terça-feira, 4 de outubro de 2011

ATROPELOS NO CORREDOR
ANO 01 – Nº 207
A viagem foi tranqüila, o avião aterrissou sem problemas e taxiou em direção à área de estacionamento. O comissário repetiu aquela expressão costumeira: permaneçam em seus lugares até que o aviso de apertar cintos se apague. Tudo inútil. A aeronave ainda não havia parado totalmente e se ouvia o estalar de fivelas dos cintos de segurança abrindo-se por todo o avião. Os motores ainda não haviam silenciados e uma multidão de passageiros já se acotovelava no corredor em direção à porta de saída.
Entre os que procederam assim observei um cidadão, na casa dos vinte anos, que retirou do compartimento de bagagem de mão, uma mochila, e mais duas sacolas grandes. Como o espaço é exíguo, simplesmente escorou uma das sacolas sobre o assento da passageira que permanecia em seu lugar abalroando sua cabeça. A moça teve que contorcer-se para dar lugar às tralhas do passageiro afoito. Cerca de sete minutos depois, a porta foi aberta e a turba saiu em disparada atropelando quem ainda estivesse nos assentos do corredor.
Passados uns quinze minutos, visualizei muitos daqueles passageiros do corredor, inclusive aquele jovem, aguardando o restante de suas bagagens à beira da esteira.
Terminantemente vivemos numa sociedade que não consegue reagir com racionalidade. Quase tudo é decidido emocionalmente centrado em si mesmo, demonstrando a exacerbação do egoísmo que já se transformou em egocentrismo. Não há lógica. As bagagens que serão apanhadas na esteira somente estarão disponíveis entre dez e vinte minutos após o desembarque. Então por que a pressa e a falta de sensibilidade para com os demais passageiros, manifestos em atos de grosseria e incivilidade? Sei que não há respostas para essa interrogação, na mesma medida em que não há reflexão crítica sobre as ações do cotidiano. O ser humano passou a reagir como manada: todos na mesma direção porque a maioria está indo para lá, sem se saber o que tem ou onde é esse ‘lá’. Assusta-me perceber que existo numa época de reações tão irrefletidas. Por vezes me pego a pensar sobre como as pessoas reagirão diante de uma catástrofe? Acho que, junto com a civilidade, perdemos também a capacidade de sermos sujeitos do existir.
Por favor, me consolem: convençam-me que essa percepção está equivocada!


DESTAQUE DO DIA
Nascimento de Saint-Hilaire (232 anos)
Augustin François César Prouvençal de Saint-Hilaire[1], nasceu em Orleães, 4 de outubro de 1779 e faleceu na mesma cidade a  3 de setembro de 1853.  Botânico, naturalista e viajante francês esteve alguns anos pelo Brasil, tendo escrito importantes livros sobre os costumes e paisagens brasileiros do século XIX. Comenta a "Brasiliana da Biblioteca Nacional", página 69: "A viagem do botânico Auguste de Saint-Hilaire ao Brasil foi paradigmática no que diz respeito à forma como os cientistas da Europa dita civilizada se relacionaram com o Brasil no início do século XIX. O francês veio para o Brasil em 1816, acompanhando a missão extraordinária do duque de Luxemburgo, que tinha por objetivo resolver o conflito que opunha Portugal e França quanto à posse da Guiana. Apesar de ter conseguido fazer parte da missão graças a suas relações pessoais, Saint-Hilaire obteve a aprovação do Museu de História Natural de Paris e financiamento do Ministério do Interior. O naturalista deixou o Brasil em 1822."


[1] AUGUSTE DE SAINT-HILAIRE (ilustração e texto). Disponível em http://pt.wikipedia.org/wiki/Auguste_de_Saint-Hilaire. Acesso em 3 out 2011.

2 comentários:

  1. Meu caro colega Garin,
    venho a minha ‘cachacinha’ pré-Academia. Dois comentários laterais ao teu chamamento a civilidade na deixada dos voos nos aviões.
    1) A moda da sacola às costas, faz com que seus portadores manobrem sem que conheçam seu apêndice caudal e molestem os outros. Já vi pessoas, especialmente quando levam crianças nesta situação terem um retrovisor.
    2) Quando a aguardo a demorada saída dos aviões, por uma única e estrangulada porta, lembro-me dos trens (na Europa, usualmente), onde se abre amplas portas em cada vagão, sempre nos centro da cidade e onde não se espera bagagens, pois cada passageiro cuida das suas juntos de si.
    Que a terça-feira que já é luminosa seja fruída,

    attico chassot
    http://mestrechassot.blogspot.com

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  2. caro Chassot,

    gostei da ideia do 'retrovisor'. Entretanto, no caso dos apressadinhos de corredor de avião (e de ônibus urbanos também), poderiam passar na loja de um e noventa e nove e comprar um prático equipamento conhecido pelo nome de 'desconfiômetro'.

    Boa terça!

    Garin

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