sexta-feira, 23 de dezembro de 2011

PÚBLICO E PRIVADO

ANO 01 – Nº 287

O dia estava uma beleza. Aproveito o final da tarde para fazer um passeio, olhar as pessoas, sentir o cheiro da cidade (nem sempre o melhor!), perceber a vida que pulsa nas ruas e praças. Pego o elevador e desço cinco andares. Abro a porta do edifício e decido andar para a esquerda. Dou dez passos e encontro uma montanha de areia impedindo a passagem das pessoas. Essa areia é a mesma que estava ontem ali, a mesma de anteontem, a mesma de quarta-feira. Pronto! Meu passeio já virou uma reflexão. É possível que muitos leitores pensem, lá vem ele com aquele assunto pequenininho que dá quilômetros de discussão: a fronteira do público e do privado.

Enganam-se! Não quero entrar nessa discussão acadêmico-jurídica, cujos teóricos se debruçam em léguas de debate. Quero apenas refletir sobre o que leva uma pessoa (ou empresa de construção, no caso) a bloquear o meu passeio de final de tarde com uma cordilheira de areia. Quando me torno cidadão, responsável social e civilmente, assumo compromissos que têm, em contrapartida, benefícios. O principal deles é a liberdade de ir e vir. A areia bloqueando o passeio público tolhe essa liberdade. Não posso andar sobre a areia ou retirá-la dali porque ela não é propriedade pública: pertence a uma empresa de construção – é privada. Além disso, poderia sujar os meus pés desnecessariamente.

Não posso desviar pela rua porque cometo uma infração de trânsito e corro o risco de ser atropelado por um veículo. Nessa circunstância, além de cometer um desatino estou submetendo os motoristas que conduzem seus veículos a manobras perigosas. Uma imprudência minha, desse nível, poderia desencadear situações adversas que fugiriam ao meu controle. A freada brusca de um veículo, para evitar o atropelamento da minha pessoa, poderia provocar uma colisão com outros veículos. Por sua vez, uma situação dessas, poderia dar origem a um conflito de trânsito, com resultados dramáticos, semelhantes ao que muitas vezes acompanhamos pela imprensa.

Preciso tomar uma atitude. Penso em invadir a obra e exigir que o proprietário retire a areia para que as pessoas e eu possamos continuar nossa trajetória. Isso poderia ser encarado pelo proprietário como a invasão de um espaço privado sem autorização. Desisto dessa alternativa até porque posso encontrar o proprietário enfrentando alguma dificuldade e se volte contra a minha pessoa. Poderia gerar um conflito que não estou disposto a encarar.

Meu belo passeio de final de tarde tem a extensão de dez passos e a qualidade da irritação porque alguém usou o espaço público como se fosse sua propriedade privada.

É isso aí: quando paro o carro em fila dupla; quando estaciono em local proibido; quando coloco meu carro numa vaga reservada para pessoas com deficiência; quando jogo meu lixo na rua; quando... completa tu mesmo essa lista interminável – estou utilizando o espaço público como se fosse meu espaço particular. Em todas essas situações, as ações são realizadas pela minha pessoa, mas as conseqüências estão totalmente fora do meu alcance.

Volto para casa e telefono para o setor de obras da prefeitura: assim utilizo o tempo do meu frustrado passeio para uma ação de civilidade!


DESTAQUE DO DIA

Invenção do Transistor (64 anos)

Réplica do primeiro transistor.
Em 23 de dezembro de1947 os cientistas John Bardeen, Walter Brittain e William Schockley apresentaram o transistor[1], que substitui a válvula e ajuda no desenvolvimento da ciência eletrônica. O transistor de silício e germânio inventado nos Laboratórios da Bell Telephone por Bardeen é um componente eletrônico que começou a popularizar-se na década de 1950, tendo sido o principal responsável pela revolução da eletrônica na década de 1960. São utilizados principalmente como amplificadores e interruptores de sinais elétricos. O termo vem de transfer resistor (resistor/resistência de transferência), como era conhecido pelos seus inventores. O transistor.


[1] TRANSÍSTOR. Disponível em http://pt.wikipedia.org/wiki/Trans%C3%ADstor. Acesso em 22 dez 2011.

3 comentários:

  1. Meu caro Garin,
    talvez por causa do monte de areia, o blogue de hoje se conecta com o patrolar de ontem. O Marcus – muito mais jovem – também evoca como uma festa a chegada da patrola (os dicionários querem que eu escreva moto-niveladora) e havia razões. Ela não apenas encantava a piazada mas tornava a ‘nossa rua’ melhor.
    Adito meus votos de bom natal a ti, a Ana, filha e filho e teus leitores e que não encontres obstáculos maiores que montículos de areia, que não sem exageros chamas de cordilheiras
    attico chassot

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  2. Prof. Attico obrigado pela lembrança.
    Eu de verdade estou muito feliz por descobrir pessoas, professores com um talento que me encorajam a aprender cada vez mais. È uma alegria finalizando. Desejo sim um feliz natal e um próspero 2012 com muita saúúúúdeeee a todos nós.

    parabéns Professor Garin e Professor Attico.

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  3. Caros Chassot e Marcus,

    foi uma grata supresa descobrir que o acontecimento da patrola, que não é dicionarizada, é compartilhado por pessoas com as quais convivo.

    Desejo um Feliz Natal para vocês e o desejo de que 2012 seja um ano de muitas realizações humanas.

    Um abraço,

    Garin

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