quinta-feira, 30 de junho de 2011

Oικουμενη



Costumo fazer passeios de bicicleta, um antigo costume que cultivo com muita alegria. Durante a juventude cheguei a fazer pequenas viagens. Em 1967, por estradas secundarias, de chão batido, meu irmão Gilberto e eu fomos e voltamos de Cachoeira do Sul à Venâncio Aires. O trajeto envolvia uma distância de 130 km.
Um dia desses, montei minha bicicleta e fui visitar o Parque da Guarita, em Torres, RS. O local é muito belo e cenário para algumas centenas de fotografias da minha câmera. Entre todas, separei essa que capturei quando já estava indo embora. Junto a uma pequena pinguela, construída sob a inspiração do ambientalista José Lutzemberger, encontra-se esta placa com o lema do excursionista: “Não levar nada além de fotos; não deixar nada além de pegadas; não matar nada além de tempo.” Confesso que foi a primeira vez que li essas expressões. Apesar de fazer visitas freqüentes ao Parque, nunca havia parado para ler o que estava escrito.
Esse lema deveria ser, não apenas dos excursionistas, mas de todas as pessoas que habitam a oikoumene[1]. O ser humano anda mal acostumado ao imaginar que os recursos naturais são exclusivos para apenas uma geração. Pior ainda, que são eternos. Nossa consumista forma de viver tem disseminado a ideia de que podemos gastar tudo que estiver ao nosso alcance. Nosso ‘eu’ está em primeiro lugar e todos os demais recursos estão aí para serem consumidos no curto espaço de nossa vida. Jamais esqueço uma história contada por Lutzemberger, num seminário sobre meio ambiente realizado no Clube Comercial de Passo Fundo em 1973. Disse ele, que conheceu um mestre budista, que todos os dias ia à fonte buscar água para o seu consumo. Mergulhava seu pote na fonte e o enchia até a borda. Voltava-se para fonte outra vez e derramava um pouco da água que havia recolhido. Questionado sobre o significado dessa atitude, respondia: “é para que outras pessoas, que vierem depois de mim, também encontrem água na fonte”.
Confesso que até mesmo um papel de balas, que alguém joga sobre a calçada à minha frente, me agride. Caso pudéssemos imaginar o caminho que as nossas sobras percorrem, depois que as abandonamos nas cidades e campos, sentiríamos vergonha de tal irresponsabilidade.
Por que será que nosso desejo é sempre retirar do ambiente aquilo que é mais valioso para a sua sustentabilidade? Por que será que nossa preguiça é tão grande, que não temos o cuidado de descartar nossos dejetos nos recipientes apropriados? Por que será que nosso ímpeto de defesa é sair matando outros animais (e plantas) com medo de que nossa espécie seja ameaçada? Acho que deveríamos todos nos considerar ‘excursionistas’ dessa velha oikoumene que tão bem nos acolhe em sua casa.


[1] Oikoumene termo grego que significa toda a terra habitada.

2 comentários:

  1. Meu caro Garin,
    nos vejo – pela chegada de teu comentário enquanto te escrevo – simultaneamente nos visitando em nossos blogues.
    A placa que tu nos mostras nesta edição devia estar em todos os pontos de nosso querido e maltrado Planeta.
    Uma boa clausura junina
    attico chassot

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  2. Caro Chassot,

    esse princípio necessita ser introjetado por cada habitante da oikoumene. Essa é nossa utopia. Esse é nosso sonho. Espero contribuir pessoalmente, com minha prática e com a atividade pedagógica e comunicacional.

    Um abraço,

    Garin

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