Havia terminado de tomar café e percebi uma conversa persistente, como se fosse um discurso perto do meu apartamento. Percebia que era uma voz imatura, mas contínua. Não conseguia distinguir de onde vinha nem o que dizia, mas era insistente.
Saí à janela para verificar o que estava ocorrendo. Deparei-me com um menino de uns 3 ou 4 anos, junto à janela do apartamento abaixo do meu, olhando para a paisagem e falando, como se estivesse conversando com um personagem real, concreto.
Aquele menino estava ali, fazendo o seu discurso do nada... para o nada... Talvez em sua mente desfilasse uma multidão de pessoas, animais, brinquedos, fantasmas, duendes... quem sabe, quem adivinharia? Ele estava conversando com o “mundo”...!
Aquele menino estava ali, fazendo o seu discurso do nada... para o nada... Talvez em sua mente desfilasse uma multidão de pessoas, animais, brinquedos, fantasmas, duendes... quem sabe, quem adivinharia? Ele estava conversando com o “mundo”...!
Acho que temos conversado muito pouco com o “mundo”. Nossas interlocuções são sempre dirigidas a alguém, sempre possuem um objetivo, são absolutamente lógicas, expressam idéias, falam de fatos etc., etc. Cada vez menos, nestas lidas competitivas do mundo contemporâneo, temos tido tempo de parar para “conversar com o mundo”! Aliás, quase não conversamos mais: teclamos. Perdemos a capacidade de imaginar o mundo fantástico que está além da lógica, dos métodos, dos negócios, do computador, do e-mail, das redes sociais, do mundo sério.
Será que é por isso que estamos cada vez mais doentes?
Aquele menino estava tendo a conversa mais séria que já ouvi, a mais lógica de que já participei, a mais sábia de que já tive notícia: conversava com o mundo dele próprio – aquele que está esquecido dentro de cada adulto.
Boa semana... pós-feriadão!
Boa semana... pós-feriadão!
Meu caro colega Garin,
ResponderExcluirque apascenta o cotidiano, tua chamada ao bom senso de conversar com o cotidiano me levou a Olavo Bilac, que na nossa juventude era muito considerado. Hoje parece um pouco démodé. Mas eis como tu e ele estão em ressonância:
"Ora (direis) ouvir estrelas! Certo
Perdeste o senso!" E eu vos direi, no entanto,
Que, para ouvi-Ias, muita vez desperto
E abro as janelas, pálido de espanto...
E conversamos toda a noite, enquanto
A via láctea, como um pátio aberto,
Cintila. E, ao vir do sol, saudoso e em pranto,
Inda as procuro pelo céu deserto.
Direis agora: "Tresloucado amigo!
Que conversas com elas? Que sentido
Tem o que dizem, quando estão contigo?"
E eu vos direi: "Amai para entendê-las!
Pois só quem ama pode ter ouvido
Capaz de ouvir e de entender estrelas."
attico chassot
Caro Chassot,
ResponderExcluirmuito lindo o poema que postaste em teu comentário. Pois é, de vez enquanto é bom conversar com as estrelas, mesmo que isso pareça uma loucura para o mundo contemporâneo, dominado pela sociedade de consumo.
Um abraço,
Garin
"Tresloucado amigo"
ResponderExcluirNessa semana "tô" conversando c um outro mundo, (n necessariamente meu rsrsrs), o mundo da educação do campo, mt particular e mt específico.
Acredito q só consegue conversar c o mundo (e n só com o seu mundo!)quem é um pouco (ou mt) tresloucado ou quem tem a sensibilidade e a humanidade d enxergar o outro como quem tem direito d ser outro (Maturana complica minha vida! rsrsrs)como um ser legítimo.
Acho q delirei um pouco mas n vou apagar, gostei d escrever isso. (Maturana tb é "meio" (mt) delirante tb! rsrsrsr
Abraços alegretenses "in PoA"!!!
Cara Ana Lucia,
ResponderExcluirpelo que percebo Porto Alegre foi invadida por uma nação distante: a República do Alegrete!
Concordo contigo, quando a gente screve uma coisa que gosta, mesmo que pareça meio-meio, a gente não deve apagar: é o "conversar com o mundo" que se realiza através da digitação.
Um abraço "tresloucado"!
Garin