No último final de semana me dediquei à poda de algumas plantas caseiras. Essa é uma tarefa que me custa caro – não gosto de machucar qualquer ser, muito menos um ser vivo. Contudo, a jibóia (Scindapsus aureus) estava esparramada por todos os cantos da casa, atrapalhando a circulação. Dei de mão na tesoura e, com delicadeza, promovi uma boa limpeza na planta. Por outro lado, aprendi nas minhas lides de agricultura, que certas plantas necessitam de podas para, com a devida adubação, possam se fortalecer ainda mais.
Há certos temas que nos desafiam à reflexão e a poda é um deles. Sempre associamos a poda à censura, ao corte, à limitação. Entretanto, seria possível haver poda sem tudo isso? Poderia haver uma censura ou uma limitação que não importasse em restrição de crescimento, expansão?
Quando penso na caminhada educacional começo a colocar em dúvida certas afirmações consagradas como intocáveis. Sempre que organizamos (limitamos) certas atitudes no “educar”, possibilitamos, assim como certas plantas, um desenvolvimento maior em outras direções. Aliás, essa deveria ser a função de todo o (a) pedagogo (a)[1]. Conduzir na trajetória do aprendizado é limitar para que as energias não se percam. É também acompanhar enquanto se “anda” pela senda do conhecimento.
Pois é, podar (cortar, limitar, censurar), desde que no devido tempo e com o cuidado e o carinho adequado, é favorecer o crescimento, o desenvolvimento, seja de uma pessoa, de uma instituição, de um processo.
Assim, recobro minha paz diante da jibóia: acho que ela irá se desenvolver melhor.
"Educa a criança no caminho em que deve andar; e até quando envelhecer não se desviará dele." (Pv 22.6)
[1] “escravo encarregado de conduzir as crianças à escola” (sentido original do termo, segundo o Houaiss).
Meu caro Garin,
ResponderExcluirteu blogue faz jus ao que está no seu frontispício: reflexões sobre vivências. Tenho, como tu muita dificuldade em podar e também por isso os bonsai não me seduzem, pelo necessário atrofiamento.
Tua reflexão desta quarta feira leva-me ao capítulo “para formar jardineiros para cuidar do Planeta” de meu livro “Sete escritos sobre Educação e Ciências! ouvi do senhor Olívio Milani [filho de italianos, falecido há não muito, quase nonagenário, em Garibaldina, um distrito de Garibaldi, lindeiro de Bento Gonçalves, no Vale dos Vinhedos. Lá com a esposa, os filhos e netos foi: viti-vinicultor.] um relato que me parece importante socializar neste teu blogue.
Narrou-me como seus ancestrais aprenderam acerca da importância de podar os parreirais. “No final do inverno, os burros não encontravam mais o que comer. Então, se alimentavam das extremidades das videiras, tosando completamente os ramos mais moles, sobrando apenas os troncos mais lenhosos, que não conseguiam mastigar. E nas plantas assim ‘podadas’, quando da primavera, surgiam os ramos mais viçosos, que depois se tornavam mais produtivos em quantidade e qualidade, se comparados com aqueles ramos mais finos, que os animais não haviam tosado. Então, se aprendeu, que quando terminava o inverno era importante podar não apenas as parreiras, mas também outras árvores frutíferas”. Não confirmei, ainda, se essa é a verdadeira origem da poda na fruticultura.
Obrigado por repartires tuas vivências
attico chassot
http://mestrechassot.blogspot.com
Caro Cassot,
ResponderExcluirmuito interessante este teu comentário. Lembro de uma estória contada por meu pai: dois meteorologistas faziam um trabalho de campo e se hospedaram numa fazenda, longe da cidade. Pediram ao fazendeiro para ficaram sob uma figueira, perto do galpão: a noite estava quente. O fazendeiro insistiu que eles viessem para dentro da casa dele, pois choveria a noite. Os meteorologias agradeceram e disseram que segundo as previsões deles não haveria chuvas dentro de uma semana naquela região.
Por precaução, disse o fazendeiro, vou deixar a porta do galpão aberta... qualquer coisa, vocês correm...
Antes das 2h da manhã desabou um temporal.
No outro dia os meteorologistas queriam saber como o fazendeiro havia descoberto que iria chover naquela noite e ouviram a resposta: "tão vendo aquele burro velho alí no potreiro: pois é, quando ele sobe à coxilha, no final da tarde, e zurra várias vezes é chuva na certa!".
Um abraço,
Garin
Pois é, pai, tenho pensado sobre isso que escreveste na minha profissão. Me custa muito "podar" e dar limites aos meus alunos. E, como às vezes, é difícil perceber que na verdade estou os educando. Mas faz parte da educação...
ResponderExcluirOi filha,
ResponderExcluiresse é o nosso desafio: propor/colocar limites sem "podar" o desenvolvimento da criança. De qualquer maneira, é sempre um desafio e também é o que constitui nossa identidade de educadores. Podar qualquer um consegue, educar é uma arte.
Um beijo, do pai.