sexta-feira, 8 de abril de 2011

TUMULTO E SILÊNCIO

A forma como observamos a realidade dos fatos constitui o elemento fundante dos próprios fatos. Dessa observação decorre a construção da realidade tecida pela linguagem que oferecemos aos nossos interlocutores.
É nessa fresta, entre o acontecimento e o testemunho que se constrói o real, já que ele subjaz nossa consciência. O que nossa memória retém, e como a retém, forma o tecido da realidade que se desenrola diante do outro, como oferta fática do real.
Não há como desconstruir a realidade inferindo imperfeições sobre o tecido da linguagem para testemunhar o real. Na tessitura que narra/interpreta está a realidade.
Nesta linguagem narrativa/interpretativa se esconde, não apenas o que vimos, mas também o que sentimos, cheiramos, percebemos, com todos os sentimos de que dispomos.
Na construção do testemunho se apresenta o ser do testemunhando como oferta de um mundo consolidado em vivências complexas. É o testemunhado! Nunca é uma tabula rasa, mas um conjunto capaz de perceber, o que percebe, de um lócus específico, singular.
Por traz do testemunhado está um sujeito capaz de perceber e interpretar. O testemunho se constrói entre o tumulto e o silêncio. Ele está entre o acontecimento e a tessitura da linguagem. Não há mentira nem verdade: há o testemunho!
"Seja, porém, o vosso falar: sim, sim; não, não; porque o que passa disto é de procedência maligna." (Mt 5.37)

2 comentários:

  1. Profundas reflexões! Talvez tenham emergido entre o tumulto do Pedrini e o silêncio, espaço vazio, entre uma e outra fala.
    "Nesta linguagem narrativa/interpretativa se esconde, não apenas o que vimos, mas também o que sentimos, cheiramos, percebemos, com todos os sentidos de que dispomos".
    Que maravilha podermos reter tantos afetos!

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  2. Querida Rejane,

    às vezes nasce, de lá do fundo da consciência, uma não sei que tipo de inspiração. O certo é que faz a gente ultrapassar a imanência desse chão e penetrar o incógto mundo da transcendência de nós mesmos. Tão raro como a visita ao Pedrini, de vez em vez (muito de quando em quando) aparece isso que nos trasporta.

    Um abraço,

    Garin

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