quinta-feira, 28 de abril de 2011

DISCIPLINA

Trago, nesta quinta-feira, uma reflexão sobre a apresentação da Esquadrilha da Fumaça, de São Paulo, da Força Aérea Brasileira, que recentemente apresentou-se no Rio Grande do Sul. Chama-nos a atenção, sobretudo a disciplina que a equipe de pilotos possui para que seus aviões possam realizar as mais espetaculares manobras aéreas sem se tocarem e sem colocarem em risco suas vidas e a vida dos espectadores.
Para nossa reflexão, adiciono o poema “Estações no caminho para a liberdade[1] de Dietrich Bonhoeffer[2], dedicado ao seu cunhado e amigo, Eberhard Betghe, no transcorrer do seu aniversário.
Disciplina
Se partes em busca da liberdade, aprende primeiro
a disciplinar os sentidos e a alma, para que os desejos
e teus membros não te joguem de um lado para o outro.
Castos sejam tua mente e teu corpo, plenamente submissos a ti,
e obedientes, a fim de buscarem a meta que lhes foi apontada.
Ninguém experimentará o mistério da liberdade a não ser pela disciplina.

Ação
Não fazer e ousar qualquer coisa, mas o que é direito,
não se deter no possível, mas agarrar corajosamente o que é real,
não na fuga das idéias, mas somente na ação é que se encontra a liberdade.
Abandona o vacilar medroso e enfrenta a tempestade dos acontecimentos,
sustentado somente pelo mandamento de Deus e por tua fé,
e a liberdade envolverá jubilosa o teu espírito.

Sofrimento

Maravilhosa transformação. As mãos tão fortes e ativas
te foram amarradas. Impotente, solitário, vês o fim
da tua ação. Mas então respiras aliviado e colocas o que é direito,
tranqüilo e consolado, em mãos mais fortes e te dás por satisfeito
apenas por um instante tocaste, feliz, a liberdade,
e logo a entregaste a Deus, para que ele a aperfeiçoe esplendidamente.

Morte

Vem, pois, sublime festival no caminho para a liberdade eterna,
morte, derruba os incômodos grilhões e muros
de nosso corpo mortal e nossa alma obcecada,
para que vejamos, afinal, o que aqui não nos foi permitido vislumbrar.
Liberdade, procuramos-te muito na disciplina, na ação e no sofrimento;
morrendo reconhecemos, no semblante de Deus, a ti mesma.


[1] BONHOEFFER, Dietich. Resistência e submissão: cartas e anotações escritas na prisão. São Leopoldo: Editora Sinodal; EST, 2003, p. 520.
[2] Dietrich Bonhoeffer (Breslau, 4/02/1906 – Berlim, 9/4/1945), teólogo e pastor da Igreja Luterana da Alemanha, foi membro ativo da resistência alemã, anti-nazista e um dos fundadores da Igreja Confessante, um segmento da Igreja contrária à política nazista. Foi preso e enforcado pelos nazistas pouco antes do final da Segunda Grande Guerra do século XX. O poema “Estações no caminho para a liberdade” foi escrito durante a prisão.


2 comentários:

  1. Meu caro colega Garin,
    lindo o poema com o qual o teólogo alemão homenageia o cunhado aniversariante.
    Todavia, vale lembrar que há uma outra acepção para disciplina. Segundo ‘nosso’ Priberam Conjunto de tiras ou correias usadas para flagelação. = AÇOITES, SUPLÍCIOS
    tomar disciplina: flagelar-se. O Houaiss acompanha e coloca na rubrica religião: cordas, correias ou correntes com que frades, devotos e penitentes se flagelam,
    Na minha adolescência ela estava presente, a disciplina era marcada no Ginásio pelo onipresente aviso: DEUS ME VÊ que a tecnologia pós-moderna substitui por SORRIA VOCÊ ESTÁ SENDO FILMADO! Releva se empanei a linda homenagem recebida, há um tempo, por um aniversariante,
    Até breve em sala de aula,
    attico chassot

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  2. Caro Chassot,

    quando eu estava no primário, lá no interior de Cachoeira do Sul, havia uma outra forma de disciplinar os alunos: a palmatória.

    Certamente, como sinalisaste muito bem, há outras concepções para disciplina,mas o teólogo alemão está se referindo mesmo a autodisciplina.

    Um abraço,

    Garin

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