segunda-feira, 27 de junho de 2011

NADA

Ontem fez um dia muito frio onde eu estava: cinzento, chuvoso, ventoso e tudo o mais que a gente possa imaginar para um péssimo dia de inverno. Resolvi tirar proveito: decidi não fazer nada. Até para não fazer nada é preciso fazer alguma coisa. Não é possível deixar de se alimentar, dormir, ouvir alguma notícia, alimentar o blog, ler o blog dos amigos, algumas páginas daquele livro que está na prateleira há tempo e a gente lê aos pedaços etc. Dá para perceber que o meu ‘nada’ acabou mais ou menos recheado.
Foi nessa altura do dia que passei a me questionar sobre o que significa ‘não fazer nada’. Por um lado, a educação que recebemos, aquela que permanece a vida toda introjetada na personalidade de cada um(a), não deixa o ‘nada’ se perfectibilizar[1]. Junte-se a isso, a pressão que a gente recebe, e aí, pode amontoar uma montanha de sujeitos: família, amigos, trabalho, sociedade etc. A consciência fica tão abarrotada que não tem como escapar, e lá vamos nós para frente do computador, para os livros técnicos, para a cozinha, para as redes de relacionamento e... por aí vai a montanha.
Pois é, de repente parei para pensar no que o ‘nada’ significa para mim e o que ele significa para a sociedade de consumo, na qual estou inserida e com a qual contribuo, nem que seja com a crítica. Pensei, o ‘nada’ para mim é fazer tudo aquilo que desejo e que não faria num dia normal de trabalho... mas porque o trabalho precisa pressionar as pessoas para que elas façam coisas que não estejam a fim? O ‘nada’ também seria fazer as coisas que desejo e não faria se tivesse que me reunir aos amigos para alguma comemoração, ou para jogar conversa fora... mas porque a convivência social necessita pressionar os ‘sócios’ do grupo? O ‘nada’ poderia ser a abstinência de qualquer compra, de qualquer serviço, de qualquer diversão comprada... mas porque compras, serviços e diversões compradas precisam pressionar a pessoa? É claro que não vou tomar o tempo de vocês com a lista interminável de questionamentos que resolvi construir num dia que decidi não fazer nada.
É isso mesmo: o ‘nada’ pode ser representado por tudo aquilo que a sociedade de consumo valoriza, diz que é útil fazer. Assim, tirar um dia para não fazer nada é um ato de rebeldia, de subversão, de revolução contra o regime imposto pelo hábito de consumir tudo, todos os dias, tão valorizado nestes tempos de crise econômica.
Meu ato de rebeldia se perfectibilizou na decisão de fazer somente coisas que são desvalorizadas por esse regime: ler coisas antigas, realizar o trivial, não comprar nada novo, conviver com as coisas que já possuo, dormir mais que o necessário, ficar olhando para o nada, mais do que precisava, conversar comigo mesmo além do esperado... foi assim. Você já experimentou viver um dia assim?
Para não dizer que não trago nenhuma contribuição hoje, deixo como dica o vídeo sobre a “História das coisas” [http://www.youtube.com/watch?v=lgmTfPzLl4E&feature=feedlik], da “Tide Fundation Funders Workgroup For Sustainable Production and Consumtion and Free Range Studios” que 1.341.983 pessoas já viram, pois é antigo, mas que revisitei ao ler o Blog, Filosofia no Ensino Médio, do Prof. Thiago Delaíde [http://filosofianomedio.blogspot.com/].
 


[1] Termo que significa "se tornar fato", mas ainda não dicionarizado.

2 comentários:

  1. Meu caro Garin,
    realmente ‘a história das coisas’ que revi por tua sugestão me faz negar o nada.
    Fizeste do nada um tudo.
    Uma segunda-feira saborosa que nesta madrugada é fria e ventosa.
    attico chassot

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  2. Caro Attico,

    tenho certeza de que não apenas a segunda-feira, como toda a semana será repleta de 'nadas' para ti, e para a maioria dos humanos que trabalham cotidianamente.

    Estou te desejando uma ótima semana!

    Um abraço,

    Garin

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