segunda-feira, 3 de outubro de 2011

APENAS UMA HIPÓTESE
ANO 01 – Nº 206
Sábado fui visitar o Museu da Língua Portuguesa. Foi uma experiência singular descobrir como as palavras do nosso idioma pátrio foram construídas e como os diferentes idiomas e culturas contribuíram. Uma das atrações é um jogo interativo no qual as pessoas, agindo em cooperação, montam diferentes partes de uma palavra para tê-la completa. Nesse momento, aparece sobre a mesa, a definição e a origem da palavra. Noutra sala é possível acompanhar o desenvolvimento histórico da nossa língua.
Entretanto, o que mais me chamou a atenção foi a sala da poesia. É possível acompanhar uma apresentação multimídia de várias poesias e textos falados por atores famosos do nosso teatro e por outros narradores. A última obra foi de Monteiro Lobato, em Memórias de Emília[1]. O texto se encerra com uma pergunta do Visconde: e depois de morto? A resposta de Emília vem na ponta da língua: "Depois que morre, vira hipótese. É ou não é?".[2]
Essa expressão final me fez refleti sobre a hipótese do morrer. Muito já se conjecturou sobre essa dimensão que transcende a vida. Nunca tinha ouvido dessa forma. Ainda que seja apenas um texto literário, há um conjunto de verdades nisso. A vida acontece sob nosso controle. Segundo alguns existencialistas do século vinte, nós somos totalmente livres para construir a nossa trajetória humana: nada nos determina a priori. Segundo a teologia cristã, Deus nos dá ampla liberdade para traçarmos os nossos dias.
Entretanto, para além da morte, há muitas indefinições, algumas crenças e poucas certezas. Não havia me dado conta, mas o escritor tem razão. Se não conseguiremos mais controlar nossa trajetória, passamos a ser apenas uma hipótese. Alguém aí pode encará-la?

DESTAQUE DO DIA
Morte de Francisco de Assis[3]
Giovanni di Pietro di Bernardone, mais conhecido como São Francisco de Assis[4], nasceu em Assis a 5 de julho de 1182  e faleceu a 3 de outubro de 1226), foi um frade católico da Itália. Depois de uma juventude irrequieta e mundana, voltou-se para uma vida religiosa de completa pobreza, fundando a ordem mendicante dos Frades Menores, mais conhecidos como Franciscanos, que renovaram o Catolicismo de seu tempo. Com o hábito da pregação itinerante, quando os religiosos de seu tempo estavam mais ligados aos mosteiros rurais, e com sua crença de que o Evangelho devia ser seguido à risca, imitando-se a vida de Cristo, desenvolveu uma profunda identificação com os problemas de seus semelhantes e com a humanidade do próprio Cristo. Sua atitude foi original também quando afirmou a bondade e a maravilha da Criação, quando se dedicou aos mais pobres dos pobres, e quando amou todas as criaturas chamando-as de irmãos. Alguns estudiosos afirmam que sua visão positiva da natureza e do homem, que impregnou a imaginação de toda a sociedade de sua época, foi uma das forças primeiras que levaram à formação da filosofia da Renascença.


[1] Ilustração disponível em http://www.blogdomisterfini.com.br/?p=1383. Acesso em 2 out 2011.
[2] A vida, Senhor Visconde, é um pisca-pisca. A gente nasce, isto é, começa a piscar. Quem pára de piscar, chegou ao fim, morreu. Piscar é abrir e fechar os olhos – viver é isso. É um dorme-e-acorda, dorme-e-acorda, até que dorme e não acorda mais. A vida das gentes neste mundo, senhor sabugo, é isso. Um rosário de piscadas. Cada pisco é um dia. Pisca e mama. Pisca e anda. Pisca e brinca. Pisca e estuda. Pisca e ama. Pisca e cria filhos. Pisca e geme os reumatismos. Por fim, pisca pela última vez e morre. - E depois que morre – perguntou o Visconde. - Depois que morre, vira hipótese. É ou não é? [MEMÓRIAS DE EMÍLIA. Disponível em http://talqualmente.wordpress.com/2007/07/25/a-vida-senhor-visconde-e-um-pisca-pisca/. Acesso em 2 out 2011.]
[3] FRANCISCO DE ASSIS. Disponível em http://pt.wikipedia.org/wiki/Francisco_de_Assis. Acesso em 2 out 2011.
[4] Ilustração disponível em http://www.culturabrasil.org/canticodascriaturas.htm. Acesso 2 out 2011.

2 comentários:

  1. Meu caro colega Garin,
    recordo – com tua blogada -- as emoções que tive ao visitar o Museu da Língua Portuguesa.
    Mas a evocação maior me trazes com Francisco de Assis. Em meus tempos de militância na Igreja era paroquiano da igreja São Francisco, um santo que muito identifica, passados quase 8 séculos, com as nossas lutas hoje.
    Ainda acerca de tua resposta de ontem: sinto tuas torcidas em algo maior que nos meus dissabores no mundo das tecnologia.
    Sou muito grato pela solidariedade que manifestaste quanto a minha desilusão pela não publicação de Memórias de um professor: hologramas desde um trem misto.
    Que segunda-feira que já se faz radiosa seja a melhor para ti e para cada uma e cada um de teus leitores,

    attico chassot
    http://mestrechassot.blogspot.com

    ResponderExcluir
  2. Caro Chassot,

    apesar de evangélico (não devoto de santo) sempre encontrei em Francisco de Assim um paradigma da kênosis, do esvaziamento de si para valorizar o outro em suas necessidades.

    Um abraço,

    Garin

    ResponderExcluir