segunda-feira, 30 de janeiro de 2012

FOI ELA
ANO 01 – Nº 325

A calçada estava interrompida por causa de uma construção que avançara sobre o passeio público. O construtor fez uma demarcação, utilizando meia faixa da rua para que os pedestres pudessem transitar. Entretanto, um cidadão arvorou-se no direito de arredar os cavaletes de demarcação e estacionar seu veículo junto a construção, forçando os pedestres a se arriscarem, pelo leito da rua, para continuarem sua caminhada.

Quando passei pelo cidadão fiz uma observação: “esse espaço é para os pedestres!”. Sabe qual foi a resposta que recebi: “você devia reclamar era para o construtor!”.

Já comentei diversas vezes aqui nesse blog, como as pessoas têm a mania de privatizar o espaço público. Mas não é esse o tema da postagem de hoje. O que me chamou a atenção, mais uma vez, foi o antigo mito bíblico da criação. Recordei-me de uma passagem na qual Deus questiona Adão sobre a transgressão que cometera a uma ordem sua. Para se defender, Adão lhe responde: “a mulher que me deste por esposa, ela me deu da árvore, e eu comi.” (Gn 3.12).

Se há uma expressão que escutamos diariamente é aquela que cada pessoa confessa assumir todas as suas responsabilidades. No discurso sobre si mesmo, todos são absolutamente perfeitos. Basta uma observação sobre os equívocos que comete e lá vem a bendita ‘justificativa’: foi ela! No mito bíblico, a culpada é a mulher. A narrativa que reflete o machismo do editor é própria para a sua época, mas a justificativa de sempre sai da boca de homens e de mulheres.

Não suportamos perceber nossa imagem desfigurada no espelho do existir. Não suportamos quando nos contemplamos em qualquer espelho. Pior que isso, não admitimos quando as observações sobre as nossas falhas partem de outra pessoa. Com a velocidade da luz, encontramos uma justificativa, mesmo que torta, mas plausível para acalmar nossa auto-imagem mental. Possivelmente, o mito de Adão tenha sido construído por volta do nono século antes de Cristo, mas já naquela época, o escritor bíblico havia observado essa característica humana que transita em todas as culturas.

Entretanto, gostaria de deixar bem claro que eu assumo todas as minhas responsabilidades. Caso esse texto tenha algum erro de redação foi por culpa da minha professora de português.

Com os votos de uma boa segunda-feira!

DESTAQUE DO DIA

Dia do Pajador

Pajada ou Payada é uma forma de poesia improvisada vigente na Argentina, no Uruguai, no sul do Brasil e no Chile (onde chama-se Paya). É uma forma de repente em estrofes de 10 versos, de redondilha maior e rima ABBAACCDDC, com o acompanhamento de violão. A pajada remonta os romances e quadras medievais e renascentistas, trazidos pelos povoadores europeus e adaptadas às temáticas campeiras. A Pajada está presente no sul da América desde quando as fronteiras eram imprecisas, o que impossibilita dar uma nacionalidade ao gênero artístico. No sul do Brasil, as pajadas são cantadas em versos em Décima Espinela, no estilo recitado com acompanhamento musical de um músico de apoio, normalmente em milonga. Em 30 de janeiro é comemorado, no Rio Grande do Sul, o Dia do Pajador Gaúcho. A data reconhecida por lei no Rio Grande do Sul, presta homenagem a um dos mais renomados pajadores do Estado: Jayme Caetano Braun, que nasceu nesta data. Ele é considerado o patrono do Movimento Pajadoril, surgido a partir do ano de 2001, com a vigência da Lei 11.676/2001 que cria o Dia do Pajador Gaúcho no Rio Grande do Sul.[1]
Nossa homenagem a todos os pajadores(as)!


[1] PAJADA. Disponível em http://pt.wikipedia.org/wiki/Pajador. Acesso em 30 jan 2012.

2 comentários:

  1. Garin, colega amigo,
    do apossamento de espaço público às pajadas, na edição de hoje de teu blogue o que mais encantou foi o teólogo explicitar o machismo da narrativa bíblica.
    Isto ajuda na desconstrução deste mundo masculino, que é tua e minha bandeira,

    attico chassot

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    1. Caro Chassot,
      pelas narrativas e épocas dos textos é possível reconstituir a autoria dos relatos e, a partir daí, verificar a tensão presente em cada versículo.

      Obrigado! Um abraço.

      Garin

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