quinta-feira, 9 de junho de 2011

A GARÇA


Acomodada em seu cepo, no meio da lagoa, a garça branca aproveita o sol do outono para se refazer enquanto verifica atenta, os movimentos ao redor. Mesmo de longe, percebe minha presença e instintivamente analisa a ameaça que lhe represento. A interpretação que fazemos sobre a atitude da ave pode nos trazer lições.
Como a garça, precisamos de algum espaço onde nos acomodamos e de onde olhamos o que nos cerca. Quando não percebemos que nossos conceitos são apenas um ponto de vista, emitidos de onde estamos, corremos o risco de dizer mais bobagens do que compartilhar conhecimentos e o pior, acreditar que esses conceitos são a mais absoluta verdade.
Nem sempre percebemos a grandiosidade do “sol”[1] que se apresenta em nossa vida. Seguidamente passamos longos dias nos queixando da sorte e nos sentindo vítimas de conspirações universais, até cósmicas. Saber aproveitar o “sol” que ilumina e aquece o existir pode nos ajudar em passos decisivos na construção dos objetivos que almejamos.
Ficar atento não é dever apenas das aves, ou de outros animais considerados irracionais. Quando nos deleitamos em nosso espaço perdemos a dimensão das possibilidades que se acham ao nosso alcance. Além disso, esquecemos a necessidade de estar alerta para os riscos que cotidianamente corremos, no trabalho, na rua, ou em qualquer lugar.
Antes de abraçar alguém que se aproxima, ou alguma causa para a qual somos convidados, uma análise dos riscos e ameaças sempre faz bem. Será que esse alguém, ou essa tal de causa não estão apenas querendo tirar uma “lasca” do nosso estar-no-mundo?
Puxa vida, hoje estou moralista demais! Não me culpem tanto, isso está no meu DNA[2] e depois... foi culpa da garça pousada em seu cepo.


[1] Interpretado aqui como o conhecimento e o conjunto de oportunidades que se abrem para nós.
[2] Longos anos no exercício do pastorado.

2 comentários:

  1. Meu caro Garin,
    que acumulação histórica faz a garça e tantos animais temer os humanos? Somos ameaças para eles, mesmo quando lhe oferecemos alimentos?
    Gostei da nota de rodapé para sol. Bem posta. A chamada para DNA pensei que seria Data de Nascimento Avançada, que ainda não é o teu caso, mas vi ser a de que o cachimbo entorta a boca. Lembro de algo semelhante a trazida de teu de DNA: o caminhar de marinheiro em terra firma se assemelhar como caminha quando estão embarcado.
    Precisava mesmo é tomar sol associando tua acepção a nosso lagartear (de preferência comendo bergamotas).
    Uma fruída quinta-feira.
    attico chassot

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  2. Prezado Chassot,

    é aí que te enganas: o meu DNA também quer dizer o que pensaste - esses dias remexendo as gavetas o encontrei: já está passando do amarelado para o marrom escuro.
    Há pouco encontrei uma colega nossa aqui no pátio do IPA, lagarteando ao que lhe disse: "só está faltando uma vergamota" (com "v", como falávamos lá para as bandas de Cachoeira do Sul.

    Uma boa quinta-feira de trabalhos e lagarteadas.

    Garin

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