quinta-feira, 7 de abril de 2011

OS ARROZAIS

Parece que a memória do passado é uma inesgotável fonte de inspiração. Numa rápida saída de moto fui rever uma das mais caras cenas da minha meninice. Fui até os arrozais que circundam a região metropolitana de Porto Alegre. Muitas lavouras estão sendo colhidas – está na época! Há, entretanto, outras que foram plantadas mais tarde cujos cachos recém estão amarelando. Necessitam ser colhidos antes que as chuvas do inverno cheguem.
Estas cenas me levaram novamente para o tempo no qual trabalhava na ceifa do arroz. Naquela época, colhia-se com foice. Os feixes do cereal eram organizados em medas, cuidadosamente arrumados para que a umidade não penetrasse nos grãos e os mofassem. Começávamos antes de o sol nascer e só encerrávamos a lida depois que o sol já estava se escondendo no horizonte. Trabalhávamos por empreitada e nosso lucro dependia da agilidade com que realizávamos o trabalho.
Desse trabalho nasceu um aprendizado importante: é necessário manter a concentração, como se diz atualmente – “manter o foco”. As dificuldades eram de toda a ordem. A água para beber, na lavoura em tempo de colheita era escassa. Mas este capítulo, vou deixar para outra oportunidade. A comida vinha de longe e chegava fria. O caminho de volta para casa era longo e redobrava o cansaço.
Da visão dos arrozais nascia uma esperança: o sustento para mais um frio inverno, quando a natureza adormece, a terra se aquieta e cada ser vivo precisa ter alguma coisa guardada para se manter. Lembro do olhar de meu pai, distante e com lágrimas: nunca soube se eram de alegria ou de esperança, mas com certeza, continham a fé necessária para sustentar os filhos por mais uma gelada estação.

"Porque a terra por si mesma frutifica, primeiro a erva, depois a espiga, por último o grão cheio na espiga. E, quando já o fruto se mostra, mete-se-lhe logo a foice, porque está chegada a ceifa." (Mc 4.28-29)

2 comentários:

  1. Pois esta imagem dos arrozais, pra mim, tem cheiro de passeio, cheiro de fritura do pastel no Pantano Grande, e gosto de ovo mole na xícara de café antes do almoço ficar pronto no fogão à lenha da minha avó.

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  2. Oi Filha,

    nossa memória sempre retrocede até às referências de nós mesmos! Não é possível existir sem que, coisas assim, que parecem tão simples, apareçam com toda a força. É como se a gente "escavasse" sob nossa personalidade e desse uma olhadinha nos fundamentos de nosso "edifício".

    Um beijo,

    Pai

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