CARRO DA IMORTALIDADE
ANO 02 –
Nº 418
A capacidade que o ser humano tem de
transformar objetos em símbolos é impressionante. Existimos vinculados à
mitologia que nos sustenta o cotidiano. É ela que constitui a realidade de
nossas crenças e aos pés dos mitos depositamos nossa fé. A percepção que tenho
é de que se não fossem os mitos não conseguiríamos suportar a realidade do
existir e nos jogaríamos em direção à finitude de nossas vidas.
Apenas um parêntese sobre uma contradição
da atualidade: quase todos os dias ouço alguém menosprezar os mitos inferindo
que isso é uma bobagem, uma mentira.
Encontrei ontem, a narrativa sobre a
propaganda de um carro capaz de conferir aos seus donos, o dom da imortalidade.
Um carro capaz de vencer a morte. Transcrevo o texto sobre essa propaganda:
Um cara superboa-pinta
dirigindo uma Mercedes em
meio a uma nevasca, a estrada cheia de gelo. De
repente,
aparece a morte
sentada ao lado dele, com aquela famosa foice.
A morte olha pra ele e
fala “desculpa”. Aí o cara olha para a
frente e tem um caminhão
gigantesco atravessado no meio
da estrada. Enquanto a
morte sorri satisfeita, o cara pisa no freio
e a Mercedes para um
pouquinho antes do caminhão.
Não há como não vincular a propaganda do
carro à sua qualidade de conferir ao seu proprietário, a eternidade. Quem compra
um carro desses torna-se imortal. O anseio humano de infinitude se projeta
sobre o objeto que contêm em si, a satisfação do desejo mais recôndito do ser
humano. Troca-se a imagem do objeto, mas o significado mitológico permanece
porque é esse que alimenta o coração humano.
A vida contemporânea está repleta de
imagens que remetem a significados mitológicos. Aparecem nos pacotes de
salgadinhos, nas embalagens de chocolates, nos rótulos de bebidas, nas ofertas
de serviços etc. A mídia publicitária percebe isso e planeja seus anúncios para
atingir a necessidade dos sentidos mitológicos que impregnam a alma do
consumidor atual.
Falar de diabo é coisa do passado. Pertence
a uma linguagem ultrapassada que não diz respeito à contemporaneidade
tecnológica dos meios atuais. Entretanto, troca-se a linguagem e os instrumentos,
mas a ação diabólica, que mudou de imagem, continua intacta. Não se vê mais o
garfo de três dentes, mas o consumo continua espetando o cartão de crédito. Não
se enxerga mais os chifrinhos na cabeça do bicho vermelho, mas o saldo negativo
da conta bancária continua atropelando muita gente. Já não aparecem as
labaredas do fogo do inferno, mas os consumidores continuam torrando nas
labaredas das prestações intermináveis.
Votos de uma sexta-feira de muitas
realizações!
DESTAQUE DO DIA
Morte de Noel Rosa (75 anos)
Noel de
Medeiros Rosa nasceu no Rio de Janeiro a 11 de dezembro de 1910 e morreu na
mesma cidade a 4 de maio de 1937. Foi um sambista, cantor, compositor,
bandolinista, violonista brasileiro e um dos maiores e mais importantes
artistas da música no Brasil. Teve contribuição fundamental na legitimação do
samba de morro e no "asfalto", ou seja, entre a classe média e o
rádio, principal meio de comunicação em sua época - fato de grande importância,
não só o samba, mas a história da música popular brasileira.[2]
Meu caro Garin,
ResponderExcluirdesde Encarnación, PY
obrigado pelas reflexões cotidianas,
Um bom dia,
attico chassot
Amigo Chassot,
Excluirvotos de uma proveitosa excursão cultural pelas terras dos Guaranis.
Forte abraço,
Garin