

Pensando sobre a luminária acabei relacionando com a poeira que se acumula sobre a nossa maneira de perceber e explicar a realidade. Nossas convicções acadêmicas, muitas vezes se formam durante o nosso curso de graduação, quando são novinhas em folha. Partimos para o exercício da profissão e sempre que necessitamos, recorremos àquela antiga posição, tão confortável, de perceber e explicar os fatos, adquirida nos bancos acadêmicos. Acontece que a poeira vai se acumulando e, como dizem os jovens de hoje, “a fila anda!”. Se o nosso curso terminou há mais de dois anos, a gente pode acrescentar pelo menos duas camadas de poeira sobre mente. Assim como aconteceu aqui em casa, a preguiça sempre tenta nos convencer: deixa pra depois, não há nada de novo na tua especialidade!

Ledo engano! Com a globalização e a velocidade da informação contemporânea, meses fazem muita diferença. Mais difícil que antigamente, com a facilidade proporcionada pela rede mundial de computadores, apelidada de ‘internet’, a atualização dos conhecimentos é mais dinâmica, complexa e, em alguns casos, com posições contraditórias. Atualmente, não basta ler um livro, consultar um periódico impresso de vez em quando, para se estar atualizado. É necessário criar alertas sobre novas fontes de informações atualizadas diariamente.

Claro que a velha e confortável preguiça sempre estará ali, de plantão, com uma enxurrada de justificativas: trabalhaste demais hoje, precisas te divertir, tens que dar atenção aos amigos e por aí afora. Tudo isso é verdade e cada pessoa necessita administrar essas coisas. Entretanto, é necessário distinguir isso da preguiça que sempre nos tenta acomodar. Torna-se importante revisar a poeira que se acumula sobre a mente, antes que essa penetre na escuridão do obscurantismo.



DESTAQUE DO DIA

Morte de Alfred Whitehead (64 anos)

Alfred North Whitehead[1] nasceu em Ramsgate, Inglaterra, a 15 de fevereiro de 1861 e morreu em Cambridge a 30 de dezembro de 1947. Foi um filósofo e matemático britânico. Renomado pesquisador na área da filosofia da ciência, principalmente no que diz respeito aos fundamentos da matemática. Juntamente com Bertrand Russell, escreveu Principia Mathematica, livro que foi classificado pela Modern Library como o vigésimo terceiro de uma lista dos cem mais importantes livros em inglês de não ficção do século XX. É também o desenvolvedor da chamada teologia do processo.


[1] ALFRED NORTH WHITEHEAD.  Disponível em http://pt.wikipedia.org/wiki/Alfred_North_Whitehead. Acesso em 29 dez 2011.

2 comentários:

  1. Muito estimado parceiro e amigo Garin,
    não vou seguir as elucubrações do pastor da cotidianidade acerca da remoção da poeira que se acumula na alma. Vou a outro ponto. Tu e eu vivemos fantásticas inovações tecnológicas. Há uma que os humanos não conseguiram ainda: regular as chuvas. Sonho com um Planeta onde chova em todos os lugares – substanciosa e compassadamente – todos os dias dá 1 hora às 3 horas (e somente isto). ¿Não seria fantástico?. Meu sonho só teria restrição para os fabricantes de guarda-chuvas.
    Com desejo que seja esta uma das inovações de 2012.
    Um bom quase ano novo
    Attico chassot

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  2. Caro Chassot,

    conto com a tua inovação; a gente arruma um servicinho para os fabricantes de guarda-chuvas e tudo fica em paz.

    Quando era adolescente, reencontrei, depois das férias de verão, um colega que havia passado por uma experiência religiosa profunda. No seu fanatismo, queria impor a sua experiência para os colegas de quarto, no internato. Um dia ele me disse: "poeira sobre a Bíblia é ferrugem na alma!". Diante disso, na minha costumeira irreverência, lhe respondi: "a partir de hoje, vou passar um paninho sobre a Bíblia, todos os dias!". Depois disso ele queria me bater.

    Um abraço,

    Garin

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