Sentado a um canto da mesa meu irmão pediu o pão. Não tive dúvidas, joguei uma fatia, de onde estava. Na mesma hora, meu pai interveio, entre surpreso e irado: “pão não se joga, pão é sagrado!” Meu irmão fez aquela cara de feliz por me ver levar a bronca que por pouco não se transformou numa surra. Nunca mais esqueci a lição. Apesar de ser de farinha, sal, fermento e água, o pão era mais do que um elemento material que nós, crianças, não entendíamos.
Nem sempre temos consciência de que o “material” pode conter um elemento simbólico. Depende de cada grupo, de cada povo, de cada cultura. Desde pequeno aprendi que, quando se chega num grupo estranho é mais prudente primeiro ouvir, para depois falar. Nada fere mais do que atingir um elemento simbólico, seja de que religião, time ou grupo.
Para meu pai, o pão era símbolo do sustento de nossa família que, muitas vezes era conseguido a duras penas. Suor, trabalho e lágrimas se misturavam naquele símbolo. Não se atirava porque representava tudo isso e mais a esperança de que o pão nunca faltasse sobre aquela mesa.
Para Jesus e os seus discípulos, acampados junto ao Mar da Galiléia, próximo de Betsaida, o pão tinha os dois sentidos. Era o elemento material capaz de sustentar a multidão que os acompanhava e o elemento simbólico da presença do divino em Jesus. A partir da capacidade que manifestava de alimentar materialmente a multidão, nascia a esperança de que ele fosse o Pão da Vida. Símbolo do sacrifício libertador, Jesus se manifestou como pão que restitui a vida aos simples, aos pobres, aos angustiados.
Material e simbólico, o pão é esperança que nos mantém vinculados uns aos outros e todos que têm fé, ao Redentor.
“Então, Jesus tomou os pães e,tendo dado graças, distribuiu-os entre eles ” (Jo 6.11)
Muito querido colega Garin,
ResponderExcluirainda estou com alma prenhe de alegria por nossa aula de ontem, mesmo que marcada pelas dolorosas interrogações catalisada pelo indecifrável Wellington.
Hoje tu, na tua evocação a tua casa paterna, levas-me a minha. Em nossa casa o pão também era sagrado e jamais se colocava sobras no lixo.
Hoje recolho qualquer farelo que me sobra e levo para os passarinhos ou para as carpas.
Obrigado por me avivares lembranças e votos de um frutuoso sábado,
com continuada admiração
attico chassot
Caro Chassot,
ResponderExcluirfico lisonjeado com as tuas visitas ao meu blogue: teus comentários são grande estímulo para mim. Nossas experiências "geográficas" são muito próximas, enfim, partilhamos de sentimentos semelhantes.
Outro dia precisamos debater, com mais profundidade, a presença do "sagrado" no viver cotidiano de nossa sociedade contemporânea.
Bom sábado para ti, também!
Um abraço,
Garin
o simbólico envolve sentimentos e memórias, elementos constituintes de um ser realmente humano.
ResponderExcluirMuito bom lhe reencontrar!
abraço na sempre aluna, no melhor sentido da palavra, Marília
Cara Profa. Marília,
ResponderExcluirfoi muito prazeiroso te reencontrar. Sempre senti saudades daquela turma de Filosofia. Minha satisfação foi redobrada ao saber que estás atuando no "fazer educação". Tenho certeza de que, a mosca azul da Filosofia está te "alucinando" no dia-a-dia da docência.
Um forte abraço,
Garin