terça-feira, 28 de junho de 2011

NADA [2]

O relógio marcava 5h48min quando abri o blog para verificar se o agendamento que havia planejado tinha funcionado conforme o previsto. Tive uma surpresa: meu colega e amigo Prof. Attico Chassot [http://mestrechassot.blogspot.com/] já havia postado seu comentário às 4h40min. A surpresa foi maior quando o comentário que fez incluía uma pequena expressão: “Fizeste do nada um tudo.” Quando a gente escreve não faz ideia de como será a leitura que as pessoas irão realizar sobre aquilo que escrevemos. Mas essa expressão, adicionada de um e-mail que recebi de outro colega e amigo, o Prof. Carlos Augusto Normann, acabaram por provocar uma reflexão adicional.
O ‘nada’, que traz como definição de substantivo masculino: “a negação da existência, a não-existência; o que não existe; o vazio”[1], possui, de fato, um conteúdo bastante consistente. Quase sempre, quando dito por uma pessoa afetivamente muito próxima, quer dizer uma imensidade de coisas. Normalmente simula sentimentos ocultos, cujo sujeito não deseja expor para evitar uma quebra de relações. Um ‘nada’, dito no meio de uma conversa corriqueira, entre amigos, pode ter o sabor de uma desistência, ou sinalizar uma decisão radical de ir à busca de novos caminhos para argumentos mais consistentes. No meio de uma reunião de trabalho, um ‘nada’, seguidamente acompanhado de um ‘não’, pode expressar uma expectativa frustrada sobre o desenrolar dos acontecimentos etc.
Pois é, longe de significar “a não-existência”, do dicionário, o ‘nada’ em uma conversa coloquial é repleto de significados que merecem ser entendidos. Uma observação mais cuidadosa da atitude corporal de quem o pronuncia, ou da reação dos interlocutores, poderá esclarecer substâncias ‘não ditas’, ocultas propositadamente para ‘dizer’ substâncias importantes, coisas que não devem ser desprezadas.
Já ouvi, da boca de comunicadores(as), que a mensagem que se esconde por trás de palavras não-ditas ou de expressões que parecem não dizer, são mais profundas do que aquelas pronunciadas livremente. Nesse sentido, o ‘nada’ pronunciado em qualquer contexto, pode ser a expressão mais importante de todas as falas, de todos os discursos, de todas as justificativas que se ouve por aí. Para comprovar isso, basta a gente lembrar as vezes que disse ‘nada’ no meio de uma discussão, de um argumento, de um encontro afetivo etc. lembrou, pois é... o ‘nada’ é isso tudo.
Até pensei em contar para vocês sobre aquela vez que... nada não, deixa prá lá!




[1] Dicionário eletrônico Houaiss.

2 comentários:

  1. Meu colega Garin,
    hoje não sou tão expedito no comentário, pois o frio desconvidou-me à conexão antes da Academia onde a Márcia, nossa quase formanda no Centro Universitário Metodista do IPA aguardava-me quando cheguei às 6h59min.
    Como tenho orientanda às 9h, não vou dar azo a filosofares que teu NADA 2 exigem.
    Fico com um detalhe técnico naquilo que acenas. Os nadas que são silêncios.
    Gravadores de voz modernos tem um dispositivo que cessam a gravação quando não captam emissão sonora e com isso prejudicam os silêncios que podem conter revelações muito significativas. Eis uma materialização dos teus ‘nadas que não são nadas.’
    O frio sem o Minuano de ontem é mais apetecível nesta terça-feira que voltamos a acreditar que o sol existe.

    attico chassot

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  2. Caro Chassot,

    é possível perceber como a tecnologia procura ser mais eficiente que a ação humana, contudo, mesmo que tenha alguma vantagem em determinados setores, não é capaz de perceber a profundidade de um 'nada' pronunciado sutilmente, no meio de uma fala.

    Boa terça-feira!

    Garin

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